Fala Roça capacita mulheres da Rocinha e favelas vizinhas para atuar em espaços de poder e decisão
Promover o conhecimento sobre políticas públicas com o recorte de gênero, é fundamental para mudar a lógica patriarcal e racista e fortalecer mulheres no debate político.
Você sabe o que são políticas públicas? Apesar de lido e ouvido em livros e jornais, o significado desse termo é pouco conhecido na favela. Políticas públicas são medidas que buscam garantir direitos essenciais para a sobrevivência de qualquer pessoa. Durante um mês e meio, mulheres da Rocinha e de outras favelas da zona sul estudaram sobre essas ações e outras ferramentas de acesso a direitos humanos a partir da realidade dos morros, becos e vielas.
O curso Comunicação e Políticas Públicas para Mulheres é uma realização do Fala Roça com apoio da Fundação Konrad Adenauer. Cerca de 25 mulheres foram selecionadas para uma capacitação inicial sobre políticas públicas, mobilização política e projetos de lei. Às vésperas das eleições municipais, compreender como a ausência do poder público impacta no cotidiano de moradores de favela é fundamental.
“Eu não sabia o que era política pública. Eu ouvia essas palavras e não conseguia identificar. Dentro da formação eu aprendi que política pública vem do fazer, da ação em prol dos nossos direitos. Tudo que foi passado chamou bastante minha atenção. Na Rocinha tem muitas desigualdades. Tem famílias que estão bem, mas tem outras que passam dificuldade. É preciso que o governo atenda essas pessoas de perto”, Patrine Costa, 28 anos, produtora cultural e aluna do curso.
A turma era formada por lideranças, jovens ativistas e mães da Rocinha, Vila Canoas e Chácara do Céu. Ao longo das aulas, as alunas associavam as vivências delas às ausências deixadas pelo poder público. Assuntos como acesso à saúde, educação e saneamento básico eram os mais comentados nas aulas.
Para além do aprendizado, o objetivo da formação é fortalecer mulheres como multiplicadoras desse conhecimento. As alunas também aprenderam métodos de comunicação e influência para espalhar o conhecimento adquirido.
“Foi incrível, trouxe outras formas de olhar para as situações e como agir com mais eficiência, particularmente essencial para meus desejos pessoais. Aprendemos mais sobre leis, a quem recorrer e como fazer essas informações chegarem a população. Entendi que temos leis que nos assegura, mas que não temos conhecimentos, entendi a importância de ter rede até como forma de segurança”, conta Bárbara Fontoura, aluna da formação e moradora da comunidade Mata Machado
Em outubro deste ano, aconteceram as eleições municipais. Considerando que o atual quadro político da cidade do Rio de ainda é majoritariamente formado por homens brancos, é fundamental que mulheres de favela compreendam quais são os seus direitos e como cobrá-los.
Formar mulheres é transformar a favela
Historicamente, figuras femininas são colocadas no lugar do cuidado. Administrar triplas jornadas de trabalho como cuidar de uma casa, tomar conta dos filhos e manter um serviço formal ou informal ainda é algo comum. Promover o conhecimento sobre políticas públicas com o recorte de gênero, é fundamental para mudar a lógica patriarcal e racista e fortalecer mulheres no debate político.
Maiara Cristine, de 29 anos, assistia às aulas acompanhada de Lívia e Lorena, suas filhas de 6 e 4 anos. Como mãe solo típica e atípica, a formação foi um espaço de aprendizado e acolhimento. Maiara afirma finalizar o curso com maior entendimento e pronta para os próximos desafios enquanto mãe e moradora da Rocinha.
“O pessoal do Fala Roça sempre deixava uma mesinha pra elas ficarem pintando e desenhando. Mesmo elas se sentindo tão pequenas e sem entender muitas coisas, converso bastante com elas e mostro em brincadeiras como elas têm que se comportar em locais, pois não tenho rede de apoio. O curso me mostrou que apesar das dificuldades e desafios da maternidade posso ir mais além por buscar me aperfeiçoar com conhecimento para ter uma qualidade de vida melhor”, relata Maiara.