
Artista plástico da Rocinha, Nobru Werneck, procura espaço no morro para lançar exposição
Uma das grandes promessas do circuito carioca de artes plásticas é o artista Nobru Werneck, cria da Rocinha. Ele traz nas obras reflexões sobre o cotidiano e as constantes fragmentações e reconstruções que enfrenta como um jovem favelado. A exposição “A Sombra é para Todos” já foi exibida em Portugal e em Paris, na França. “Nunca me vi fazendo outra coisa que não fosse arte. Independente de saber se me tornaria um pintor, grafiteiro, tatuador, produtor cultural. Eu sabia desde sempre o que eu queria, a arte“, revela o artista.
Nascido e criado na Rocinha, atualmente morando em Guaratiba, na zona oeste da cidade, Marcos Bruno Sousa Werneck, 29 anos, conhecido como Nobru, trabalha para lançar a primeira exposição em um espaço na Rocinha. “Quero muito colocar minhas obras na rua, na casa das pessoas e, sobretudo, conseguir lançar [a exposição] na Rocinha, meu berço é lá”, garante.
“A Sombra é para Todos” tem curadoria própria do artista. O projeto, iniciado em 2023, conta até agora com 12 obras inéditas. Cada tela traz para o público um olhar sobre a sensibilidade das relações cotidianas sob o ponto de vista do artista. Nobru, compõe suas pinturas para ser mais do que uma expressão visual. Ele quer provocar um diálogo entre a suavidade dos traços que pinta com aspereza das texturas em materiais reciclados que usa para criar as obras.

São materiais como lona, tecido de cadeira de praia e até de outras telas. A exposição, também chamada de série, é um testemunho do amadurecimento da vivência do jovem a partir de um longo processo de pesquisa, que inclui a experiência de Nobru como tatuador. Além da visão que carrega no corpo-território e do processo de estudo estudos como pesquisador da vivência favelada-carioca.
O uso da reciclagem de objetos como lona, tecido de cadeira de praia e telas é uma característica comum nas obras de Nobru. A exposição, também chamada de série, é um testemunho do amadurecimento e vivência do artista através de um longo processo de pesquisa. O artista também é tatuador e pesquisador da vivência favelada carioca.
“Cara, já viajei bastante para fora do país. O que eu mais gosto de estudar e analisar é o comportamento das pessoas, da sociedade, sobretudo, os jovens. É muito louco como cada um vive no seu microcosmo e ainda assim consegue se conectar com pessoas de fora ‘dele’, tá ligado? Isso é o que causa o choque de cultura, comportamento, educação, vivências e oportunidades”, explica.
E descreve o processo de criação: “Eu me jogo muito nessas vivências e experiências e vou rascunhando algumas coisas que, mais tarde, podem virar tatuagens, pintura na tela ou só ficar guardado no caderninho de rascunhos mesmo. Assim vou pesquisando esses recortes da vida”.
Primeiro da família
O primeiro contato de Nobru com a arte aconteceu em 2012, através de um curso oferecido na antiga Casa Rosa, uma ONG localizada no centro da favela da Rocinha. Após a experiência, ele decidiu fazer o curso ministrado pelo artista plástico Wark. onde se formou e, posteriormente, tornou-se instrutor dando aulas por um longo período.
Aos 19 anos, Marcos Bruno, pressionado pela mãe para buscar um emprego formal, viu uma oportunidade de se tornar tatuador para conseguir a primeira renda. O trabalho como tatuador fez com que ele conseguisse estruturar o início da vida adulta, profissional e internacional. Em 2019, através do Lamarca, um produtor da cena artística, ele esteve em Portugal e Barcelona realizando uma temporada de estudos e tatuagem, ampliando as técnicas com a arte.
“Minha mãe sempre falava para arrumar um emprego de garçom, nunca consegui. Mas, hoje brinco que segui o conselho dela, tô servindo, servindo arte”, brinca Nobru, agora reconhecido como artista.
Primeiro artista da família, o jovem usou a reclusão no período da pandemia da Covid-19, para colocar em prática o desejo de pintar telas. A ideia era se distrair e se reconectar consigo mesmo nesse período. “Ali no período da pandemia, eu saia correndo sozinho pelas ruas como forma de me distrair e me exercitar. Fui encontrando por ali lonas, cadeiras de praia, caixotes, madeiras e outros materiais, que recolhi e fui fazendo de tela para as minhas pinturas”, relembra.
Criada em 2023, a exposição da série “A Sombra é para Todos” ainda não estreou por falta de patrocínio e um espaço adequado. Apesar disso, o jovem artista continua com o sonho de exibir o projeto no morro que nasceu. “Quero muito colocar minhas obras na rua, na casa das pessoas e, sobretudo, conseguir lançar na Rocinha mesmo, meu berço é lá”, afirma.
Para acompanhar o artista e saber mais sobre as suas obras basta entrar no Instagram @nobruwerneck