Alto custo de máquina de lavar roupa faz moradores recorrerem a lavanderias espalhadas pela Rocinha

Ao andar pela Rocinha é possível ver varais externos pendurados na janela. A gambiarra é uma estratégia para lidar com a formação geográfica da favela. Muitas casas não têm lajes ou espaços adequados para secar roupas. Assim, moradores precisam dar um jeito.

De um ano para cá, não é preciso circular muito pela favela para perceber que a Rocinha tem um novo ramo de empreendimento. Na Estrada da Gávea e nas travessas, as lavanderias chamam atenção pela praticidade oferecida aos moradores, seja pelo alto custo de uma máquina lava e seca (com valor médio de R$2.700) ou pela falta de tempo na rotina. 

Sandra Carlos, de 56 anos, bate ponto toda semana na lavanderia favorita, localizada na Estrada da Gávea. Por apenas R$30, ela lava e seca quantas peças de roupas quiser. O espaço funciona 24h e com autoatendimento. Ou seja, os clientes têm autonomia para acessar o serviço. Para Sandra, que mora em uma kitnet, o empreendimento é uma ajuda na rotina. Em menos de duas horas, ela garante roupas limpas e cheirosas.

“Uso um cesto de roupa para cada máquina. Daí uso quatro máquinas. Eu morava numa casa grande e tinha máquina. Me mudei para uma kitnet. Quando vi que tinha lavanderia aqui, comecei a separar roupa para lavar: roupa de cama, roupa branca e roupa colorida. Já deixo tudo dividido, chego e vou usando as máquinas. Essa é a mais perto da minha casa, é a mais vazia e a minha favorita”, conta Sandra.

Já Ana Cristina Bastos estava acostumada com a rotina de lavanderias por morar no Centro do Rio. Quando chegou na Rocinha e soube que a favela também contava com essa prestação de serviço, se sentiu aliviada. Aos 36 anos, ela já experimentou diversas maneiras de lidar com essa tarefa doméstica. Foi com sua mãe que ela aprendeu a lavar roupa na mão devido a falta de dinheiro para comprar uma máquina. 

Essa é uma prática muito comum para mulheres faveladas. Inclusive, a localidade da Roupa Suja, tem uma ligação com esse costume. Antigamente, mulheres que lavavam suas peças na região, utilizavam um sabão que deixava a roupa amarelada, sendo reconhecidas como mulheres da Roupa Suja. 

“Eu morava no Centro e, no apartamento que eu morava, também não tinha máquina de lavar e eu usava [a lavanderia]. E aí, eu achei maravilhoso ter aqui! Muita gente não tem máquina de lavar e já está acostumada a lavar roupa na mão a vida toda. Eu cresci lavando roupa na mão com a minha mãe. Infelizmente, não é tão barato e não é acessível para todo mundo ainda. A lavanderia facilita muito a vida das pessoas. Já sai sequinho e você já pode vestir”, conta Ana.

As lavanderias disponibilizam amaciantes e sabões em pó de todos os tipos para que os clientes possam escolher aquele que mais agrada.  O empreendimento teve tanto sucesso na favela que alguns proprietários mudaram o segmento do negócio. A Lavanderia Home, por exemplo, antes limpava apenas estofados. Agora, o negócio se expandiu e eles atuam como uma lavanderia de roupas na Estrada da Gávea. O cliente leva as peças até o local, agenda uma data para pegar e recebe o tudo limpo e dobrado. 

Por lá, eles lavam tênis, roupas de cama, toalhas e o que mais for preciso e couber nas máquinas. “Nós começamos com higienização de estofados. E aí a gente indo na casa dos clientes, queriam fazer lavagem de cortina tapete. Daí a gente decidiu ampliar para lavanderia. Fazemos todo o processo: a gente lava, a gente passa. A pessoa só pega, leva pra casa e põe no armário. Recebemos muitos rapazes. Mulheres trazem mais edredom Nosso trabalho facilita a praticidade. Às vezes a dona de casa chega cansada e tem um monte de roupa para lavar. A gente quis ampliar para dar esse apoio para galera”, explica Tatiana Silva.

Além dessa sede, a equipe também atua na Rua 2, localizada na parte alta do morro, lavando tapetes e materiais mais pesados. Os valores são por cento, que custam em média R$22. O empreendimento também faz tinturaria industrial, serviço que tira manchas de roupas.