Praças da Rocinha enfrentam a falta de conservação e o vandalismo
João Pedro, 10 anos, brinca de escorregar no corrimão azul de uma escadaria na Praça da UPA, na Curva do “S”. Os responsáveis pela criança não estão por perto. O risco de acontecer um acidente é alto. “Aqui tinha uma gangorra, vários brinquedos e tiraram”, João Pedro fala rápido enquanto desce novamente o corrimão. A falta de brinquedos é visível em vários pontos no morro. O Fala Roça percorreu 7 praças na Rocinha e constatou que todos os locais estão em péssimo estado. A falta de cuidado dos moradores e a ausência total de manutenção contribuem para a deterioração dos espaços públicos.
A Macega, uma das localidades mais pobres na parte alta da Rocinha, convive há décadas com o abandono do poder público. O único espaço de lazer dos moradores é uma quadra, na encosta do Morro Dois Irmãos. Sem grades de proteção, o pequeno espaço de terra batida não tem nenhum brinquedo.
Do outro lado do morro, a pracinha do Cachopão também não tem nenhum brinquedo. Eliezer Oliveira, de 54 anos, mantém um projeto social há 23 anos na localidade. Para driblar a falta de opções de lazer, ele mesmo coloca pula-pula, piscina, rodas de capoeira. Tio Li, como é conhecido, está sempre agitando da maneira que pode. “A gente sabe que dentro da favela precisamos do apoio do próprio morador para que possamos valorizar o que a gente consegue para as crianças. As vezes a prefeitura vem e coloca um brinquedo, mas aí a criança não valoriza o que se ganha”, lamenta Eliezer Oliveira. “Temos áreas precárias na Rocinha, como o Terreirão da Rua 1. Tem crianças que não sabem o que é um escorrega, um balanço. Não sabem sequer o que é um brinquedo de praça para poder se divertir no fim de semana”, complementa Li.
As 7 praças com problemas de conservação
Em 2010, o governo federal construiu um conjunto habitacional, na antiga garagem de ônibus, na Fundação, através Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além dos apartamentos, a localidade ganhou uma área de lazer — Praça do PAC — com vários brinquedos, jardim e lixeiras. 8 anos depois, só restou um brinquedo. O jardim virou um pedaço de terra batida.
Jenifer Dias, de 20 anos, mora em um dos blocos do conjunto desde a inauguração. Mãe de um menino de 5 anos, ela lembra que havia vários brinquedos. “Aqui era o point dos moradores. Vinha gente da Rua 2, Rua 3, Dioneia, Cachopa. Tinha espaço pra todo mundo brincar. Depois os brinquedos começaram a quebrar e nunca teve manutenção disso”, conta Jenifer.
Prefeitura promete ações
O Fala Roça procurou a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) em busca de informações sobre reformas das praças citadas na matéria. O órgão informou que as praças são de responsabilidade da Fundação Parques e Jardins (FPJ). Por sua vez, a FPJ desmentiu a Seconserma dizendo que a manutenção de praças é atribuição da Comlurb.
Detalhamos os problemas de duas praças — da UPA e do PAC — por serem as mais movimentadas. A Comlurb disse em nota que “a varrição e a coleta de resíduos são diárias na comunidade, e o corte de grama ocorre a cada 15 dias”.
A Seconserma enviará uma equipe para vistoriar os locais citados e prometeu fazer um “levantamento das necessidades de manutenção e consertos no que couber à Secretaria”. A Fundação Parques e Jardins avisou que “será realizada vistoria técnica nos locais indicados para verificação de possibilidade de (re)plantio de mudas.”
Já a Superintendência da Zona Sul irá programar uma vistoria aos locais mencionados, a fim de verificar as reclamações dos moradores.
Cariocas podem adotar áreas verdes
O Rio de Janeiro possui um número aproximado de 3000 áreas verdes que podem ser adotadas, entre parques naturais, parques urbanos, praças, canteiros e outros tipos de terreno. O programa de adoção de áreas verdes na cidade existe desde 1986. A regulamentação da adoção é feita pela Fundação Parques e Jardins (FPJ). Além de empresas, condomínios e associação de moradores, qualquer pessoa que tenha relação afetiva e até de pertencimento à área pode adotar um espaço. Essa medida pode ser viável para moradores que querem cuidar dos espaços de lazer no morro, confirmando a tradição e necessidade de encontrar alternativas para resolver questões que, originalmente, são de responsabilidade do poder público.