Morador da Rocinha vende doces há 15 anos pelos becos da comunidade
Perseverante, sonhador e batalhador. É assim que se pode definir Nilton Oliveira, de 47 anos, trabalhador autônomo. Carioca da gema do ovo, cria da Rocinha e filho de mineiros, a vida dele é de um andarilho.
Há 15 anos, o doceiro percorre os becos da Rocinha carregando uma caixa com 60 kg de doces, como sonhos, maçãs do amor e balas de cocos caraterizadas que oferece por R$ 2,00 cada. Com seus gritos, Nilton anuncia sua chegada: “Quem quer sonhar, quem quer! – ou então: “Olha a maçã do amor freguesa!”. A vida do doceiro é digna de aprendizado.
Os primeiros empregos foram como entregador de farmácia, entregador de jornais e feirante. O envolvimento com os doces começou quando Nilton conseguiu um emprego como lavador de pratos em um hotel. O supervisor, atento à dedicação do empregado, ofereceu uma oportunidade para que ele trabalhasse na confeitaria. “Ganhava pouco como lavador de pratos. Com a oportunidade na confeitaria, ia somente na minha folga e não recebia salário. Eu ia por conta própria porque queria ter uma profissão adequada”, lembra Nilton. Bastante interessado pelo ofício de confeiteiro, o doceiro trabalhou em outros hotéis, como o Sheraton, no Leblon.
Com a saída do emprego, Nilton começou a vender doces pelos becos da Rocinha. Sempre fazendo o mesmo trajeto, há 15 anos, de terça a domingo. Ele inicia a caminhada a partir da própria casa, na Cachopa, passa pela Vila Verde, volta para a Cachopa, Paula Brito e Dionéia. “Vendo mais ou menos 600 sonhos por mês. As vezes a venda é fraca, então vou para a praia vender sorvetes e biscoito Globo, aos sábados e domingos, para complementar a renda”.
Perguntado sobre a abertura de uma loja para vender seus produtos, o doceiro revelou um desejo: “O meu maior sonho é ter meu próprio negócio. E um trabalho árduo. Não é nem questão de andar. As vezes está chovendo e atrapalha muito a minha renda” e exalta “Os sonhos, as balas de coco.. eu faço com prazer!”.
O andarilho fez com que percebesse a transformação urbanística na Rocinha. “Na Vila Verde você tinha que andar se agarrando nas paredes porque era barro puro. Só depois de um tempo que os moradores se reuniram e colocaram concreto na rampa.”, relembra.
A entrevista é interrompida por uma moradora que havia comprado dois sonhos fiado. Durante todos esses anos, andando pelos becos da Rocinha, Nilton é uma figura conhecida. Todos o conhecem. Mesmo aceitando fiado ele demonstra cautela. “Eu confio e não confio. Eu não posso ver o coração das pessoas. O que prevalece é a palavra da pessoa.”
Sonhos, maçãs do amor, balas de coco caramelizadas. Nilton também aceita encomendas e vende os doces em eventos. “A pessoa me liga e diz que em tal hora e tal dia vai ter uma festa em um local. Eu preparo as coisas e fico na entrada da festa. Isso me ajuda.”, conta ele.
O telefone para contato de Nilton é (21) 3322-8023.
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