“Pra não dizer que não falei de flores” é a aposta da Acadêmicos da Rocinha para retornar à Série Ouro em 2025

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Levar à passarela do samba uma favela florida pela essência de seus moradores e que não seja representada somente pela violência. Essa é a proposta do Grêmio Recreativo da Rocinha, ou simplesmente Acadêmicos da Rocinha, que resgatou o aclamado samba-enredo da própria escola de 1992: “Pra não dizer que não falei das flores”. 

O sonho da agremiação, que desfila na próxima Quarta-Feira de Cinzas (13/02), na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho, no subúrbio do Rio, é conquistar o campeonato da Série Prata e retornar a desfilar na Sapucaí em 2025.

“Quando toca esse samba vai abaixo! Geral, canta! É um samba que todo mundo gosta. É um enredo que eu sempre ouvi aqui, que todo mundo tem muito carinho e que merecia uma reedição”, conta Marcos Paulo, de 48 anos, carnavalesco da escola de samba.

A ideia da Acadêmicos da Rocinha é trazer uma representação simbólica da favela em forma de flor, mostrando o lado poético da vida da favela – o lado do sonho, da harmonia e da paz – do trabalho e vida cotidiana construído pelos moradores da Rocinha e demais favelas cariocas.

 “O nosso enredo transforma o Rio de Janeiro em um jardim e pega a personalidade do carioca e associa a cada flor. Cada flor, segundo a floriografia, tem uma personalidade. Então, associamos [a flores] o espírito que o carioca tem [de ser] alegre e do povo, das comunidades. Vamos transformar a Intendente Magalhães em um grande jardim”, detalha o carnavalesco Marcos Paulo.

Favela Flor

Em 1992, de forma estratégica, o enredo “Pra não dizer que não falei das flores” foi usado pelo GRES Acadêmicos da Rocinha para “tirar um pouquinho de chumbo” para mostrar “as flores” do morro para a avenida, explica Alexandre Pereira, 46 anos, presidente da escola.

À época, a Rocinha sofreu com desastres, enchentes e deslizamentos devido às chuvas na cidade. Além disso, operações policiais violentas não davam paz à favela: “era violência de todos os lados”, relembra Alexandre. O enredo foi usado como ferramenta para resgatar a dignidade dos moradores e rebater as imagens violentas e estereotipadas que são assemelhadas às favelas.  

Em 2024, a expectativa da Acadêmicos da Rocinha, com a reedição do enredo histórico, é “que a escola suba” e volte a ocupar o lugar que deveria ser “de todas as escolas de samba” na Sapucaí, defende Célia Lucas. 

Com 60 anos, ela é uma das fundadoras do GRES Acadêmicos da Rocinha e critica os sistemas de classificação das escolas no carnaval do Rio de Janeiro e a estrutura da Prefeitura organizada para o desfile da Série Prata, Bronze e Grupo de Avaliação, na Intendente Magalhães. 

“Eu acho que a gente não tinha nem que disputar isso! A gente tinha que estar lá [na Sapucaí], aquele lugar é pra isso! É injusto gastar uma fortuna em uma escola de samba e desfilar no fim do mundo, com banheiros podres, sem espaço para se apresentar, e que não tem como levar uma senhora de idade. A acessibilidade lá é horrível e restrita”, reclama Célia Lucas. 

A agremiação está na série Prata do carnaval carioca, organizado pela Superliga. A escola desfilou na Intendente Magalhães, na zona norte, desde o rebaixamento da Série Ouro, em 2020. 

Classificação e campeonato

A estrutura hierárquica da indústria do carnaval divide as agremiações em séries: Especial, Ouro, Prata, Bronze e Grupo de Avaliação. A classificação é realizada pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e a Superliga, com objetivo de promover campeonatos entre as escolas e as séries. 

A classificação das escolas é responsável e os rebaixamentos de séries no campeonato impactam negativamente nas agremiações, que carecem de apoio financeiro tanto da Prefeitura do Rio quanto de patrocinadores.

Desfilar no campeonato da Série Especial e Ouro sob os holofotes da Marquês de Sapucaí, no coração do carnaval do Rio, significa receber mais recursos econômicos. Neste ano, a Riotur, liberou subsídio de R$2,15 milhões, para cada uma das 12 agremiações do Grupo Especial, enquanto as integrantes da Série Ouro juntas receberam R$14,8 milhões.

Ao todo, a segunda divisão do carnaval tem 16 integrantes e o valor destinado para cada uma foi de R$18.832.782,37. Já as escolas das séries Prata e Bronze recebem poucos recursos e enfrentam uma batalha constante para se manterem.

Elas contam apenas com o apoio, dedicação, resiliência incansável das pessoas que se unem para fazer o carnaval acontecer.

A agremiação também ressalta que, todas as pessoas do morro, estão convidadas a conhecer a Acadêmicos da Rocinha. A escola realiza atividades de aulas de samba durante a semana e, pagode, aos domingos, com entrada gratuita.

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