Casas alugadas como Airbnb geram renda aos moradores da Rocinha e aumenta turismo na favela

Empreendedores usam a plataforma Airbnb para oferecer casas e obter renda extra de turistas que buscam uma experiência autêntica no Rio de Janeiro
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Em vez de vista para o calçadão de Copacabana, os turistas que chegam ao Rio têm optado por se hospedar na Rocinha, em busca de uma experiência mais autêntica na cidade. De olho nessa tendência, moradores oferecem estadias por meio da plataforma Airbnb, atraindo visitantes brasileiros e estrangeiros. Segundo empreendedores locais, o modelo de negócios gera uma renda média de R$ 1.500 por mês, hospedando cerca de 10 pessoas.

Geralmente, os turistas alugam a casa inteira, que inclui sala, banheiro, quarto com camas e cozinha equipada com utensílios e eletrodomésticos. Na parte alta da favela, algumas casas oferecem lajes com churrasqueira e vista privilegiada para o Cristo Redentor e a própria favela. “Os turistas ficam deslumbrados com a vista da Rocinha e com a receptividade do povo”, afirma Thomas Martins, mototaxista e empreendedor de 41 anos.

Thomas é um dos “crias” que decidiu investir na plataforma para obter uma renda extra. Com 28 avaliações positivas, ele é proprietário de um imóvel na localidade Laboriaux, ele abriu mão de um inquilino fixo e há um ano aluga a casa para turistas.

Ele relata que os viajantes costumam se surpreender com o tamanho e a diversidade da Rocinha, além da hospitalidade dos moradores. “Todos os feedbacks foram positivos até agora. Falam bem da comunidade, da recepção, das festas, do baile e do lazer noturno. É uma experiência única viver na Rocinha. Todo mundo que vem aqui comenta sobre a vista para o Cristo e a Lagoa. Eles também ficam impressionados com a quantidade de motos, o comércio… Eu até faço companhia para os hóspedes nos passeios.”

Para o cria, o aluguel da casa no Airbnb além de rentável, tem outro benefício: é menos burocrático devido à hospedagem ser por diária paga (preço por noite). Na plataforma, o turista paga o número total das diárias com cartão de crédito ou débito, ou PayPal no próprio site. O dinheiro é liberado para o anfitrião cerca de 24 horas após o check-in (entrada) do hóspede.

“A casa que comprei estava vazia e eu não tinha interesse em alugar mensalmente por alguns motivos pessoais. Até que tive essa ideia de alugar para hóspedes no Airbnb. A diária é mais rentável do que o aluguel fixo para mim. Na alta temporada, como fim de ano ou carnaval, o preço da diária de hospedagem aumenta, mas fica normalmente entre R$150 e R$200 a diária para duas pessoas”, explica Thomas. 

Nos comentários das casas da Rocinha disponibilizadas no aplicativo, os turistas descrevem a experiência positiva que tiveram e recomendam os imóveis para outras pessoas. “Casa muito boa, ótima localização, voltaria mais vezes!”, disse a cuiabana Luiza.

Já Johan, turista holandês que veio curtir o Rock In Rio, ressalta a experiência de viver no morro. “O apartamento é próximo da Rua 1, na Rocinha, uma rua com trânsito intenso e muito barulho dia e noite. Se deseja ir em algum lugar, precisa ir de mototáxi, é bem divertido. É uma experiência viver na Rocinha por um período curto de tempo!”.

Desde 2019, o Rio de Janeiro registra um aumento de aluguéis a curto prazo devido ao Airbnb. Segundo análise da Reuters, só no bairro de Ipanema, os anúncios para hospedagem na plataforma tiveram uma alta de 24%. Ainda, de acordo com a Oxford Economics, em 2021, as atividades dos usuários no Airbnb contribuíram para a geração de 101 mil empregos indiretos no Brasil, com a prestação de serviços de transporte, lojas, restaurantes e outros.

Para o empreendedor e alemão Max Eichhorn, 71 anos, alemão que mora na Rocinha há 24 anos, a vista do morro é encantadora. Ele possui um imóvel na favela e quando soube da febre dos Airbnbs no mundo, investiu no imóvel para ofertar a hospedagem da casa pelo aplicativo, mas não deu continuidade ao negócio. 

“Quando cheguei na Rocinha, vi a vista maravilhosa e a localização muito boa. Tem metrô, praia e bairros famosos bem perto. É absolutamente um território central e um lugar seguro para viver. Normalmente, as pessoas ficam dois ou três dias, no máximo uma semana. Casais e famílias que vêm para cá e acham muito vantajoso, e tem de tudo dentro da Rocinha”, explica. 

Max destaca que, além das vantagens de se hospedar na Rocinha, os turistas movimentam a economia local do bairro. “É comum as pessoas virem e gastarem aqui em mercados, restaurantes e outras coisas da favela”.

Dados de 2023 da Prefeitura do Rio, revelou que as favelas da Rocinha e do Vidigal são mais visitadas do que pontos turísticos renomados, como Pão de Açúcar e Cristo Redentor. Os dados fazem parte do Anuário de Turismo. O Rio de Janeiro lidera no ranking de visitas de turistas nacionais com 37,36%, segundo cálculos do sistema GeoData da Secretaria Municipal de Turismo do Rio.

Para Alisson Leroy, 24 anos, guia de turismo do morro, o aluguel de imóveis dentro das favelas no site Airbnb, quebra estereótipos, movimenta a economia do território e é uma “ótima ideia”. Porém, reforça que os turistas precisam entender a dinâmica local antes de reservar a hospedagem. 

“É um bom negócio [as casas como Airbnb] e quebra essa concepção de que a favela da Rocinha é um local perigoso. Dependendo do local que se tenha [Airbnb], acho que é uma ótima ideia! Principalmente, nas vias principais onde se tem acesso mais fácil. Fico um pouco receoso se os turistas entenderiam e seguiram as regras locais. Mas, já existem alguns turistas morando aqui, então, acredito que é uma boa ideia se existe respeito, segurança e colabora com a economia local”, opina Alisson.

O guia prevê um aumento do número de turistas que buscam se hospedar na Rocinha com as festas de fim de ano e alta temporada do verão. “Os turistas gastam dinheiro nos próprios negócios da favela da Rocinha: mercados, farmácias, padarias, restaurantes e outros. Após conhecer a favela através do tour comigo, eles [turistas] demonstram interesse em aproveitar a estadia no morro por ter mais dinheiro para gastar na cidade”, revela.