
Fala Roça capacita 20 jovens em comunicação para projetos sociais
Ao longo de três meses, jovens também criaram uma Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas
Nesta quinta-feira (21), começa o segundo módulo de Gestão Cultura com a participação de mais 30 jovens selecionados para integrar a Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas, iniciativa de formação comunitária do Fala Roça, cujo propósito é fortalecer a atuação de jovens das favelas da Rocinha e do entorno na área da comunicação e gestão cultural. Todos os alunos integram iniciativas culturais da favela da Rocinha, de favelas na capital do Rio ou da Região Metropolitana.
Os novos estudantes vão integrar a rede já criada por 20 jovens capacitados no primeiro módulo da formação sobre Comunicação para Projetos Sociais. O primeiro módulo da formação aconteceu entre abril e junho, resultando no final da criação da rede. No total, houve a participação de 11 jovens atuantes em organizações sociais da Rocinha, além de cinco de outras favelas ou áreas periféricas do estado.
Morador de Bangu, Jean Carlos Rodrigues, de 44 anos, enfrentava duas horas de deslocamento para chegar na sede do Fala Roça. Ele conta como as aulas ajudaram a impulsionar o Projeto Beija Flor, direcionado ao ensino da capoeira. “O curso nos fez formar uma rede de comunicação. Essa rede não para só no curso! Espero que no próximo curso [módulo] que vai ter, eu consiga estar presente. Já me organizei para fazer parte!”, afirma.
E completa: “Durante o período que fiz o curso, minha mente abriu pra muitas coisas. Consegui me reunir com amigos e iniciamos um projeto de uma ONG na comunidade Vila Moreti, em Bangu, que terá parcerias com a Vila Aliança, comunidade próxima onde dou aula de capoeira. Recentemente conseguimos nos inscrever em um edital. Antes tinha um leve conhecimento sobre comunicação, mas o curso abriu um leque muito grande”.
Morador de Magé, na Baixada Fluminense, Richardison Barros, de 25 anos, saía cedo de casa para uma rotina intensa. Ele ia para a faculdade de Jornalismo localizada no bairro da Urca, de lá se deslocava para o estágio em Botafogo e, no fim do dia cruzava a cidade para assistir às aulas de comunicação para Projetos Sociais, na sede do Fala Roça. A motivação para encarar a jornada era o aprendizado e a conexão criada com o grupo da Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas.
“Quando vi a oportunidade pelo Instagram e li o edital, vi que precisava fazer o curso. Me lancei nesta oportunidade de corpo e alma porque já me via dentro de um jornal comunitário na maior favela do Brasil. Saía de casa às 5h30 da manhã para estar na faculdade às 9h e ficava até as 17h para poder ir ao Fala Roça. Levo [desta rede] muita cultura e sabedoria. Isso tudo [o curso e a rede] fortaleceu minha capacidade de atuar em ações sociais no meu território e ampliou meu senso de comunidade”, opina Richardison.
O primeiro módulo contou com 16 aulas, ministradas por seis professores convidados. Entre os temas abordados estavam: Comunicação Institucional, Inteligência Artificial, Construção de Portfólios, Comunicação para Mídias e Redes Sociais, Planejamento de Comunicação e Produção de Conteúdo.
Juliana Portella, jornalista que ministrou metade das aulas do curso, ressalta que dar aulas para os jovens da Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas foi uma “experiência maravilhosa”. Para ela, a “turma estava muito envolvida e interessada porque de alguma forma eles já faziam a comunicação dos seus projetos”.
“A gente que vem da periferia já faz normalmente o nosso corre, a própria comunicação, gestão, contabilidade. E comunicação é muito mão na massa, então, busquei trazer a minha experiência e dar ferramentas para eles fazerem o que já fazem de uma maneira mais completa. Foi lindo!”, destaca Juliana.
Ela também ressalta os resultados. ”Lembro que tinha alunos que não tinham Linkedin e criaram. Alguns não publicavam com frequência e começaram a publicar, passaram a descrever seu negócio de outra maneira. Eles saíram do curso com um plano de comunicação e um portfólio. O interesse e resultado deles foi a melhor [resposta] que pude ter”, acrescenta.
Iara Batista, de 24 anos, moradora da localidade Rua 1, parte alta da Rocinha e criadora do Projet Hope, focado em moda sustentável, revelou que os resultados do curso vieram rápidos. “Tanto no ambiente virtual quanto no presencial já vi os resultados. As aulas sobre Inteligência Artificial me mostraram que é possível otimizar conteúdos usando o que já produzi, reaproveitando ideias com estratégia e intencionalidade. Isso impactou diretamente na programação das aulas [do meu projeto] e também na organização das redes sociais do Projet Hope. Agora consigo planejar postagens de forma mais assertiva, com mais clareza e propósito.”