Filme produzido por crias da Rocinha estreia no Festival do Rio

Crônicas Marginais tem produção e direção assinadas pela Academia de Cinema da Rocinha; filme será exibido em sessão especial na favela em novembro

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O curta-metragem Crônicas Marginais estreou no último sábado, 11, no Festival do Rio, um dos principais festivais de cinema do mundo. O filme mostra a vida cotidiana com desafios de moradores da Rocinha em 20 minutos. A produção, dirigida pela Academia de Cinema da Rocinha (ACR), teve duas sessões no Estação Net Gávea, e outra no CineCarioca José Wilker.

“Quando saiu o resultado que o filme estava no Festival do Rio foi uma festa. A gente [da ACR] se dedicou muito para fazer a produção na comunidade, envolvendo moradores, professores e alunos”, conta Marcos Braz, diretor da ACR. “Foi tão mágico! Fizemos um filme de guerrilha, com pouco recurso, e ver isso reconhecido por uma banca que avaliou mais de mil filmes para chegar aos selecionados, e estar representando a nossa favela, é muito especial. Foi lindo ver os crias no dia do lançamento”, acrescenta.

Marcos Braz discursa no Festival do Rio 2025 sobre a produção do filme Crônicas Marginais, da Academia de Cinema da Rocinha. Foto Claudio Andrade

Ele também ressalta a capacidade criativa dos favelados. “A gente [que é da favela] é capaz. Não fizemos um filme apenas para cumprir tabela de edital, mas para amplificar nossa voz em outros lugares. Tenho certeza de que o filme foi escolhido não porque usou uma técnica específica ou equipamentos caros, mas porque tem histórias interessantes e originais, feitas por pessoas que querem viver do audiovisual e exibir sua história impactante.”

A ideia inicial de Crônicas Marginais nasceu em uma atividade de sala de aula da ACR, localizada na Biblioteca Parque da Rocinha. Os professores e alunos produziram roteiros, desenvolveram as histórias e depois se reuniram para transformar em um curta-metragem. Após o impacto do filme, cinco alunos ingressaram no mercado de trabalho e tiveram experiências profissionais em empresas de audiovisual como Netflix e GloboPlay.

Segundo a assessoria do Festival do Rio, apenas nove exibições possuem temática sobre favelas no Brasil. O número representa 3% dos 300 filmes nacionais e internacionais apresentados durante os 11 dias do evento.

Para Lux Brasilis, de 40 anos, protagonista do filme e morador da localidade Sete, a produção da Rocinha é o espelho da realidade que muitas pessoas da favela vivem diariamente. A participação no filme reforça a pluralidade necessária no cinema brasileiro, reflete o ator.

“Participar [do filme] foi uma experiência única. O filme é um retrato das nossas vivências, da construção e experiência do trabalhador comum, do morador da favela [da Rocinha]. É a primeira vez que me sinto representado em uma produção audiovisual. A sensação de sermos selecionados no Festival do Rio foi ótima, mas ainda há muito trabalho pela frente para ser um espaço inclusivo. O cinema ainda é muito segregativo”, comentou Lux.

Crônicas Marginais será inscrito em outros festivais de cinema, como o Festival de Brasília, antes de estrear nas plataformas digitais. O filme também terá uma sessão gratuita no mês de novembro na Biblioteca Parque da Rocinha C4.

O elenco conta com a participação de Alice Nara, Lux Brasilis, Negro Lindo e Daiany Dutra. A trilha sonora foi produzida pelo Satty Studio, empresa da Rocinha.

A ACR está produzindo um novo curta-metragem, intitulado “Novo Retrato” e a finalização das gravações está prevista para novembro. A produção contará a história de uma família da Rocinha que precisa superar desafios após a morte da matriarca. O filme é dirigido por Leo de Souza Santos e produzido por alunos da nova turma do projeto, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2026.

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