Fim do programa Gari Comunitário aumenta o lixo nas vielas da Rocinha

Moradores cobram soluções da prefeitura para retorno do programa Gari Comunitário

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O Programa Gari Comunitário teve suas atividades suspensas na Rocinha na última segunda-feira (23/6). Em apenas 72 horas, já é possível perceber os impactos da ausência do serviço. Os profissionais eram responsáveis pela limpeza das ruas mais estreitas da favela e de áreas de difícil acesso, onde os caminhões da Comlurb não conseguem chegar. Com a interrupção do trabalho, moradores demonstram preocupação com o agravamento de um problema antigo no morro: o acúmulo de lixo.

A Rocinha é um dos bairros que mais produzem lixo na cidade do Rio de Janeiro. Em outubro de 2023, a Comlurb coletava cerca de 140 toneladas de resíduos por dia na região.

O vice-presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Marcondes Ximenes, anunciou a suspensão do serviço comunitário por meio das redes sociais. Segundo ele, a associação está em diálogo com a Comlurb para buscar alternativas que evitem o acúmulo de lixo e garantam a continuidade da limpeza nas áreas mais críticas da comunidade.

Os garis comunitários são fundamentais na limpeza de ruas, becos e vielas que não são atendidas pelo maquinário da Comlurb. Foto: Acervo/UPMMR

Segundo apuração do Fala Roça, a Comlurb foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho a encerrar imediatamente o programa, sob pena de multa diária em caso de descumprimento. A Comlurb informou que o programa atingiu o prazo máximo de vigência. A empresa afirmou ainda que continua realizando serviços de limpeza na Rocinha em dois turnos, com o apoio de cinco ecopontos de grande capacidade e nove pontos equipados com caixas de 1.200 litros distribuídas pela favela.

Cerca de 36 profissionais atuavam no programa Gari Comunitário. Eles atendiam  as áreas   da Rua 1, Rua Nova, Dionéia, Vila Verde, e outras áreas mais afastadas da Estrada da Gávea – única via de acesso asfaltada da Rocinha. 

A falta de ruas é um grande empecilho no recolhimento do lixo e contribui para a proliferação de doenças devido ao descarte irregular de lixo. Apesar da Comlurb ter anunciado a abertura de vagas para novas contratações, moradores alertam que a demanda é urgente. 

O programa Gari Comunitário opera há quase 30 anos na limpeza urbana da Rocinha. Desde 1996, são esses profissionais que   cumprem o papel de serviço público essencial, diretamente ligado à saúde pública e ao saneamento básico com a remoção do lixo nos becos, vielas e áreas do morro, onde o serviço convencional não alcança. 

“Essa suspensão interfere diretamente na vida da gente. Era um serviço de grande utilidade pública. Agora, sem os garis comunitários, vamos ficar entregues aos ratos e às doenças! Porque, se com o projeto funcionando já apareciam ratos em alguns cantos, imagina agora, sem ninguém limpando?”, desabafa Daniela Machado, de 43 anos, moradora da Rua 4.

A paralisação não se restringe à Rocinha: o projeto também foi encerrado em outras favelas da cidade. Em grupos de WhatsApp, moradores já se articulam para cobrar um posicionamento da prefeitura.

“Eu penso que, se o projeto deu certo, deveria continuar. Era só fazer uma nova seleção de funcionários com disposição para esse serviço, que é pesado. Eles entram em valas, desentopem bueiros nos dias de chuva, passam pelas vielas recolhendo o lixo”, completa Daniela.

Não é a primeira vez que o MP determina o fim do Gari Comunitário nas favelas do Rio de Janeiro. Em 2010, a Comlurb precisou negociar um acordo para manutenção do serviço. À época, a exigência do Ministério Público do Trabalho era para que, gradualmente, 1.700 garis comunitários que trabalhavam em 300 favelas na cidade, fossem substituídos por servidores contratados.

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