Projeto da Fiocruz em parceria com Fala Roça pesquisa os impactos da covid-19 na Rocinha
Os impactos da pandemia de covid-19 na Rocinha e em outras favelas do Rio de Janeiro é imensurável. A crise humanitária está sendo investigada pelo Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM), apoiado pelo programa Inova, da Fiocruz. Outras duas favelas na cidade foram incluídas no estudo: o Complexo do Alemão e Manguinhos, onde a iniciativa atua desde 2003.
A pesquisa coloca uma lupa para avaliar detalhadamente como os moradores, sozinhos ou juntos, estão enfrentando a crise humanitária. De acordo com a coordenadora da pesquisa, educadora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Marize Cunha, vários assuntos estão sendo estudados, como a fome, saúde mental, adoecimento, desemprego, insegurança quanto à educação, além da sobrecarga de trabalho de mães por causa da educação dos filhos.
“Outra coisa que estamos abordando na pesquisa são situações que abalaram os territórios, em outros momentos, como desabamentos, enchentes, prolongados períodos de falta de água”, diz Marize Cunha.
O LTM possui parcerias com pesquisadores e profissionais de saúde e educação, estudantes e pessoas que vivem e trabalham no território, em especial aqueles que atuam na localidade.
“Chamamos estes moradores, que estão ou não em coletivos, de agentes sociais em movimento, porque eles têm um conhecimento privilegiado sobre o território, são especialistas do lugar. Pesquisar com estas pessoas, e algumas vezes as convidar para trabalhar como bolsistas, traz a possibilidade de construir conhecimento sobre o lugar e seus problemas de forma coletiva, em diálogo.”, destaca Marize Cunha
O estudo está produzindo vídeos, boletins informativos e oficinas de discussões de situações enfrentadas pelos moradores dessas favelas. Grande parte dos pesquisadores também são moradores desses territórios. A produtora do Fala Roça, Camila Perez, 36 anos, é nascida e criada na Rocinha. Ela é bolsista no projeto de pesquisa do LTM/Fiocruz junto com José Bernardo, 29 anos e Janaína Santos, 40 anos.
Segundo Camila Perez, os problemas enfrentados atualmente não podem continuar sendo naturalizados no futuro. “Temos que começar a pensar de que forma a gente pode mudar essa realidade e não naturalizar as coisas. Precisamos quebrar essa ideia de que é natural viver sem água porque mora na favela ou não paga luz. A ideia para o futuro é reivindicar mais.”, avalia a pesquisadora.
Não trazer respostas prontas sobre o que é a pandemia nas favelas ou buscar entender o engajamento de coletivos de favelas atuando na distribuição de cestas básicas são exemplos de peças chaves da pesquisa.
“Mobilizar conhecimentos locais, escutar esses moradores e tentar perceber os impactos para além do que a gente consegue prever. Como essas reflexões podem contribuir para formulação de políticas públicas no campo da saúde coletiva e da saúde pública e como essa saúde pública pode aprender com esses coletivos e atuar de uma forma melhor”, finaliza Fabiana Melo Sousa, coordenadora de campo e de produção do projeto.