Guia surda promove turismo acessível na Rocinha

Roteiros guiados em Libras revelam a Rocinha sob um novo olhar e abrem caminhos para o turismo acessível feito por moradores com deficiência

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As visitas guiadas pela Rocinha existem desde a década de 1990, quando o chamado “turismo de favela” começou a atrair estrangeiros interessados em conhecer o cotidiano das comunidades. Com o tempo, essa prática se expandiu e passou a despertar o interesse dos próprios moradores, que encontraram uma oportunidade de gerar renda e mostrar a realidade da favela sob outra perspectiva.

A moradora da Rocinha e guia turística surda, Juliete Silva, de 29 anos, vem adaptando o turismo local ao oferecer roteiros totalmente conduzidos em Libras. A iniciativa, pioneira na favela, tem atraído visitantes surdos do Brasil e de outros países, promovendo inclusão e uma nova forma de enxergar o território. ”Me tornei guia turística ao perceber a falta de acessibilidade para pessoas surdas nos passeios. A ausência de guias que dominassem a língua de sinais limitava a experiência desses turistas.”, explica Juliete.

Ao criar passeios acessíveis para pessoas com deficiência auditiva, ela rompe a exclusão do turismo e coloca as pessoas surdas no protagonismo da experiência tanto como visitante quanto no guiamento.

Grupo de visitantes surdos conhece a parte alta da Rocinha durante passeio da guia Juliete, com parada na quadra do castelinho, no Atalho. Foto: Arquivo Pessaol

Segundo Juliete, até 2021, ela recebia apenas três a quatro visitantes por passeio. Com o reconhecimento do trabalho dela e o apoio do aplicativo Na Favela Turismo, o número de interessados cresceu. Com a parceria, nasceu o tour cultural Caminho de Libras na Favela, que proporciona à comunidade surda uma imersão inclusiva na história e na cultura da Rocinha.

Realizada em abril, a primeira edição reuniu cerca de 100 pessoas e contou com três guias surdos. O evento coincidiu com o Deaf’s Festival, evento que promove uma experiência multissensorial de música eletrônica para a comunidade surda. Aproveitando o fluxo de visitantes com deficiência auditiva na cidade, a iniciativa buscou apresentar a Rocinha a partir de uma perspectiva de quem vive na favela. 

Conectando visitantes pelas redes sociais

Com mais de 16 mil seguidores (entre brasileiros e estrangeiros) que acompanham e interagem com seus roteiros, Juliete utiliza as redes sociais para divulgar seu trabalho com vídeos e registros dos passeios. Segundo a guia, a estratégia de divulgação evoluiu: “Até 2024, a divulgação era feita apenas pelo WhatsApp e a partir desse ano, comecei a divulgar também pelo Instagram”.

O projeto ganha visibilidade por meio do compartilhamento de experiências pelos próprios visitantes. Os turistas ressaltam a importância de se sentirem seguros e representados por um guiamento em Libras, um diferencial raro no setor. Para Juliete, as redes sociais têm sido cruciais para “divulgar meus passeios, alcançar mais turistas e mostrar a importância do turismo acessível para pessoas surdas.”

grupo de visitantes surdos na parte alta do morro. Fotos: Arquivo Pessoal

Com visitantes da Alemanha, Holanda e Turquia, a guia amplia o turismo local e apresenta ao mundo um novo retrato da Rocinha. Iniciativas como do projeto Caminho de Libras na Favela contribui para romper a narrativa midiática que por muito tempo vinculou as favelas unicamente à violência. Através da acessibilidade e da troca cultural, ela mostra que o turismo também pode ser ferramenta de inclusão e empoderamento.

“É fundamental que pessoas surdas sejam incluídas, com guias que se comuniquem em Libras e proporcionem experiências completas. Além disso, empresas e outros profissionais do setor também precisam ter conhecimento sobre o trabalho dos guias surdos.”, defende Juliete.

grupo de visitantes surdos conhece a parte alta da rocinha durante passeio da guia juliete, com parada na quadra do castelinho, no atalho. foto: arquivo pessoal

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