Jovens Líderes: debate discute a cultura e o protagonismo juvenil na Rocinha
O auditório do Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, na Rocinha, foi palco, na última sexta-feira (29), do debate e da formatura do programa Jovens Líderes da Rocinha. O evento reuniu cerca de 50 pessoas e marcou o encerramento dos dois ciclos da iniciativa, realizado com recursos do Edital Ações Locais – Edição Paulo Gustavo, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura.
Com o tema “Como as escolas e universidades podem contribuir para o desenvolvimento da cultura na Rocinha“, o debate explorou formas de integrar universidades e escolas à produção cultural da Rocinha. Entre os convidados estavam Marcelo Viana, diretor da Escola Municipal Francisco de Paula Brito, Gilberto Mendes, professor do Departamento de Design da PUC-RJ, além de Camila Carvalho e Lucas Holanda, jovens participantes do programa.
Michel Silva, diretor do Fala Roça, falou sobre a iniciativa e apresentou dados ao público. “A gente tem uma péssima mania de falar que cultura em favela não dá dinheiro”, frisou, ressaltando a importância das ações culturais como motores da economia na favela.
O Programa Jovens Líderes da Rocinha é uma iniciativa destinada a capacitar 50 jovens, com idades entre 18 e 29 anos, em áreas essenciais como comunicação, defesa de causas (advocacy) e gestão de projetos. Dividido em dois ciclos de dois meses cada, com oficinas às quartas e sextas, o programa busca fortalecer os laços com as iniciativas culturais e projetos identificados pelo Mapa Cultural da Rocinha, criado em 2015, além de promover a participação cívica entre os jovens da favela.
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A cultura contribui para manter viva a história e é um meio pelo qual a favela pode expressar suas reivindicações em diferentes frentes, como a arte. Marcelo Viana coordena a Escola Municipal Francisco de Paula Brito desde 2016. A instituição tem um papel fundamental na formação cidadã do território por meio da educação. Para ele, a cultura se mostra uma aliada da educação na formação dos indivíduos.
“A cultura é o que vai te dar a visão do mundo, o questionamento do mundo, as transformações, as diferenças, e cada um tem seu papel. No caso da educação, ela é apenas uma das ferramentas, com a família, os parceiros, o coletivo, os amores, tudo que possa trazer energia para essa transformação”, afirmou.
Bianca Felix, de 27 anos, coordena o projeto Rocinha Inclusiva, que trabalha com pessoas com deficiência. Ela é mãe de Geovana, de 7 anos, que é autista. Bianca viu no programa Jovens Líderes a oportunidade de aprender e aplicar o que foi ensinado.
“Eu vi a dificuldade que é o acesso à cultura e ao lazer para pessoas com deficiência. Então comecei lutando, mandando mensagens para empresas, teatros, cinemas, tentando falar com os responsáveis dessa área para entender a possibilidade de levar o projeto para esses espaços.” Atualmente, o projeto atende cerca de 123 famílias e conta com uma equipe multidisciplinar, composta por pedagogas, psicólogas, fonoaudiólogas e nutricionistas, com sede na Rocinha.
Ela diz que, por meio do programa, conseguiu aprender a gerir sua iniciativa. “Aprendi muito sobre como fazer o projeto acontecer, como mandar emails. Foi muito importante aprender sobre o CNPJ, já que ainda não temos. O curso foi muito completo para quem começou um projeto a partir de uma ideia, sem conhecimento prévio”, relatou.
Michelle Veríssimo, de 31 anos, atua como fotógrafa. “Sou produtora da Roda Cultural da Rocinha. Entrei no programa para aprender coisas novas e aplicar no meu projeto. Foi uma experiência incrível. Acho que é o terceiro projeto que faço com o Fala Roça.”
“A cultura liberta, te dá conhecimento, te faz pensar além do que você já sabe. Por isso, acho que a cultura é primordial, é essencial. Não conseguimos nada sem cultura e educação.”
Lucas Holanda, de 23 anos, é estudante de jornalismo e atua no coletivo Favela In. Ele trouxe para o programa sua iniciativa de trabalho com a literatura negra nas escolas da favela: o Páginas Negras. “A gente queria produzir um slam [poesia falada] aqui e, com isso, incentivar a poesia e o pertencimento enquanto pessoas negras, desenvolvendo a consciência racial na Rocinha”, pontuou.