
Moradores elegem Trapiá como o bar mais tradicional da Rocinha
Pesquisa do Fala Roça mostra que os restaurantes Amarelinho e Esquina da Noite vêm em segundo e terceiro lugares, respectivamente. O jornal ouviu moradores entre 18 e 60 anos
O Trapiá foi considerado o restaurante mais tradicional da Rocinha. O resultado veio de uma pesquisa realizada pelo Fala Roça, em maio, que ouviu 110 moradores e frequentadores das partes baixa e alta da comunidade, entre 18 e 60 anos. Além dele, os restaurantes Amarelinho e Esquina da Noite ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), existem cerca de 240 CNPJs cadastrados como estabelecimentos de alimentação fora do lar (bares, restaurantes e similares) na área da Rocinha. Na pesquisa, foram citados 19 restaurantes, entre eles, o Mirante, conhecido pelo forte turismo.
O levantamento mostrou como a ideia de “tradição” na Rocinha pode estar vinculada também com os espaços de lazer e gastronomia. Camila Lino, uma das sócias do Trapiá e filha do fundador, conta que o processo de criação do estabelecimento começou há 22 anos, como um pequeno barzinho. Ao longo do tempo o lugar se desenvolveu, cresceu e hoje funciona 24 horas por dia com 50 funcionários com carteira assinada. Para ela, o bar foi eleito o mais tradicional devido ao tipo de comida ofertada. “A gente serve sempre um padrão, pela comida nordestina, pela comida gostosa, tem realmente um sabor”, afirma.

Outros pontos queridos pelos moradores
O Amarelinho foi fundado há 16 anos e já foi uma pensão chamada Souza Souto. Tarciso da Silva é o atual gerente do estabelecimento e ressalta o papel do restaurante em servir de acordo com os desejos da comunidade. “É o cliente que molda a formação do negócio e não o negócio que molda o cliente.” Ele também diz que a evolução com o passar do tempo não é só dos restaurantes, mas também da Rocinha como um todo. “Hoje, a gente tem uma comunidade organizada. Tem recolhimento de lixo diariamente. Você vê uma rua, até mesmo os becos com muito cuidado. Tudo evoluiu com relação a esse ponto.”

Karen Santana, frequentadora do Trapiá há mais de 15 anos, responde. Ela afirma que uma das suas memórias, além da comida, são os momentos em família e aniversários comemorados no restaurante. “O tratamento daqui também é muito bom e o self-service aqui também é muito bom por causa disso. Os pratos feitos também e as sobremesas são muito gostosas”.
O cientista social e professor dos Departamentos de Comunicação e Letras da PUC-Rio, Miguel Jost, ressalta o papel cultural desses espaços. Segundo ele, são lugares que têm ausência de equipamentos culturais e de acesso à cultura e lazer. “Todos os territórios populares, incluindo os territórios de favela do Rio de Janeiro, são amplamente reconhecidos como espaços de encontro, de troca, de trânsito, ligados à produção cultural e artística. Isso se dá em espaços que são os que oferecem o mínimo de uma sociabilidade ligada ao lazer, à diversão, ao comportamento. Por isso os bares acabam ocupando um papel muito significativo e muito importante. Agora a gente tem que pensar por quê”, reflete.
O Trapiá está localizado na Travessa Liberdade do Bairro Barcellos 3 e funciona das 11:30 às 6h. Já o Amarelinho opera das 11h às 5h e fica na Via Ápia 13. O Esquina da Noite fica na Travessa Aníbal Félix, na esquina com Via Ápia, e está aberto 24h.
*Esta matéria é fruto da parceria entre a disciplina de Extensão em Jornalismo e Cidadania, do curso de Comunicação da PUC-Rio, ministrada pela professora Lilian Saback, e o jornal Fala Roça. A colaboração, iniciada em 2022, busca promover uma formação jornalística mais humana, que desafie estereótipos e repense as narrativas sobre a favela.