Moradores se emocionam com a Via Sacra da Rocinha, apesar de clima de tensão

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Realizar uma ação cultural na Rocinha está sendo desafiador nos últimos meses. Os cenários de violência tem impossibilitado os atores sociais de movimentar a cultura na favela. Novamente sem patrocínio, cerca de 3 mil moradores se reuniram para acompanhar a 26ª edição da Via Sacra da Rocinha, no Largo do Boiadeiro, uma das áreas na parte baixa da Rocinha. Com o apoio da Riotur, palcos e luzes foram instalados para retratar a Paixão de Cristo. O espetáculo é produzido pela Companhia de teatro Roça Caça Cultura com moradores da própria favela desde 1992.

Neste ano, os atores iriam homenagear a própria história da Rocinha que é uma favela nordestina. Os moradores seriam os homenageados da noite, entretanto, o tema mudou em poucos dias. “Infelizmente a gente teve que mudar nosso assunto por conta desses eventos de violência que vieram acontecendo e a procuramos mostrar que essa violência é horrível sim, é uma violência explícita, mas tem outras violências que também mata, como a falta de saúde, saneamento básico, educação”, contou o diretor da peça, Robson Melo.

A peça que atrai fiéis

Os palcos espalhados pelo Largo do Boiadeiro requer uma agilidade do público em movimentar o pescoço para não perder as cenas. Durante a peça, os atores caminham, correm e interagem com os moradores. “Você está gostando?”, questiona um ator de forma humorada e incorporado pelo personagem de Jubileu Mesquita.

A projeção da frase “Favela quer paz” em uma parede expressava o desejo de milhares de moradores que constantemente são acordados por disparos de armas de fogos. Mas foi durante uma das principais cenas da peça, a ressurreição de Jesus Cristo surpreendeu todos que esperavam uma aparição no alto de uma igreja católica. Jesus apareceu na varanda de uma casa ao lado da igreja e estendeu uma faixa branca com as palavras “Davidson, Matheus, Marechal, Amarildo, Marielle, Anderson, presente!”. O público não segurou a emoção e ovacionou a cena. Durante toda a peça, nenhum policial militar foi visto passando pelo local.

Projeção chamou atenção de muita gente. (Foto: Michel Silva)
Projeção chamou atenção de muita gente. (Foto: Michel Silva)

O ajudante de pedreiro Davidson Farias, de 28 anos, foi morto na varanda de sua casa, na Vila Verde, parte alta da Rocinha, na noite anterior a encenação da Via Sacra. Ele estava segurando seu bebê no colo quando um tiro de fuzil interrompeu sua vida. Os familiares acusam policiais militares de terem efetuados disparos contra a família. A Polícia Militar negou e disse que não houve confronto. Assim como Davidson, outros moradores tiveram as vidas ceifadas de forma brutal.

A realização da Via Sacra da Rocinha – reconhecido como Patrimônio Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro – mostra que a ocupação das ruas da Rocinha deve ser feita com cultura. “Em 2019, iremos subir o morro”, disse em tom eufórico o diretor da peça, Robson Melo, cujo maior desejo é retornar com o trajeto original da Via Sacra.

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