Desempregado, padeiro produz pães e doa para moradores na Rocinha

Em média, cada saco montado pela família de Isael Jacinto tem 5 pães
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Diante das mobilizações para doação de cestas básicas na Rocinha, o morador Isael Jacinto da Costa, de 52 anos, pensou em algo mais simples para ajudar os vizinhos: doar sacos de pães. O padeiro que está desempregado desde 2017, percebeu que embora os moradores tenham o arroz e feijão, não tinham pão para comer.

“O pão é a vida, né? Às vezes está faltando um pão pra dar a criança de manhã. Eu acho muito importante o café da manhã. Às vezes a mãe não tem o pão para dar. As pessoas nem sempre tem dinheiro para comprar e elas ficam muito felizes quando recebem o saco de pão. Dá para ver a alegria nos olhos das crianças”, explica o padeiro.

Natural de Divino São Lourenço, cidade com cerca de 5 mil habitantes, no sul do estado do Espírito Santo, ele saiu da roça para morar na Rocinha há 30 anos. Pai de 7 filhos, a família é quem ajuda a colocar os pães em sacolas plásticas nos dias de doações. 

Entre a solidariedade e um sonho

No início das distribuições, ele assou 200 pães. Segundo Isael Jacinto, a quantidade atendeu poucas famílias na localidade conhecida como Bica da Palmeira, na parte alta da Rocinha. Após conseguir um trabalho temporário em uma padaria do morro, ele comprou o material para fazer 700 pães. Nesse bico, o dono da padaria deixou ele assar os pães de graça. 

“Tem muitas pessoas que ficam tímidas de pegar, mas vejo que elas precisam. Outras pessoas querem comprar pão e não tem dinheiro”, conta ele que, na última vez que fez as doações, desceu os becos de três localidades com uma cesta de palha no ombro e protegido com uma máscara.

Cesta usada pelo padeiro Isael Jacinto para transportar os sacos de pães no morro. (Foto: Arquivo pessoal/Isael Jacinto)

Durante o preparo da doação de pães, o padeiro lamentou o fato de que a família ainda não conseguiu o auxílio emergencial do Governo Federal destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, como é o caso dele. “Ninguém aqui em casa foi aprovado ainda. Minha filha me cadastrou, mas na primeira vez não fui aprovado”.

Em média, cada saco montado pela família de Isael tem 5 pães. Enquanto não consegue um emprego, ele sonha em montar uma pequena padaria onde mora. Ele possui os equipamentos básicos da profissão, mas a falta do maquinário é um empecilho para tirar o sonho do papel. Máquinas como divisora, modeladora, cilindro, amassadeira e um forno turbo podem custar até R$ 5 mil cada. 

As próximas distribuições de pães ainda não estão garantidas. Só vão acontecer se o padeiro conseguir um emprego fixo ou um novo bico, como vem fazendo nos últimos anos. O ato de solidariedade não é de hoje. “Não é só por causa da pandemia. As pessoas precisam das coisas independente de qualquer coisa. Não precisa acontecer uma desgraça para ajudar as pessoas. Isso que estou fazendo é tão pouco que os moradores ficam gratos por isso”, conclui Isael Jacinto.


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