Os jornais noticiavam um vírus que apareceu na China e rapidamente ia se expandindo entre os países. Logo chegou a vez do Brasil. Não demorou para chegar na Rocinha. A sirene da Defesa Civil foi acionada e o que mais se ouvia no início da pandemia de covid-19 em março de 2020 era: “Fica em casa!”.

Mas o que essas 3 simples palavras carregam? Elas carregam trabalhadores que atuam em áreas que não é possível trabalharem de casa, e também carrega crianças que, com escolas e creches fechadas, levaria um maior gasto para suas famílias. 

Por fim, essas três simples palavras resultaram em um dos piores problemas enfrentados pela população brasileira e, principalmente, a população favelada: o desemprego. Muitos desses trabalhadores tiveram suas jornadas de trabalho reduzidas para que houvesse um menor contato com o vírus. Entretanto, com a diminuição do consumo de alguns setores por uma população que precisava ficar em casa, isso afetou o caixa das empresas, que não viram outra saída a não ser demitir funcionários ou fechar as portas definitivamente. 

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a Rocinha chegou a liderar o número de casos de Covid-19 em favelas do Rio, e junto a isso veio o impacto da pandemia nos moradores da Rocinha. Não é novidade que as taxas de desemprego já andavam altas. 

Segundo dados do IBGE sobre o primeiro trimestre de 2020, a taxa de desocupação já estava em 12,2%, e agora chegou em 14,7% no primeiro trimestre deste ano. O caso do estado do Rio de Janeiro é ainda mais preocupante se comparado com os números do país, com uma taxa de desemprego que atingiu 19,4% no primeiro trimestre de 2021.

A população das favelas foi a que mais sofreu com os impactos econômicos da pandemia. No Rio, cerca de 1,6 milhões de pessoas perderam seus empregos. Tais impactos podem ser observados com a mobilização dos próprios moradores de conseguirem cestas básicas e quentinhas para as famílias faveladas menos abastadas. Mas ainda assim, essa população que, em geral, dependia do salário para alimentarem suas famílias, pagarem aluguel, gás, contas de internet, entre outros, não se via mais vivendo sob uma condição relativamente estável. Muitas dessas famílias estavam vivendo um dia de cada vez, garantindo a alimentação daquele dia e para o dia seguinte seria outro “rolé” para conseguir.

Michelle Santos Lopes, 31 anos, mora na Rocinha e faz parte dos perfis de pessoas que buscam oportunidades diariamente. Sem trabalho fixo, busca bicos para sustentar ela e a família. Mesmo assim, ela conta que mantém a confiança e positividade.

“Estamos vivendo uma verdadeira batalha para sobrevivermos em meio a essa situação trágica por conta da covid-19. No meu caso, eu estou a mais ou menos 2 anos desempregada, só recebo o auxílio emergencial que é um valor muito baixo, mas preciso para ajudar dentro de casa. Me encontro em situação de necessidade, pois só o preço do gás está 120 reais, um valor absurdo para se manter. Mesmo assim estou confiante que tudo isso é apenas um momento difícil e ruim que vai passar. E assim como eu, outras pessoas também lidam com a mesma situação, ou até mesmo pior, vamos vencer”, acredita Michelle.

O auxílio emergencial foi a saída para muitos moradores. Com o fim do Bolsa Família, as famílias passarão a receber o benefício pelo Auxílio Brasil, novo programa social do governo federal. No entanto, o valor do benefício não chega nem aos R$ 400 prometidos pelo governo Jair Bolsonaro. 

Segundo a Caixa Econômica Federal, as datas de liberação do dinheiro seguem as mesmas do Bolsa Família, conforme o final do NIS (Número de Identificação Social). As famílias podem sacar nas agências da CEF ou nas casas lotéricas. Também é possível receber por meio do app Caixa Tem.

Diante de todas as reduções de salários, auxílios bloqueados e a alta do desemprego, o morador, cria da Rocinha, foi envolvido numa grande rede de solidariedade feita pelos próprios moradores de projetos sociais, jornais, coletivos, igrejas, clínicas da família, e ONG’s.

Dados levantados pelo jornal Fala Roça, mostra a mobilização de pessoas locais que se dispuseram a ajudar em tempos tão difíceis, foram cerca de 12.000 mil pessoas que puderam contar com cestas básicas e kit higiene, dentre essas pessoas 68% não tinham nenhuma atividade que gerasse renda e 70% não foram incluídos nos programas de auxílios do Governo. 

*Este texto foi produzido por moradores da Rocinha que participaram da Oficina de Comunicação Comunitária do Fala Roça, em 2021, em parceria com a Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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