PEP e PrEP: Tudo o que você precisa saber para se proteger do HIV

A PrEP e a PEP são medicamentos do SUS que ajudam na prevenção do HIV, disponíveis para todos, independente da orientação sexual.

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Estima-se que 1 milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil, sendo 650 mil do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. Embora a prevalência de casos seja maior entre pessoas brancas, a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em tradução livre) mata mais pessoas negras, que, muitas vezes, não têm acesso ao tratamento e à prevenção.

Na Rocinha, 30 pessoas foram diagnosticadas com Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, em inglês) em 2023, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde. Com o avanço da ciência, algumas formas de prevenção foram elaboradas e, com isso, surgiram a PrEP e a PEP. Mas, você sabe o que significam essas siglas? Conhece essa possibilidade de prevenção?

O Fala Roça conversou com especialistas da área de saúde para falar sobre os medicamentos que estão acessíveis gratuitamente nas clínicas da família. “Qualquer pessoa que não tenha HIV pode fazer o tratamento com a PrEP e a PEP, lembrando que a PEP é para quem teve algum tipo de exposição [sem preservativo], e a PrEP é para quem pode vir a ter algum tipo de exposição”, explica Clara Leite, médica do Centro Municipal de Saúde Dr Albert Sabin, localizado na Rocinha.

O uso da PrEP

Prep e PeP são disponibilizados gratuitamente em todas clinica da família da Rocinha. Foto: Fala Roça

A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), de acordo com o Ministério da Saúde, consiste no tratamento preventivo em que, antes da relação sexual, a pessoa toma um comprimido que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV. A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). 

Os medicamentos usados são uma combinação de Entricitabina e Tenofovir, na versão em comprimido para uso oral. A eficácia dos remédios passa a valer após sete dias para pessoas que fazem sexo anal, e 20 dias para o sexo vaginal. Há também a versão injetável, que ainda está em fase de estudos no Brasil e não foi disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Essas estratégias de prevenção são fundamentais porque prevenção é um direito. E ele começa a se exercer a partir da informação”, afirma Claudia Mora, professora associada do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro/UERJ e Coordenadora executiva do Centro Latinoamericano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ)

“Quando cientistas da área do HIV percebem que os medicamentos podem ser úteis para a prevenção de novas infecções, para prevenir a transmissão do HIV, fornecendo os medicamentos para quem não vive com o vírus, emerge a possibilidade de tomar o medicamento antirretroviral antecipadamente e de forma contínua para que o organismo crie uma resistência, para que crie uma forma de agir, de reagir, caso a pessoa entre em contato com o HIV”, frisa.

“Tem uma geração que viveu a epidemia e tem um registro de não ter medicamento. A partir do SUS e da disponibilidade de medicamentos, o cenário passou a ser de um maior controle da epidemia”, complementa. 

“Ampliou-se a indicação da profilaxia para todos os adultos e adolescentes com 15 anos ou mais, e com peso corporal igual ou superior a 35kg, sexualmente ativos e sob risco aumentado de infecção pelo HIV. Também houve mudança na posologia inicial do medicamento, com a inclusão da dose de ataque de dois comprimidos de TDF/FTC no primeiro dia de uso, seguidos de um comprimido diário, assim como alterações no seguimento laboratorial da PrEP”, diz o Relatório de Profilaxias PrEP e PEP 2023, do Ministério da Saúde. 

“A PrEP sob demanda consiste no uso planejado de antirretrovirais conforme o esquema 2 + 1 + 1, ou seja, toma-se uma dose dupla (dois comprimidos) entre 2 e 24 horas antes da exposição de risco, um comprimido 24 horas após a dose dupla inicial e mais um comprimido 48 horas após a dose dupla inicial. Esta estratégia é indicada para pessoas que tenham, habitualmente, relações sexuais com frequência inferior a duas vezes por semana e que consigam planejar quando a relação sexual irá ocorrer”, explica o documento. 

O relatório informa ainda que: “entre 1º de janeiro de 2018 e 31 de dezembro de 2023, foram realizadas 728.413 dispensações da combinação dos antirretrovirais TDF/FTC para 149.023 usuários(as) em 908 Unidades Dispensadoras de Medicamentos das 27 UFs”. 

A professora destaca a importância de ampliar as estratégias em saúde para a redução das infecções. “O Brasil está com uma meta que é aumentar em 300% o uso da PrEP até 2027. E aí fica a pergunta sobre como é que a gente [atores da sociedade] pode ajudar a pensar, como é que esse processo vai acontecer, e como é que ele não reproduz as desigualdades em saúde.”

A especialista ressalta que tem ocorrido um abandono do uso da PrEP e demonstra preocupação, uma vez que a medicação já reduziu as infecções pelo vírus. “O abandono da PrEP oral tem feito com que os cientistas procurem alternativas para que ela se torne uma medicação de mais fácil ingestão. Então, vários ensaios clínicos têm sido feitos.”

Com as diversas tecnologias de medicamentos que reduzem o risco de infecção pelo HIV, pouco tem se falado sobre o uso de preservativo, que evita outras Infecções Sexualmente Transmissíveis e a gravidez indesejada. 

“[É importante] Falar sobre o preservativo porque ele saiu de cena nas campanhas e nos cartazes de divulgação. Pelo menos do Ministério da Saúde, quero dizer, não que ela não seja mencionada, mas esses medicamentos [PrEP] ganharam um certo protagonismo e, o preservativo, está ali como coadjuvante. E ainda essa é uma estratégia forte para prevenção da Aids, que não tem efeitos colaterais”, pontua a médica.

O uso da PEP

A Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que passou a ser disponibilizada no Brasil em 2010, também é uma combinação de medicamentos usada para o tratamento de pessoas que passaram por alguma situação de risco de infecção pelo HIV, ou seja, relações desprotegidas ou em que o preservativo se rompeu e até mesmo em casos de violência sexual. 

Segundo o relatório do Ministério da Saúde, “o número de dispensações de PEP passou de 35.670, em 2014, para 192.089, em 2023, um aumento de 439% (ainda que, em 2020, em razão da pandemia de covid-19, tenham sido realizadas menos dispensações que em 2019)”. 

“Para ela ser utilizada, é importante as pessoas saberem que ela existe e como é que funciona. A pessoa deve procurar um serviço de emergência solicitando o uso desses medicamentos, que fazem parte dos antirretrovirais. Durante 28 dias após essa situação de potencial contato com o vírus através de sangue ou de secreções do parceiro ou parceira”, esclarece a médica Claudia Mora.

Ela diz que é essencial buscar ajuda o mais rapidamente possível após a exposição, preferencialmente, nas primeiras duas horas após a exposição e, no máximo, em até 72 horas. Qualquer pessoa, sem limite de idade, pode fazer uso da PEP, em caso de exposição ao vírus do HIV, segundo diretrizes do Ministério da Saúde. 

“A PEP funciona como se fosse uma pílula do dia seguinte, mas, em vez de evitar uma gravidez, evita a contaminação pelo vírus do HIV”, ressalta Clara Leite. O acompanhamento médico é essencial durante o tratamento, tanto para a realização dos testes rápidos, quanto para garantir o suporte necessário. Vale lembrar que uma pessoa em tratamento pode procurar a Clínica da Família de sua preferência para receber o acompanhamento adequado.

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