Rede comunitária une educação, cultura e solidariedade para transformar vidas na Rocinha

Organizações locais atuam para fortalecer vínculos e mudar realidades, oferecendo acolhimento às crianças e famílias da favela

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Por Glória Gomes, Manuela David e Maria Luisa Agostini*

Os projetos sociais da Rocinha formam, há décadas, uma rede de apoio comunitária que transforma realidades por meio da solidariedade e do trabalho coletivo. O Centro Social de Educação e Cultura da Rocinha (CSECR), por exemplo, deu origem ao Núcleo de Assistência Social Cultural Educacional e Ecológico da Rocinha (Nasceer). Juntas, as duas iniciativas seguem atuando lado a lado para oferecer educação, cultura e acolhimento às crianças e famílias da comunidade.

O CSECR é resultado de um movimento familiar iniciado há três gerações. O projeto social reúne crianças de 5 a 12 anos em atividades esportivas e cursos livres, que vão de musicalização à capoeira, além de oferecer uma lan house popular. Os idealizadores do CSECR recebem oficinas, profissionais e parceria de escolas, criando uma rede de colaboradores. 

Banner da cozinha da Tia Irani | Foto: Manuela David

Para além de atividades para crianças, o espaço realiza, a cada quinze dias, rodas de conversa para mulheres com auxílio de psicólogos, profissionais da saúde e de assistência social. Cerca de 15 mulheres são acompanhadas em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial da Rocinha (CAPS).

Da favela Macedo Sobrinho à Rocinha: a história da Cozinha Solidária Ajeum Tia Irani

O CSECR também distribui, em média, 100 refeições para a população todas às sextas-feiras. A Cozinha Solidária Ajeum Tia Irani, nasceu nos anos 1960, na Favela Macedo Sobrinho, que foi removida em 1971. A cozinha foi dirigida por Jorgina Ferreira da Silva, que passou seu legado à Tia Irani Ferreira, a homenageada no nome da iniciativa. Atualmente, o projeto é regido por Fernando César Ferreira (Tio Nando), filho da Tia Irani.

“Ajeum” é uma palavra do idioma africano iorubá, que significa “alimentar-se”, e na cultura do candomblé, o termo possui um significado de celebração de “comer junto”. A cozinha conta com o Edital do Ministério de Desenvolvimento Social e com a Entidade Gestora Instituto Águas do Amanhã, que colaboram desde 2024.

Movido pelo desejo de revolucionar a realidade de moradores da Rocinha, Ulisses Silva, de 44 anos, é o responsável por desenvolver os projetos do CSECR, e por buscar parcerias com ONGs e professores voluntários. Para ele, um dos maiores desafios da iniciativa é alcançar famílias mais vulneráveis,. Por isso, o sentimento de pertencimento à comunidade é essencial para o crescimento das redes.

“O crescimento da favela acontecia de forma lateralizada, ou seja, com os crescimentos das famílias. Com o início da especulação imobiliária, abriu-se portas para o aumento de novos moradores, que antes possuíam um vínculo de uma vida inteira. A rotatividade causada pelos moradores de aluguel, que têm tempo limitado de experiências no local, torna difícil criar a sensação de pertencimento com o lugar”, diz Ulisses.

A criação do “Nasceer”

Da história do CSECR foi criado o Núcleo de assistência Social Cultural Educacional e Ecológico da Rocinha (Nasceer), que mostra como a Rocinha constrói, com esforço, um ambiente acolhedor, onde o poder público nem sempre chega. O Nasceer surgiu em 2019 e logo começou a dar os primeiros passos sozinho, como uma organização independente. Mesmo assim, os dois ainda caminham lado a lado, compartilhando espaços, recursos e experiências, numa rede de apoio que envolve professores, voluntários e moradores.

Durante a pandemia, o Nasceer distribuiu cestas básicas e itens essenciais a dezenas de famílias com apoio de voluntários. Hoje, o projeto mantém uma creche em parceria com a Prefeitura, atendendo 81 crianças, e oferece aulas de jiu-jítsu e capoeira para mais de 60. A grande novidade é a conquista de um novo espaço, ainda em obras, que permitirá retomar o reforço escolar e as aulas de inglês, artes, piano e violão.

Aula de Jiu-jítsu do Nasceer na primeira Igreja Batista | Foto: Olivia Silva 

Em reforma do novo espaço próprio, o Nasceer também pretende oferecer acompanhamento psicológico e ampliar o atendimento a crianças com autismo. Para isso, segue contando com doações e voluntariado, divulgadas pelo Instagram oficial do projeto (@nasceer).

“É um ajudando o outro, são os projetos ajudando os projetos. Uma doação que alguém recebe a mais, vai lá e ajuda o outro”, afirma Ernani, diretor do projeto, reforçando as ações colaborativas que movem a rede de apoio.

A união

Os projetos também se unem em datas comemorativas. No último Dia das Crianças, por exemplo, o Nasceer organizou um evento em parceria com o CSECR, a Biblioteca Parque da Rocinha e a empresa de investimentos Stellar Capital. A celebração contou com atividades lúdicas, brinquedos e oficinas de pintura.

Tio Nando (CSECR) e Nandy (Nasceer) na comemoração de dia das crianças de 2025 | Foto: Alex Assis 
Grupo de capoeira na festa de dia das crianças do Nasceer e CSECR | Foto: Alex Assis

Ernani destaca a importância de promover discussões que contribuam para a formação cidadã das crianças e o exercício da empatia. Segundo relatos de pais e responsáveis, a mudança no comportamento dos pequenos é evidente após a participação no projeto.

Olívia Silva, 34 anos, é uma das voluntárias que contribuem com o projeto e destaca a importância da rede de apoio presente na comunidade. Para ela, o segredo está justamente na união:

“Quando um projeto não pode, o outro dá um jeito.”

CSECR  

Endereço:  Rua Três, Nº 14 – Santeiro – Rocinha

Instagram: @csecr

Tel (Whatsapp): Ulisses LP Silva (21)972335588

NASCEER 

Novo endereço:  Rua 4, número 33 (Subida da rua nova) – Rocinha.

Endereço da creche Nasceer: Estrada da Gávea – 436, dentro do prédio da Primeira Igreja Batista da Rocinha em frente aos prédios do PAC. 

Instagram: @nasceer_rocinha @comunidadeeducacionalcrescer 

Tel (Whatsapp): Maria Consuelo Pereira dos Santos (21) 979247029

*Esta matéria é fruto da parceria entre a disciplina de Extensão em Jornalismo e Cidadania, do curso de Comunicação da PUC-RIO, ministrada pela professora Lilian Saback e o Jornal Fala Roça. A colaboração, iniciada em 2022, busca promover uma formação jornalística mais humana, que desafie estereótipos e repense as narrativas sobre a favela.

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