
Rede de Comunicação e Cultura nas favelas discute acessibilidade na Rocinha
Painel tratou do tema na Biblioteca Parque (C4) e contou com a participação de coletivos e representantes do poder público
A mesa “Acessar é existir”, realizada no auditório da Biblioteca Parque da Rocinha (C4), reuniu vozes diversas para discutir a importância da acessibilidade como um direito e uma forma de existência. Promovida pela Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas, a atividade destacou como as redes e coletivos comunitários são fundamentais para ampliar a inclusão dentro e fora das favelas.
O jornalista comunitário Rick Barros, do Projeto Conexão Magé, abriu o encontro com uma fala que marcou o tom da discussão: “Falar de acessibilidade é falar de existência. É reconhecer que cada corpo, cada voz, cada maneira de sentir o mundo carrega uma forma singular de comunicar e de pertencer.”

A mediação ficou por conta de Grécia Valente, integrante do projeto Anjos na Favela, que iniciou a mesa com uma dinâmica sensorial. O público foi convidado a apagar as luzes do auditório, vivenciando por alguns minutos a experiência de pessoas cegas em contextos de comunicação. No escuro, a voz e a escuta tornaram-se os únicos meios de conexão.
Em seguida, Grécia propôs outra vivência: todos deveriam cantar ao mesmo tempo, simulando a desorganização sensorial enfrentada por pessoas neurodivergentes. As atividades provocaram reflexões profundas sobre empatia, escuta ativa e o poder da comunicação para transformar realidades.
Durante a conversa, Grécia explicou o propósito do Anjos na Favela. “Nosso projeto busca fazer com que pessoas neurodivergentes e com deficiência sejam vistas, compreendidas e aceitas nos espaços, de diferentes formas.”
Entre as convidadas, Juliette Costa, guia de turismo surda do Favela Tour Rocinha, contou sobre sua trajetória e os desafios de ser reconhecida profissionalmente. “Nosso projeto busca fazer com que pessoas neurodivergentes e com deficiência sejam vistas, compreendidas e aceitas nos espaços, de diferentes formas.”
Entre as convidadas, Juliette Costa, guia de turismo surda do Favela Tour Rocinha, contou sobre sua trajetória e os desafios de ser reconhecida profissionalmente. “Ser compreendida é muito mais do que ser ouvida. Mesmo sendo guia, muitas vezes não sou vista dessa forma. Existir, para mim, é ser compreendida.”
A nutricionista infantil Joseane Jesus, autista e mãe de um menino autista, destacou a necessidade de repensar a alimentação sob a ótica da acessibilidade. “Os rótulos dos produtos raramente pensam em quem consome. Pessoas autistas, surdas, cegas ou com outras neurodivergências enfrentam barreiras até na hora de se alimentar”, ressaltou.
Ela também contou que tenta adaptar as refeições das crianças que atende de forma respeitosa e refletiu sobre a falta de escolas com salas de recursos funcionais no Rio de Janeiro.
Já em relação às ações do poder público, a coordenadora da Comissão da Pessoa com Deficiência da ALERJ, Iolanda Hermógenes, reforçou a importância da articulação entre e os coletivos e as autoridades. “A necessidade da acessibilidade é tão ampla que começa em casa. Ainda não temos leis atualizadas e o poder público precisa ouvir mais. Acessibilidade não é uma obrigação, é um direito.”

Outra voz marcante foi a de Maria Paula, moradora cega da Rocinha, que ressaltou a alegria de ver colegas e professores interessados em aprender Libras, mas lamentou a falta de acessibilidade nos rótulos e nas oportunidades de trabalho. “Até escolher um alimento pode ser um desafio quando as informações não são acessíveis.”
No fim da mesa, o público participou ativamente, demonstrando o quanto o tema toca o cotidiano da favela. Roberta Trindade, do Anjos na Favela, disse acreditar que as crianças neurodivergentes terão um futuro promissor, “porque estão crescendo sendo vistas”. Já Jade, participante da plateia, levantou uma reflexão sobre o maior desafio: “Como fazer a conscientização chegar a toda a sociedade? Esse ainda é o nosso calcanhar de Aquiles”.
O encontro encerrou reafirmando a mensagem central: acessar é existir. A inclusão só é possível quando a escuta é coletiva, o diálogo é empático e a comunicação comunitária se torna ponte para uma sociedade mais justa e acessível para todos.





