O dono da voz: K-max conta sua trajetória nas rádios comunitárias da Rocinha
Wilson Crispim da Silva, 33 anos, uma das maiores vozes das rádios comunitárias da Rocinha. Ligar o nome à pessoa é uma tarefa difícil. Oriundo da cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, ele se mudou com sua família para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. O FALA ROÇA foi até a casa do locutor para saber um pouco mais do trabalho realizado por ele.
Antes de entrar para o mundo do rádio, K-Max começou cantando funk com seu amigo Alex Silva, conhecido como Alex DJ. Amigos desde os 12 anos de idade, a dupla imitava cantores da época em que o funk ficava cada vez mais popular e os bailes se multiplicavam. Ao mesmo tempo, o ritmo começou a ser alvo de ataques e de preconceito da sociedade. “Na década de 90, todo mundo sonhava em cantar. Infelizmente as brigas nos bailes fez com que meus pais me proibissem de ir a esses lugares.”.
A ida para o rádio aconteceu depois de conhecer o locutor David Guerra na Rádio Rocinha. “Um dia o Alex fez um refrão de uma música e me chamou para cantar. Terminamos a música juntos e fomos cantar ela na Rádio Rocinha”, diz ele. Um amigo de K-Max tinha um horário na rádio e ofereceu meia hora para que ele mostrasse seu talento. Dali em diante, sua vida mudou. Com esses minutos, K-Max apresentou um programa romântico e começou a ganhar audiência. “Líamos muitos pedidos dos ouvintes. A partir disso, eu comecei a ficar interessado pelo rádio e iniciei minha carreira na Rádio Rocinha como radialista”, conta.
Ele trabalhou durante dois anos na Rádio Rocinha e depois mudou-se para a Rádio Katana, onde ficou por oito anos. Nessa rádio, ele apresentou um programa de funk e outro de pagode, o Pagodeando com Kmax. Antes disso, apresentou o programa William DJ , no qual fez parceria com David Guerra, Alex DJ e o próprio William Oliveira. “Apresentar um programa de rádio com o William DJ foi muito bom porque com ele aprendi muita coisa. Ele foi a ponte para os meus primeiros contatos com os artistas da época, como o Bonde do Vinho. Ele foi um dos grandes responsáveis por eu ter reconhecimento”, destaca.
No final de 2010, o radialista saiu da Rádio Katana e foi trabalhar na Rádio Brisa para apresentar o programa O Fervo. Durante as transmissões da rádio, ele tem a ajuda de uma equipe formada por Helio Santos (direção geral), Diogo Rodrigues (fotógrafo), Sampaio Correa (filmagem) e o trio de apoio Alan Delon, Fabricio Carvalho e Wesley Marinho.
Sua primeira entrevista com famosos foi antes de iniciar os trabalhos na Rádio Brisa. “Uma entrevista que marcou a minha vida foi com a dupla Serginho e Lacraia na Rádio Katana. Na época eles estavam bombando’’.
Em seu currículo de entrevistas, o locutor tem o orgulho de ter recebido no programa O Fervo, grupos de pagode como, Imaginasamba, Nosso Sentimento, Pixote e Swing & Simpatia. Ele também abriu as portas para entrevistar Anitta e Naldo Benny, na época conhecido como MC Naldo. A atração comandado por ele também discute questões sociais e recebe personalidades como o deputado federal Jean Wyllys para debater assuntos que estão em alta na sociedade.“O programa não se limita apenas ao funk ou ao pagode. Abrimos espaços para falar de homossexualismo, bullying e racismo”, afirma.
“Graças a Deus, durante esses anos de carreira, eu pude construir uma amizade muito boa no rádio e tenho reconhecimento nos lugares onde eu chego” – K-max
Em 2014, K-Max completará 16 anos como radialista. Durante esse tempo, ele conta que obteve conquistas, mas diz que também enfrentou algumas dificuldades. “Locutar em rádio comunitária não é fácil. Você precisa amar o que faz. Se você for pensar apenas no financeiro, não adianta.” Ele também destaca que as condições das rádios em que trabalhou nem sempre foram as melhores. “Teve uma vez que fui locutar e encontrei a rádio alagada. Pior que isso, era ir locutar e encontrar alguns equipamentos quebrados ou queimados. Passei por muitos perrengues”, conta.
No auge da carreira, o radialista recebeu um convite inédito: locutar e entrar ao vivo ao mesmo tempo em uma TV comunitária. “A minha transição do rádio para a TV foi engraçada. Um amigo filmou meu programa na rádio e levou para transmitir na antiga TV ROC. Todo mundo começou a curtir o programa e fomos convidados a entrar ao vivo na TV. Era complicado, pois ao mesmo tempo em que eu locutava pro rádio e eu tinha que me virar na TV’’.
Por toda sua história no mundo do rádio, K-Max vem colhendo os frutos que plantou. “Graças a Deus, durante esses anos de carreira, eu pude construir uma amizade muito boa no rádio e tenho reconhecimento nos lugares onde eu chego”. Ele conta que muitos artistas se oferecem para ir ao programa .“Uma vez ouvi um artista falando para mim que eu era referência em rádio comunitária dentro da Rocinha”.
Poucos sabem, mas K-max já trabalhou como locutor no comércio popular do SAARA, no centro do Rio, e também já vendeu doces na entrada da favela. Sua voz é conhecida em diversos lugares devido à sua originalidade e versatilidade. Mesmo com todo o reconhecimento, ele diz que ainda tem um sonho a realizar. “No programa O Fervo temos ouvintes espalhados por diversas cidades no Brasil. Nosso desejo é levar o programa para uma rádio de grande porte”, conta
De noite ele faz seu programa no rádio e de dia ele exerce outro trabalho em uma instituição judaíca. O radialista afirma que pensou em estudar psicologia caso a carreira de locutor fracassasse. “Eu pensei em seguir a carreira de psicólogo porque eu gosto de conversar com as pessoas, entendê-las e orientá-las”, diz ele.
Para ele, a importância social das rádios comunitárias é inegável. “Os moradores gostam de ouvir o que acontece de bom ou ruim na comunidade. Na maioria das rádios, existe o serviço de achados e perdidos e moradores que queiram divulgar a própria música. A parte comunitária das rádios é importante para ter credibilidade no serviço.”