Viradão Cultural coloca juventude no centro do debate

O Viradão Cultural da Rocinha segue a todo vapor! Na parte da tarde, a mesa “Como a juventude se conecta à ancestralidade e cria novas expressões na favela” debateu estratégias e ações realizadas por jovens para acessar direitos e dignidade. 

O debate contou com a mediação de Camila Carvalho, coordenadora da Agenda Rocinha 2030; além da participação de Pedro Henrique Ferreira, ator da Globo e professor de teatro e dança na Associação Semearte; Ronald Sorriso, secretário nacional da juventude; e Davison Coutinho, coordenador do Núcleo de Estudos e Ação Mundo da Juventude.

Camila abriu os trabalhos versando sobre o tempo e a importância de valorizar o presente. Pensar na ancestralidade não é coisa do passado, mas sim uma urgência do agora. “Quando a gente está falando de ancestralidade, a gente tá falando de presente.  A gente tá falando de vocês! Não temos tempo para o futuro. O futuro é agora. E hoje, a gente vai resgatar esse presente”, afirmou Camila.

A plateia estava recheada de pessoas de todas as idades: jovens, pessoas mais velhas e, sobretudo, alunos do Semearte, que vieram prestigiar Pedro Henrique, que entrou na companhia aos 9 anos de idade. Hoje, ele brilha na novela Dona de Mim com o personagem Lucas. O teatro foi o que moldou suas artes, responsabilidades e caráter.

“A mídia tem uma visão da favela muito distante. Para eles, favela é só crime e tráfico. E é completamente diferente. Por onde eu for, vou falar sempre de onde eu vim. Quando eu tive contato com a arte, uma chave virou na minha cabeça. Fico muito feliz de inspirar outros jovens e falar para eles que é possível. Nunca foi só sobre arte, mas sim sobre o que você pode ser”, contou Pedro.

E quando o assunto é ancestralidade, também há um encontro de gerações. O coordenador do Núcleo de Estudos e Ação Mundo da Juventude, Davison Coutinho, é neto de Zé do Queijo, figura emblemática na história da Rocinha. Hoje, como coordenador do NEAM – PUC Rio, ele usa a educação como ferramenta de transformação social para moradores de  favela. Ele conta que a caminhada até aqui não foi fácil. Davison enfrentou desafios como todo menino favelado. Mas fez das oportunidades uma chance de mudar o rumo de sua história. 

“Minha própria história é um caso de transformação social. Eu conheci o NEAM com 12 anos. A cultura é muito mais do que pensar nas artes. É como a gente vive, como a gente se veste, o que a gente come. Nossos corpos comunicam nossas culturas. E isso a gente não pode esquecer. A gente quer ver gente feliz. O contrário de pobreza é dignidade. O que o NEAM quer é isso: transformar as pessoas através da  educação e trazer um pouco mais de dignidade para as pessoas”, afirma Davison. 

Se cultura é direito, precisamos falar de política. Cria de São Gonçalo, Ronald Sorriso ocupa um cargo no governo federal. Ao longo do debate, ele explicou a importância desse espaço na construção de políticas públicas de melhoria e avanço para todas as populações. Para ilustrar, ele deu exemplo do programa Pé de Meia, incentivo financeiro a estudantes de escolas públicas do Brasil, e fez um paralelo com a sua própria vivência enquanto estudante. 

“O jovem quer ser protagonista da própria história. Quando a gente abre o livro da nossa vida, é a gente que quer contar nossa própria história. Quando o jovem pobre desce pra ir pra escola o que tá faltando é o tênis ou a mochila. Muitas vezes, saí de casa com o tênis rasgado, sabe? O Pé de Meia nesse sentido dá autonomia. O que a gente precisa muitas vezes é do agora. A juventude não é só o futuro. É um processo social que forma valores e, consequentemente, forma a sociedade”, compartilhou Ronald.

O público não poupou perguntas e comentários aos palestrantes. Uma jovem chamada Ingrid, cria do Chapadão, emocionou a todos presentes ao perguntar como levar iniciativas sociais para sua favela. O questionamento despertou memórias e inspirações nas lideranças e aprofundou a importância de eventos e debates como esse.