Programa ‘Livros que Viajam’ é iniciado na Biblioteca Parque da Rocinha

Projeto impulsiona acesso à livros e incentiva leitura para jovens, formações e oficinas literárias

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“Infelizmente, nem sempre tive acesso a livros por serem caros”, explica Márcia Freitas, de 46 anos. Moradora da parte baixa da Rocinha, estudante de produção cultural e atriz, ela participa do projeto: “Livros que Viajam”, que acontece na Biblioteca Parque da Rocinha C4. O lançamento, que aconteceu em maio, reuniu  autores locais como Joilson Pinheiro, Einstein Negralha e integrantes da  Roda Cultural da Rocinha para conversar com jovens moradores da favela sobre a importância da leitura. 

Realizado pelo Instituto TamoJunto (TMJ) junto com a Secretaria Municipal de Cultura e o Núcleo de Estudo e Ação Mundo da Juventude (NEAM), da PUC-Rio,  o projeto foi escolhido pelo edital Rio Capital Mundial do Livro – Edição Cultura Viva, além de contar com a parceria da Oi e do Ministério da Cultura.  A ideia é tornar a leitura acessível para todos e promover a inclusão e a valorização das narrativas periféricas.  

Segundo o Painel do Varejo de Livros no Brasil, o preço médio de um livro no Brasil é de R$44,56. Com 60,1% da população vivendo com até um salário mínimo por mês – cujo valor é de R$1.518 – o acesso a livros é restrito.  

Em média, comprar um livro custa até 2,94% do salário, que é equivalente a um pacote de 5kg de arroz e 2 pacotes de 1kg de feijão. O preço alto dos livros pode ser a razão para os brasileiros estarem lendo menos. Em 2024, o percentual de pessoas que não leram nenhum livro chega a 53%, de acordo com a pesquisa da Retratos da Leitura no Brasil. 

O estudo indica que o país perdeu quase 7 milhões de leitores nos últimos quatro anos. Por isso, o objetivo do projeto “Livros que Viajam” é incentivar a leitura entre o público jovem através da formação de mediadores culturais no morro. “Um projeto desse tipo acontecendo  dentro da comunidade abre portas para nós [moradores]. O conhecimento é libertador e a leitura é muito importante”, afirma Márcia. 

Fotos: Cadu Paiva / NEAM PUC-Rio

Para Dandara Lourdes, 36, gerente de territórios e cidadania cultural da Secretaria Municipal de Cultura do Rio, a abertura do edital Rio Capital Mundial do Livro na Rocinha serviu de prévia do que será o projeto “Livros Que Viajam”. 

“A expectativa é alta com o projeto. As pessoas que estão à frente são pessoas responsáveis, organizadas e potentes. Vimos aqui que fizeram um ótimo trabalho, trouxeram atuantes na área do slam [batalha de poesia na batida do rap] e da literatura. Esperamos que os jovens consigam ter essa formação de agentes literários”, afirma Lourdes.

Dobradinha

Além do ‘Livros que Viajam’, outro projeto do morro também foi selecionado para participar do  edital da Prefeitura do Rio: o “Balaio de Livros: Tecendo Histórias na Rocinha”. A iniciativa, desenvolvida pelo Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) e realizada na Biblioteca Parque da Rocinha, forma crias da favela em literatura infantil por meio da troca de ideias e ações pedagógicas com profissionais. 

As aulas do projeto “Livros que Viajam” acontecem  às quartas  e sextas-feira, de 15h às 17h, na PUC-Rio e na Biblioteca Parque da Rocinha. Cada mês com atividades específicas para  uma turma de 30 jovens. 

No último mês de maio, jovens da Rocinha tiveram a chance de realizar oficinas de formação para mediadores culturais com foco na comunicação. Já em junho e julho, os alunos vão colocar as práticas aprendidas no território. Já em setembro, os jovens vão realizar  o Festival Literário da Rocinha. Nos meses de outubro a dezembro, a turma fará a organização e edição dos materiais do projeto, tendo o encerramento do projeto na Rocinha. 

Davison Coutinho, 35, é um dos idealizadores do projeto. Para ele, a maior favela do Brasil não poderia ficar de fora das atividades da cidade escolhida como a capital mundial do livro. 

“Temos [aqui na Rocinha] pessoas que escrevem e tem muita capacidade, mas não conseguem tirar as ideias do papel porque falta recurso. Quando surgiu a oportunidade de participar deste edital, sabíamos que era nossa chance de possibilitar a cultura da leitura e periferia dentro do Rio de Janeiro por meio desse projeto. Esse projeto é para mostrar a força literária da Rocinha”, ressalta  Davison.

Ele também avalia o impacto inicial causado pelo projeto: “O que tivemos aqui na abertura foi mágico! Vemos esses jovens na fala da galera fazendo slam, falando sobre representatividade, falando sobre o que é ser negro, ser favelado e trazendo isso como um espaço cultural que faz parte da leitura. Esses jovens começam a ficar antenados. Cada um que sai daqui hoje, sai um pouco diferente após lidar com a leitura”.

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