Agenda 2030 Rocinha debate futuro da favela com moradores

Na sede do Fala Roça, participantes debateram questões relacionadas ao saneamento básico, aos resíduos e à mobilidade na comunidade

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A Agenda 2030 Rocinha realizou a primeira roda de conversa com moradores do morro na sede do Fala Roça. O encontro, que ocorreu em setembro, reuniu mais de dez participantes e teve como objetivo discutir os principais desafios que a população da maior favela do Brasil enfrenta, além de pensar em soluções a longo prazo para problemas cotidianos. 

Moradores discutem futuro da Rocinha e constroem a Agenda 2030. Foto: Michelle Veríssimo

Para fortalecer o debate, a organização convidou Gaio Jorge, engenheiro de alimentos e representante do bioma Mata Atlântica na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30). 

Durante duas horas, os participantes pontuaram problemas que afetam o dia a dia na favela. Os principais tópicos foram a falta de saneamento básico, o acúmulo de resíduos sólidos espalhados pelo bairro e as dificuldades de mobilidade. 

Para Thiago Andryw, de 24 anos, estudante de psicologia e morador da Travessa Gregório, parte baixa da Rocinha, foi uma ótima oportunidade para destacar a favela na pauta climática e na construção de políticas públicas. “É importante que a gente [cria de favela] reserve um tempo e espaço na agenda para debater esse tipo de assunto que impacta todas as pessoas, afeta o mundo e, principalmente, nós [favelados] que estamos em um território mais vulnerável”, frisou.  “A Rocinha faz fronteira com os bairros mais ricos do Rio de Janeiro [São Conrado, Gávea e Leblon]. É preciso que os recursos públicos também cheguem aqui para melhorar nossa situação. Achei incrível e importante estar reunido com moradores que pensam no futuro e no diálogo entre a favela e o mundo”, acrescentou Thiago.

Ele reforçou ainda a necessidade da participação dos moradores em encontros como esse. “Assuntos como a falta de saneamento básico, mobilidade, resíduos sólidos, impactam lugares de forma diferente. Esses problemas são vividos por pessoas que moram aqui na favela. Não tem como pensar soluções se não chamar as pessoas para o debate, para propor ideias, conversas, soluções. Espero que as questões que foram debatidas e as demandas sejam atendidas pelas autoridades políticas.” 

A Rocinha tem um histórico de vulnerabilidade diante de situações climáticas. Segundo o estudo Rio 60º C, é o bairro com maior índice de casas com riscos de deslizamentos por causa das chuvas extremas no Rio de Janeiro. São pelo menos 11 mil domicílios em risco, sendo 1,4 mil classificados em risco muito alto de desastre. 

Por outro lado, é também uma das favelas que mais produz lixo na cidade. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) coleta cerca de 140 toneladas de resíduos por dia na região, de acordo com a estatal.

Para Gaio Jorge, a existência de uma Agenda 2030 da Rocinha, inspirada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), fortalece a conscientização de pautas ambientais, sociais e econômicas, além da criação de políticas públicas. “Acredito que o intuito dessa agenda é acessar os espaços da favela, principalmente os espaços críticos. Também tem como objetivo que os moradores e a sociedade civil participem do processo de construção e melhoria do território”, pontuou. 

É ter o olhar da favela para as coisas que acontecem dentro da favela, ele destaca. “A construção das agendas, seja no Complexo do Alemão, Rio das Pedras, Rocinha, acontece por uma necessidade de organizar e reparar o território. Ela [as agendas] costura as demandas e coloca de uma forma assertiva e com a cara da favela ”, explicou o ativista.

O engenheiro também ressaltou a importância da tecnologia social na construção das agendas locais, principalmente na Agenda 2030 Rocinha.  “A Rocinha poderia dar aulas para o mundo sobre construir de forma coletiva. Há muitas construções que acontecem com o espírito de comunidade aqui e em outros lugares, como os mutirões de limpeza. É uma metodologia que se aprende nas favelas e periferias, mas pode se replicar em todos os lugares do mundo” acrescentou. “É necessário ter a participação social porque é o único caminho para salvar o planeta. A Agenda 2030 Rocinha vai tentar trazer uma Rocinha mais fresca, mais limpa, mais unida, ou seja, uma Rocinha mais feliz.” 

A cofundadora da Agenda 2030 Rocinha, Camilla Carvalho, diz que se sentiu impactada com a primeira roda de conversa com moradores de diferentes localidades da favela. 

“Saio muito feliz e realizada após essa primeira reunião. Não pensei que conseguiríamos mobilizar lideranças comunitárias tão diferentes em uma segunda-feira à noite. Acredito que vem um futuro de muita articulação coletiva na Rocinha. Conseguimos ter a noção de quais são as principais questões que o morador enxerga como problema e precisa de melhoria.”

Entre os próximos passos, ela indica, estão a estruturação do plano e a mobilização de mais moradores para discutir o futuro da favela. “A Agenda 2030 Rocinha é um instrumento norteador para incidência política e articulações locais, então, vamos focar mais na estruturação da agenda para captar recursos, reajustar o cronograma e trazer mais agentes mobilizadores. Estamos nos reunindo semanalmente para desenvolver o produto final, que é a agenda para a população local.” 

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