Quem foi Zoi, morador que morreu após cair de uma ambulância em movimento no túnel Zuzu Angel

Secreataria Municipal de Saúde diz que Reginaldo Ferreira Marinho, 47, que vivia em sofrimento psíquico, 'enganou os profissionais da ambulância e saltou'

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Reginaldo Ferreira Marinho, de 47 anos, vivia em sofrimento psíquico desde muito jovem. Sem família presente e enfrentando um vício em drogas que o acompanhava há muito tempo, o morador da Rocinha deu entrada no Hospital Municipal Miguel Couto no último dia 7 e morreu no dia 8 de dezembro, após complicações de um traumatismo craniano.

Reginaldo pulou de uma ambulância em movimento, no Túnel Zuzu Angel. A morte ocorreu dois dias depois da queda. Segundo moradores, houve falhas na assistência médica e o paciente não teve supervisão adequada de um profissional.

Reginaldo Marinho, de 47 anos, morreu após cair de uma ambulância

Em um vídeo, Reginaldo aparece caído no chão, aparentemente dopado e usando apenas uma fralda, protegido por mototaxistas. As imagens viralizaram em canais de TV e redes sociais.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde chamou Reginaldo de “usuário de drogas” e o responsabilizou por sua queda. “O paciente RFM (Reginaldo Ferreira Marinho), de 47 anos, usuário de drogas, no dia 06/12, às 13h, estava sendo transferido do CER Barra para o CAPS Maria do Socorro, na Rocinha. Durante o transporte, o paciente enganou os profissionais da ambulância, conseguiu destravar a porta traseira e, na tentativa de fuga, ele saltou da ambulância com o veículo em movimento no Túnel Zuzu Angel”, afirma a nota.

“[Reginaldo] foi contido e levado de volta para a ambulância. Chegando ao CAPS, tomou banho, vestiu-se sozinho e saiu à revelia da unidade 40 minutos depois”, continua o comunicado.

A pasta acrescenta que ele foi resgatado pelo SAMU no dia 7 “em cena de uso de drogas e levado para a UPA Copacabana. Segundo o prontuário da unidade, o paciente tinha sinais de intoxicação por cocaína e traumatismo craniano. Devido à gravidade do quadro, foi transferido para o Hospital Municipal Miguel Couto, mas faleceu na segunda-feira, 8”.

No entanto, moradores questionam o procedimento adotado. “Isso tem que ser investigado e os responsáveis responderem por isso. Não faz sentido uma pessoa sob cuidados conseguir se jogar de uma ambulância e isso ficar impune”, publicou Edipo Duarte, na página do Instagram RocinhaCast.

A notícia da morte gerou grande comoção. “Mais um personagem ícone da favela que se vai. Que encontre felicidade no mundo espiritual”, escreveu Joelson Vianna em uma das páginas de bairro.

A história de Zoi

Reginaldo Marinho, era conhecido por muitas pessoas na favela. Foto: Renato Errejota

Com alma de andarilho, Zoi percorria toda a Rocinha. Era conhecido por todos, dos mais velhos às crianças. Pegava transportes entrando pela parte de trás, exercendo, do seu jeito, o direito de ir e vir. Muitos o identificavam pela frase que repetia diariamente, expressando um único desejo: “Me dá um real?”

Zoi era acompanhado pelo CAPS Maria do Socorro Santos há vários anos, um dos poucos espaços onde encontrava acolhimento: podia se alimentar, se higienizar e receber atendimento psicológico.

Ele vivia em situação de rua desde a morte da mãe, Maria Marinho, moradora da Cachopa, na parte alta da Rocinha. Com o falecimento dela, ficou sem qualquer familiar na comunidade que cuidasse dele. Segundo moradores, Reginaldo era natural de Varjota, no Ceará.

Antes de seu sofrimento se agravar, já havia sido baterista em uma igreja, em cima da antiga Caixa Econômica no Caminho dos Boiadeiros, por volta de 2003, e chegou a ajudar comerciantes da Curva do S a cuidar de lojas. Em alguns momentos tentou se libertar do vício com apoio de pessoas que se solidarizavam com sua situação.

O sepultamento de Reginaldo ocorreu no dia 9, no cemitério do Pechincha.

Sofrimento psíquico
É uma experiência de dor emocional e mental, marcada por sentimentos como angústia, tristeza, ansiedade e desesperança, que afeta o equilíbrio psicossocial do indivíduo. Pode se manifestar por mudanças de humor, isolamento, negligência do autocuidado e conflitos internos. Geralmente está relacionado as situações de estresse, traumas e vulnerabilidades sociais, e exige acolhimento e, em muitos casos, acompanhamento profissional para sua compreensão e cuidado.

Se você ou alguém que você conhece está vivendo um momento de sofrimento psíquico, procure ajuda. O cuidado em saúde mental é um direito e pode ser acessado gratuitamente pelo SUS.

Na Rocinha, os atendimentos estão disponíveis em:

  • Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza (Curva do S)
  • Centro Municipal de Saúde Dr. Albert Sabin (Rua 1)
  • Clínica da Família Rinaldo De Lamare (São Conrado)
  • CAPS III Maria do Socorro Santos (Curva do S)

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