Obras e manutenções da prefeitura tentam reduzir riscos de alagamento, mas moradores ainda vivem no improviso

‘Eu vejo muita gente passando pela água de esgoto, água de barro, criança… esse perrengue todo’, desabafa Edson Silva, 55, morador que limpa valas da Rocinha

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Com a chegada do verão e o aumento das chuvas, muitos moradores da Rocinha seguem enfrentando problemas básicos de saneamento. Em vários becos e vielas, o serviço público não chega, as valas continuam entupidas e obrigam a população a se mobilizar por conta própria. 

É o caso de Edson Silva, de 55 anos, conhecido como Cara Suja.“Eu vejo muita gente passando pela água de esgoto, água de barro, criança… esse perrengue todo”, desabafa.

Edson Luiz, o “Cara Suja”, faz o serviço de limpeza das valas há 7 anos na Rocinha. Foto:Karen Fontoura

Ele está entre os poucos que realizam esse trabalho manualmente. Para conseguir atuar com mais segurança, precisou comprar parte dos equipamentos do próprio bolso. “Peguei esse trabalho não para mim, mas para ajudar a comunidade”, explica.

A demanda é grande e vem de diferentes partes da Rocinha. “A Rocinha toda me chama: Cachopa, Dioneia, Rua 1, Rua 2, Laboriaux… todo mundo.”

Edson ainda reforça a importância da colaboração de quem vive no território, especialmente nos trechos onde o poder público não consegue acessar. “A comunidade tem que ter consciência: pô, o cara tá ajudando aí, vamos dar uma moral.”

Apesar do esforço dos moradores, a região ainda enfrenta a falta de manutenção contínua e obras estruturais. 

Atuação dos serviços na região

Nos últimos meses, alguns serviços vêm sendo realizados pela Águas do Rio e a Fundação Rio-Águas, em pontos específicos, como valão, no complexo esportivo e na linha da morte, como forma de prevenir transtornos durante o verão.

A dragagem das valas é uma das principais ações, necessária por causa do grande acúmulo de lixo que chega aos esgotos. De acordo com a Fundação Rio-Águas, somente em novembro foram retiradas mais de 81 toneladas de material assoreado e resíduos do Canal da Rocinha, na região do Valão e na caixa de retenção localizada no Complexo Esportivo da comunidade.

Equipes atuam na limpeza do Canal da Rocinha para evitar transtornos durante o verão. Foto: Arquivos Fundação Rio-Águas

A ausência de obras estruturais nas áreas de habitação e saneamento, como o fechamento de valas e a instalação de pontos de coleta, influencia as condições de limpeza em áreas internas da comunidade, como a Vala da Rua 4.Os principais pontos de retirada ficam em áreas mais baixas da favela, mas, devido à dinâmica da Rocinha, regiões como Cachopa, Rua 4, Rua 2 acabam ficando sem manutenção e com acúmulo de lixo, o que exige um trabalho integrado entre diferentes órgãos.

Em outubro, a Águas do Rio concluiu uma obra aguardada há mais de 20 anos pelos moradores da Linha da Morte. A intervenção considerada complexa e realizada até com técnicas de rapel limpou e revitalizou a área, implantou 15 metros de rede de esgoto e construiu dois poços de visita, estruturas que permitem a inspeção e manutenção da rede subterrânea.

Segundo Rodrigo Pereira, gerente de Operações da Águas do Rio, a intervenção trouxe mais do que infraestrutura. 

“Além de sanar o problema do esgoto, a nossa atuação melhorou a qualidade de vida da população. Mais do que infraestrutura, o saneamento básico é uma forma de inclusão social e um caminho para reduzir desigualdades.”

Intervenção aguardada há 20 anos revitaliza a Linha da Morte e instala nova rede de esgoto. Foto: Arquivos Águas do Rio

Enquanto parte das obras avança, a realidade de muitos moradores continua marcada por improvisos e riscos. 

Em dias de chuva, o acúmulo de resíduos e esgoto afeta diretamente quem circula diariamente nos becos.  Para minimizar os danos e a ausência do Estado, Edson e a própria favela se mobilizam como podem. “A gente tem que trabalhar em equipe, uma equipe faz a força e a força faz a união”, enfatiza Edson, que reitera a necessidade de conscientização da população para um trabalho em conjunto com os serviços que atuam no território.

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