Paulo Cesar “Amendoim”, o pai do turismo na Rocinha, morre aos 62 anos
Figura icônica e morador da Rocinha há 60 anos, o mineiro Paulo César Martins Vieira, conhecido como “Amendoim”, morreu na noite desta quinta-feira (13/02), aos 62 anos. A informação foi confirmada pela família nas redes sociais. A causa da morte não foi revelada.
“É com muita dor no coração que venho comunicar que meu pai Paulo César Martins Vieira Vieira faleceu nesta noite. Ele já não estava bem de saúde há muito tempo e com a partida da minha mãe (sua companheira de vida) ficaria difícil ele resistir, pois seu amor por ela era a coisa mais linda que eu já vi na vida”, publicou um dos filhos de Amendoim, como era conhecido na Rocinha.
Paulo César “Amendoim” é considerado o pai do turismo na Rocinha por ter iniciado a atividade na década de 1970. Ele trabalhava como engraxate na porta do Hotel Nacional, em São Conrado, e levava hóspedes para visitar a Rocinha. Dono de uma carisma e conhecimento do morro fez com que a Lonely Planet, maior editora de guias de viagem do mundo, o tornasse referência mundial como guia turístico de favela. Amendoim também era vice-presidente do Fórum de Turismo da Rocinha e criador do Favela Tour Rio.
A origem do apelido envolve uma história engraçada. Um dia ele foi comprar feijão e confundiu com amendoim. Curioso, ele experimentou e gostou. De tanto comer, sentiu dor de barriga e quando a mãe dele chegou à noite para fazer o feijão, tinha pouca quantidade. Ele apanhou a noite inteira e a história se espalhou pela favela.
Na ditadura, ele estudou na escola pública Ademar Campos. E as vezes apanhava porque escrevia com a mão esquerda. Anos depois, assimilou que as agressões seriam por conta das ideologias políticas.
Entre o esporte e a educação
Nos anos 70, ele era considerado uma das grandes esperanças do atletismo brasileiro. Antes disso, ele foi jogador de futebol das categorias de base do Flamengo. Em 1973, um ex-dirigente do Flamengo conseguiu uma bolsa de estudos para ele na Universidade Gama Filho e ele deixou o Flamengo. Recebeu propostas do Fluminense, Quênia e da Universidade Gama Filho.
Competindo pela faculdade, Amendoim conquistou o campeonato carioca de atletismo, o 6° lugar no brasileiro estudantil e representou o Brasil no sulamericano da Argentina.
Em 1974, ele quebrou o recorde carioca estudantil para os 800 metros, com 1m59s – o recorde anterior era de 2min5s. Um ano depois, foi pra Alemanha e quebrou um recorde na prova de cross-country. Depois participou das eliminatórias do Mundial Estudantil, realizado na França. Venceu nos 1.500 metros e estabeleceu o novo recorde brasileiro de 4min4s6.
Ele encerrou a carreira no fim de 1975 alegando problemas físicos, como estiramento muscular e nas amídalas.
Amendoim soube aproveitar as oportunidades que recebeu. Por ter viajado para países da Europa, ele aprendeu a falar inglês, espanhol, alemão, francês, japonês e mais três idiomas. Fez graduação em Letras, Administração e Turismo. Além de ter participado de um curso de extensão sobre educação, saúde, meio ambiente e educador social na PUC-Rio.
Quando investiu de vez no turismo, a imagem mais marcante que os moradores tem dele é o raminho de arruda preso nas orelhas. Os turistas também recebiam um pedaço para colocar nas orelhas. Amendoim dizia que era um remédio natural eficaz contra mosquitos, principalmente, a dengue. Pelos becos, os moradores pegavam os galhos que sobravam do guia turístico.
Fama e movimento político
Paulo César ficou nacionalmente conhecido após participar do programa “No Limite”, em 2000, na TV Globo. O programa ficou marcado por causa do racismo sofrido pelo morador da Rocinha. Em 2016, a Justiça proibiu que o reality show fosse reprisado por conta do xingamento racista.
Amendoim também era filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Participou da gestão de uma das associações de moradores da Rocinha e foi candidato a deputado federal em 2002 e, em 2004, disputou uma cadeira de vereador. Nas duas vezes concorreu pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e não foi eleito. Participou da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO) e criou o primeiro núcleo do movimento na Rocinha.
Entre 2004 e 2008, ele comandou o projeto Segundo Tempo, no extinto Umuarama Gávea Clube, localizada no alto da Rocinha. O projeto terminou após cortes de repasses do Ministério do Esporte.
*Amendoim concedeu entrevista ao Fala Roça em novembro de 2019, com o mesmo sorriso de sempre, embora estivesse com problemas de saúde. A entrevista não foi concluída por conta do tratamento médico. Deixamos aqui nossos sentimentos aos familiares e amigos.
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