Carlan Renato da Silva, de 55 anos, nasceu na Rocinha, mas morou durante 20 anos no Estados Unidos da América (EUA). Filho de uma americana com um brasileiro, Zezinho – como prefere ser chamado – tem dupla nacionalidade. Ele retornou para o Brasil em 2007.

Insatisfeito com o rumo de sua vida no país mais desejado pelos brasileiros, o carioca chegou a morar em ruas do EUA. Mas foi no retorno ao Brasil que ele reencontrou a felicidade: morar na Rocinha. “A Rocinha me recebeu como uma mãe. Tem muita gente carinhosa e boa, mas infelizmente a mídia não mostra”.

Trabalhando há cerca de 11 anos como guia turístico local, os moradores que sobem e descem os becos e vielas da Rocinha se esbarram diariamente com Zezinho e os turistas que ele guia morro abaixo.

Zezinho já deu cerca de 150 pulseiras em apenas um dia. (Foto: Michel Silva/Fala Roça)

É tanto amor pela favela que Zezinho fez questão de tatuar o nome da Rocinha em seu antebraço direito. Desde 2013, ele dá pulseiras de borracha com a frase “Eu amo a Rocinha” para moradores e turistas. Porém, é necessário responder uma questão que muitas pessoas tem a resposta na ponta da língua. “Você ama a Rocinha?”, pergunta ele ao abordar uma senhora próximo a uma lanchonete em uma rua do morro. Segurando as sacolas de mercado, ela questiona quanto custa e Zezinho retruca. “Nada”. A senhora esbanjou um sorriso que é difícil de se ver atualmente na favela. As pulseiras servem como um medidor de autoestima.

“A vida em uma favela é um desafio para muitas pessoas aqui. Eu não sou rico, mas queria dar algo pequeno e com significado especial. Eu queria que este projeto de pulseira fosse um construtor de autoestima para uma parte da comunidade que muitos desconhecem”.

De acordo com Zezinho, aproximadamente 90% das pessoas respondem que amam a Rocinha num momento em que a favela está vivenciando novos episódios violentos de confrontos armados. Percebe-se que para Zezinho, o amor pela favela transcende o barulho dos fuzis.

São tantas pulseiras dadas que alguns moradores fazem até coleção. Cerca de 20 mil pulseiras já foram parar nos braços de moradores e turistas que também querem levar como lembrança. Com o dinheiro recebido pelos trabalhos de guia local, ele gasta R$ 500,00 para encomendar duas mil pulseiras no exterior, cuja unidade custa apenas R$ 0,25.

No início, Zezinho abordava as pessoas para dar as pulseiras, entretanto, ele era confundido como uma pessoa da igreja ou um pedinte. Depois foi sendo reconhecido como um amante da Rocinha. “Só quero um sorriso, só isso”. A Rocinha é uma favela que tem um comércio diversificado, meios de transporte, agências bancárias e uma riqueza cultural. “A Rocinha tem tudo. Como você não pode amar?”.

Dependente do turismo, a última vez que Zezinho comprou as pulseiras foi antes de setembro de 2017 – quando os confrontos armados se intensificaram na Rocinha. Só o tempo dirá quando o morro terá de volta a tão sonhada paz. “Você ama a Rocinha?”, questiona Zezinho ao repórter. A resposta muda foi respondida com um sorriso e um braço esticado pronto para receber uma pulseira.

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