Tomógrafo da Rocinha é fechado por causa de dívida criada por Crivella

A obra no terreno da Igreja Universal custou R$ 500 mil aos cofres públicos no ano passado
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Capim alto, portão fechado com cadeado e sem funcionários. Assim é a imagem que se vê passando em frente ao centro de imagem construído dentro do terreno da Igreja Universal do Reino de Deus, no acesso à Rocinha. O tomógrafo está inoperante por causa de uma dívida de R$ 3 milhões com uma empresa contratada na gestão de Marcelo Crivella. O problema também afeta outros 11 tomógrafos na cidade.

Os contratos com a AMO-RX Imagens Rio Radiologia LTDA, responsável por operar os tomógrafos, foram assinados em junho do ano passado. Sem repasses há 9 meses, a empresa decidiu paralisar os atendimentos porque não tinha dinheiro para pagar os funcionários.

Em consulta ao Contas Rio, ferramenta de divulgação de informações das Contas Públicas do município, os dois contratos assinados nos dias 18 e 24 de junho totalizaram R$ 10.950.018,00 milhões pelo período de seis meses. Porém, a empresa só recebeu R$ 388.158 mil pelos serviços prestados.

Sem funcionários, centro de imagem da Rocinha está fechada desde o fim de março. Foto: Michel Silva/Fala Roça

Segundo o administrador da AMO-RX, Adriano Mofato Pinto, o valor da dívida da prefeitura é uma estimativa com base na quantidade de exames realizados. “Todo mês somamos todos os exames e multiplicamos pelo valor cobrado em cada unidade. Assim é cobrado o valor a ser reembolsado para nossa empresa. Cada tomógrafo gera um processo de cobrança. Então todos os meses entregamos vários processos. Eles [a prefeitura] deveriam pagar todos, mas infelizmente não pagam”, conta o administrador.

Em 2020, o centro de imagem na Rocinha contava com 14 técnicos de radiologia e 4 administrativos durante 24h por dia. Meses depois, o efetivo e o horário foram reduzidos à metade. Aproximadamente 2100 tomografias e 1050 exames de raio-x foram realizados no tomógrafo da Rocinha.

Empréstimos para não quebrar

Sem repasses da prefeitura, Adriano Mofato Pinto explica que precisou pegar um empréstimo bancário e garantiu os pagamentos dos funcionários até setembro do ano passado. “Depois vendi carro e equipamentos e paguei outubro. Com o recebimento do valor pago por eles, paguei novembro. Agora estou atrasado por falta de recursos para pagamento. Mas a equipe confia tanto na empresa que não pararam de trabalhar, porque sabem que vou honrar com eles”, lamenta.

A Prefeitura do Rio ainda não assinou o contrato de 2021 com a AMO-RX, embora tenha feito alguns atendimentos este ano. Para receber, será necessário fazer um processo de reconhecimento de dívida da prefeitura. “Se por um acaso se esgotar as vias amigáveis, aí sim buscarei meus direitos na justiça”, finaliza Mofato que acredita em um acordo entre as partes.

Em nota, a prefeitura disse ao Fala Roça que “devido a inconformidades no contrato emergencial realizado pela Gestão Crivella, a Secretaria Municipal de Saúde não poderá renovar o contrato com a empresa AMO, sendo obrigada a suspender estes serviços temporariamente.”. 

Relembre a inauguração

Sem imprensa, Crivella inaugurou o tomógrafo no terreno da igreja na manhã do dia 3 de junho de 2020. Crivella esteve no local acompanhado do secretário municipal de infraestrutura e assessores locais sem divulgar nas redes sociais e canais oficiais da prefeitura.

A instalação do tomógrafo no terreno da igreja Universal do Reino de Deus foi autorizada pela Justiça do Rio após a prefeitura ter recorrido da decisão que ordenava a instalação na UPA da Rocinha. Na época, Crivella disse que após a pandemia da Covid-19, a estrutura será desmontada e instalada na UPA. A obra na igreja custou R$ 500 mil aos cofres públicos.

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