Do Orkut ao delivery de hambúrguer: lan houses da Rocinha resistem ao tempo

As lan houses foram um fenômeno nas favelas ao conectar moradores à internet, promovendo inclusão digital e modernizando o comércio
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Muito além dos games, agora elas são espaços de educação e capacitação profissional na Rocinha

As lan houses da Rocinha estão diferentes. Populares nos anos 2000, as lan houses, em um ambiente compartilhado repleto de computadores, elas sanavam a necessidade da população no Morro de acessar a internet, na falta de um computador em casa. Nos becos e ruas da Rocinha era comum se deparar com superlotação das lan houses. Frequentada majoritariamente por jovens, as lan houses serviam como ponte para conectar o Morro ao mundo.

“Frequentava bastante uma lan house na localidade do Valão. Esperava na fila e quando conseguia mexer no computador, acessava as minhas redes sociais da época: Orkut, MSN e Facebook para falar com outras pessoas”, conta Rayani Lima, de 27 anos, moradora do Valão, na Rocinha.

As lan houses foram um fenômeno nas favelas ao conectar moradores à internet, promovendo inclusão digital. Mas, com o avanço do acesso à população de baixa renda ao crédito, além da vinda dos smartphones — um computador de mão — elas começaram a minguar nas favelas e outros bairros do Rio de Janeiro. 

Para sobreviver, os estabelecimentos se reinventaram. Muitas se transformaram em uma mistura de papelaria e lanchonete, com acesso a serviços de internet para os clientes que buscassem serviços gerais, como uso de e-mail, emissão de documentos e acesso a redes sociais na internet.

Um exemplo dessa transformação é a Street Cyber, uma lan house localizada na Travessa Oliveira número 20, parte baixa da Rocinha. Lá, os moradores têm acesso e auxílio para navegar na rede, resolver problemas no site do DETRAN, realizar trabalhos escolares, jogar games online, além de matar a fome. A lan house funciona ainda como uma hamburgueria e oferece serviços de papelaria. 

Computadores dividem espaço com lanchonete na Street Cyber, na parte baixa da Rocinha. Foto: Rodrigo Silva

“Antes da pandemia era movimentado. O que me salvou é que coloquei a hamburgueria seis meses antes da pandemia. As lan houses estão sendo extintas porque o celular faz quase tudo que um computador faz. Sabia que em 5 ou 10 anos não teria a clientela da lan house, então decidi investir no ramo da hamburgueria com delivery.” declara Natália Melo, proprietária da Lan House Street Cyber.

A antiga lan house 457, atual Papelaria 457, localizada em frente a ladeira da Cachopa na Estrada da Gávea, também modificou o ramo do negócio. “Essa mudança de lan house para papelaria ocorreu no período da pandemia, pois essa cultura (das lan houses) já estava baixa. A transformação de lan house para papelaria foi uma virada de chave”, afirma Victor Vital, funcionário da Papelaria 457.

Esse processo de transformação das lan houses em point de fast food e papelaria não é um fenômeno apenas em favelas como a Rocinha. Em Porto Alegre, diversas lan houses fecharam e, as que seguem abertas, agora, oferecem acesso a serviços na internet para quem não tem computador em casa ou quem precisa acessar o portal de serviços públicos. 

As lan houses formaram uma febre em todo território nacional. Eram responsáveis 49% dos acessos de brasileiros à internet, em 2007, segundo o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic). 

Apesar da queda na procura pelos espaços, as lan houses ainda são necessárias. Em 2022, um levantamento realizado pela TIC Domicílios revelou que: 36 milhões de brasileiros não possuem internet, concentrando 42% dessas pessoas na região sudeste.

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