Chef Batista, cozinheiro há 38 anos, fala sobre vida e empreendedorismo

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“Cadê a cebola, Batista?”. Assim começa o dia de trabalho de uma dupla gastronômica que alegra as tardes na TV. Entre sorrisos e ensinamentos culinários, dois Batistas, unidos há 40 anos, seguem uma parceria que poderia não dar certo entre um francês e outro nascido no interior da Paraíba.

Jean Baptiste Claude Troisgros e João Batista Barbosa de Souza são as almas gêmeas da cozinha brasileira. O refinamento da cozinha francesa e o conhecimento do tempero brasileiro que Batista carrega desde criança deram a liga perfeita para essa união tão duradoura.

Nascido na cidade de Gurien, no interior do Estado da Paraíba, nosso entrevistado fala, comovido, que, aos 8 anos, começou a ajudar a avó a descascar legumes e cebolas no restaurante de propriedade dela. Foi quando ela percebeu que ele já sabia fazer arroz lavado. Ficou até a idade de 15 anos, quando se mudou para João Pessoa para trabalhar como estoquista.

Chegou ao Rio de Janeiro aos 17 e foi morar com o tio na Rua Conde Bernadotte, no Leblon. Como todo porteiro sabe muito sobre a redondeza, o tio descobriu um restaurante bem pequeno cujo cozinheiro francês precisava de alguém para ajudá-lo. Começou essa parceria intensa e extensa ao longo dos anos. Celebridades globais passaram a frequentar o restaurante, aumentando a clientela a ponto de o espaço não conseguir mais atender a todos. Daí para chegarem à TV, foram poucos meses.

“Que Marravilha”, com o sotaque impagável do Claude, deu o chute a gol para os dois. Depois vieram uma série de outros programas, como o “Chato pra Comer”. A amizade dos dois é plenamente visível. Batista recorda que estavam em Recife e uma vidente o parou para cumprimentar e, em seguida, disse que os dois teriam sido irmãos em outra encarnação. Ele ficou meio cético, e a pessoa continuou, dizendo da coincidência de eles terem nascido em cidades pequenas e hoje viverem em capitais aqui e no exterior com sucesso. 

Batista com o chef francês Claude Troisgros, parceiro de longa data. Foto: Reprodução/Mestres do Sabor

Anos mais tarde, Batista foi a Rouen, cidade do interior da França onde nasceu Claude. Então ele viu que, neste ponto, a vidente tinha razão. Gurien, tão interiorana quanto a pequena cidade francesa, embora a do seu nascimento fosse mais desenvolta, na sua concepção.

Passaram-se os anos, sucesso alcançado, veio a pandemia. O nosso assessor de cozinha deixou de lavar pratos há muito tempo e desenhou, administrou, fez cardápio para realizar um belo sonho: ter um restaurante para chamar de seu. Em 2022, o Do Batista, restaurante instalado no Norte Shopping, em Del Castilho, quase fechou as portas. Continua firme e forte assim como o dono.

O menino de Gurien mostrou-se um empreendedor. Tem um sítio na Bahia, na cidade de Alagoinhas, uma casa na Pedra de Guaratiba onde descansa nos fins de semana, e comprou sua parte nas casas de herança da família. Enfim, aplicou bem os seus ganhos. Os filhos, todos formados: João foi para a informática, Júlia é fotógrafa e Bruno, administrador, todos frutos do primeiro casamento. Mas eis que Bernardo, aos 5 aninhos, quer ser igual ao papai. Quer ser cozinheiro! O DNA já realizou a passagem do bastão, perto da realização do nosso entrevistado. Na família, só a sua irmã Luciana ficou com o comércio da comida. Tem uma lanchonete na sua cidade natal.

Sonhos? Planos? Pretende fazer franquias do seu cardápio e outro restaurante, graças a Deus, próximo à Rocinha, no Barra Shopping. Quando perguntado por que não instalou outros comércios pelo Brasil afora, responde com uma frase nordestina lapidar: “O boi só engorda com os olhos do dono”, ou seja, ele não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Isso é que é juízo, né não?.

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