
Aplicativo “Na Favela Turismo” impulsiona turismo na Rocinha
Parte da renda obtida pelos passeios é reinvestida em ações de melhoria dos espaços visitados.
Implementado em dezembro, o aplicativo “ajuda a profissionalizar guias locais e a identificar novas áreas que podem virar pontos turísticos na favela
O aplicativo “Na Favela Turismo” tem reinventado a experiência de quem visita à Rocinha. Idealizado por moradores, a plataforma já contabiliza mais de 88 mil visitantes só neste ano, ampliando a circulação de turistas e fortalecendo o turismo comunitário nas favelas da Zona Sul.
A Rocinha, por sua dimensão e história, sempre despertou curiosidade de visitantes do mundo todo. A favela com 72 mil habitantes e com 30 mil domicílios ocupados, de acordo com IBGE de 2022. Com isso, moradores decidiram desenvolver uma ferramenta para qualificar a experiência do turismo no morro e promover a profissionalização de guias locais, impulsionando a revitalização de áreas da comunidade, como Dioneia, Laboriaux e o Beco do Atalho.
Além de mapear rotas turísticas, o aplicativo também coleta dados sobre a circulação de turistas na Rocinha e no morro do Vidigal. Para os envolvidos na construção do aplicativo, esse monitoramento é parte importante do projeto. “A existência de dados é fundamental para cobrar e direcionar políticas públicas para o turismo nas favelas”, explica Izabela Botelho, moradora e conselheira na criação da ferramenta.
O aplicativo “Na Favela Turismo”, idealizado por Renan Monteiro, também realiza formações para guias e mototaxistas, que trabalham como mototour. Parte da renda obtida pelos passeios é reinvestida em ações de melhoria dos espaços visitados. É o caso da Mureta da Dioneia, que ganhou uma arte grafitada ao longo de 50 metros do muro, retratando a história dos mototaxistas da Rocinha. O local se tornou ponto fixo dos percursos da visita feita na garupa das motos.
A Mureta da Dioneia é um dos locais da Rocinha que oferece uma vista panorâmica da comunidade e do Morro Dois Irmãos. Além da mureta, a trilha do Sítio dos Macacos também foi recuperada pelo empreendimento turístico. O local passou por uma grande limpeza com a retirada de lixo e reabertura da rota para receber visitantes com mais segurança.
Turismo reinventado por moradores
O aumento da procura por atividades dentro da favela criou novas oportunidades para os moradores. Diversas famílias passaram a adaptar áreas da própria casa para oferecer experiências locais aos visitantes que vêm de diversos estados brasileiros e do mundo. Inclusive, os locais já fazem parte do catálogo do aplicativo.
Entre esses espaços está a Laje Vista Show, da moradora Simone Campos, na Rua 1. Ela procurou a associação de moradores e os criadores do aplicativo e articulou para que eles incluíssem a laje dela como mais um ponto turístico.
“Pra gente, turista não é turista: é visita! O que oferecemos aqui é troca, não espetáculo”, ressalta Simone, de 51 anos. Para ela, abrir sua casa é uma forma de combater os estigmas que recaem sobre a favela.
“O que mais me dói é ver a favela rotulada. A gente é trabalhador, tem caráter, tem história. E eu quero mostrar isso!”
Com o crescimento das visitas, Simone conseguiu direcionar parte da renda ao tratamento da filha, que sofre com uma doença respiratória grave. Ela deixou o trabalho de vendedora para se dedicar aos cuidados, mas reforça: “Não quero que ninguém venha aqui por dó. Quero que venham porque ofereço um serviço de qualidade e uma experiência verdadeira.”
A laje construída “tijolo por tijolo” tornou-se um espaço sustentável e acolhedor, sem afastá-la da família. Com apoio do marido, que também tem experiência no turismo, a laje, que ganhou nome de “Vista Show”, oferece dança coletiva, drinks, jogos, como futebol de moeda, e uma recepção afetuosa para quem chega na Rocinha.
Para os guias, o aplicativo também abriu caminhos de profissionalização em áreas que antes não faziam parte do horizonte deles. O turismo de base comunitária aliado a tecnologia do aplicativo tem incentivado para muitos o retorno aos estudos, aprendizagem de novas habilidades e a valorização da Rocinha..
“Hoje faço espanhol, estou aprendendo inglês e quero estudar francês, alemão e italiano. O que eu espero é que os jovens da comunidade vejam o turismo como um potencial. Que a gente seja um espelho para as próximas gerações”, destaca Fellipe Mendes, 33 anos, guia turístico e morador da Rua Nova.





