
Da Rocinha para o Mundo: Danrley Ferreira
Conheça a história por trás do cria Danrley Ferreira, que acumula mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais.
Cria da Rocinha, acumula mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais, influenciando através da educação e do esporte
Danrley Ferreira, de 28 anos, carrega a fala de quem aprendeu desde cedo o valor da educação e do esporte. Ex-participante do Big Brother Brasil, o estudante de pedagogia e influenciador, transforma sua trajetória em inspiração para mais de um milhão de seguidores, unindo esporte e sala de aula como caminhos de mudança.
Para ele, crescer na Rocinha foi determinante na formação da sua identidade porque o fez enxergar de perto as desigualdades do Rio de Janeiro e do Brasil, o que despertou o desejo dele de contribuir para transformar a realidade do lugar que o formou.
“Hoje, a Rocinha é muito tranquila. Na minha infância muitas vezes era um lugar violento e perigoso, mas infelizmente a gente que mora aqui acaba naturalizando isso. Cresci entendendo as mazelas do Brasil e do Rio de Janeiro. Isso fez com que eu quisesse de alguma forma tornar esse lugar melhor”
De acordo com Danrley, os professores tiveram um papel decisivo em suas escolhas. Foram eles, os primeiros a enxergar o potencial de Danrley, incentivando-o a entrar em uma universidade, dando suporte financeiro e educacional.
“No ensino fundamental, comecei a ter boas notas e participações em olimpíadas de matemática e português. Os professores começaram a me dar mais atenção e direcionamento, diziam que eu chegaria em uma Universidade Federal. Teve um professor que tirou do próprio bolso [dinheiro] para pagar a inscrição de prova para eu fazer. Aquilo chamou a minha atenção. Por esse motivo, me tornar professor passou a ser um propósito de vida.”
Hoje, cursando Pedagogia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele enxerga a educação como meio de retribuição. Quer devolver à comunidade o mesmo incentivo que recebeu. “Os meus professores me ajudaram muito a trilhar esse caminho e chegar até a universidade. Eu quero muito fazer isso por alguém um dia também, sabe? Isso passou a ser um propósito meu. Eu não conseguia me ver fazendo mais nada.”
Educação e Propósito
As conquistas acadêmicas e esportivas eram motivo de orgulho entre familiares. Milena Ferreira, irmã de Danrley, lembra com emoção o dia em que o irmão foi selecionado para as Olimpíadas de Língua Portuguesa, representando o Rio de Janeiro em Porto Alegre.
“Foi uma emoção muito grande. Eu sempre disse que ele seria o filho que daria um futuro melhor pros meus pais. Ver aquilo acontecendo foi gratificante demais. Ele viajou até com o braço engessado, mas foi. Desde novo mostrava que nada o impedia de correr atrás.”
A professora Verônica Machado de Oliveira acompanhou de perto essa jornada. Ela recorda que Danrley era um aluno tímido, curioso e sempre pronto a ajudar os colegas.

Foto: Arquivo Pessoal /Verônica Machado de Oliveira.
“Ele era um menino muito educado, comprometido e com uma sensibilidade diferente. Gostava de escrever, participava das atividades com entusiasmo. Era muito maduro para a idade”.
Se na sala de aula Danrley aprendeu a sonhar, no pátio da escola, ele aprendeu a correr aos 11 anos. “O meu primeiro contato com o atletismo, esporte que eu faço até hoje, foi na escola. Um dos meus professores decidiu inscrever a escola num campeonato de atletismo. Foi a primeira vez que eu pisei em uma pista. Ali eu pensei: “isso aqui é muito maneiro!” Eu fiquei apaixonado!”
O esporte mudou a vida de Danrley e, hoje, é mais do que apenas um hobby. “Eu trabalho com isso, sou patrocinado por grandes empresas por causa do esporte. Além de todos os benefícios que trouxe para minha vida, eu vou para Colômbia correr uma prova, eu vou receber para isso. Entende o potencial de mudança que isso teve na minha vida?”
Voz da Favela

Danrley tem mais de um milhão de seguidores no Instagram. Ele usa as redes sociais para falar sobre educação, esporte e representatividade. A presença digital dele é marcada por uma comunicação acessível e inspiradora, sempre reforçando o valor das origens. “Comecei mostrando que a Rocinha era um lugar comum, não esse perigo todo que dizem por aí. Muitas vezes, essa é a visão que as pessoas criam baseadas em novelas e filmes, que a favela é só pobreza”.
Apesar da visibilidade conquistada com o Big Brother Brasil – ele participou da 19° edição – e com as redes sociais, Danrley segue ligado às origens e à família.
“Sempre que tem datas especiais, ele faz questão de reunir todo mundo. Ele está sempre presente, é muito família. O que ele pode fazer para ajudar a gente, ele faz”, conta a irmã Milena Ferreira. E completa: “Ele mostra que quem mora na comunidade também pode chegar longe, e sem precisar mudar quem é”.
Para Danrley, família é a base de tudo. “A gente sempre foi uma família feliz, independente de ter dinheiro ou não. Sempre prezamos muito pela união. Minha mãe me ensinou muita coisa. Meu pai também, é um cara trabalhador, honesto. Então, isso valeu muito mais do que qualquer coisa que eles poderiam ter me dado. Eles são grande referência pra mim”, destaca o ex-bbb e influenciador.
Atualmente, Danrley deseja terminar a faculdade e seguir com seu propósito de vida: ajudar pessoas. Quero finalmente olhar para todas as pessoas que me ajudaram e falar: “deu certo!” Quero que minha mãe tenha um filho formado. Eu vou trabalhar com algo que é um propósito para mim e que vai impactar diretamente na vida das pessoas, espero eu de forma positiva”
* Reportagem de Gabriela Pereira e Rodrigo Guimarães – A matéria é fruto da parceria entre a disciplina de Extensão em Jornalismo e Cidadania, do curso de Comunicação da PUC-Rio, ministrada pela professora Lilian Saback, e o jornal Fala Roça. A colaboração, iniciada em 2022, busca promover uma formação jornalística mais humana, que desafie estereótipos e repense as narrativas sobre a favela.





