Quem é Emerson Fit, o novo presidente da Associação de Moradores da Rocinha
Sem crer no resultado, Fit venceu com uma diferença de 19 votos do segundo colocado, o William de Oliveira, da chapa 5
Com uma votação mínima diante da quantidade de habitantes na Rocinha, 2583 mil moradores definiram o futuro do comando da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR) nos próximos 4 anos (2021-2024) no domingo (13/12), na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. Emerson Ferreira da Silva, de 48 anos, foi eleito o novo presidente da associação de moradores da Rocinha com 444 votos.
Sem crer no resultado, Fit – primeira vez como candidato – venceu com uma diferença de 19 votos do segundo colocado, o William de Oliveira, da chapa 5. “Deu zebra!”, comentaram alguns candidatos.
Nascido e criado na Rocinha, casado, pai de cinco filhos e fundador de uma escolinha de futebol há 18 anos na quadra da Roupa Suja, Fit é sucinto quando o assunto é ele. “Ninguém me conhece pelo nome, mas todos me chamam de Emerson Fit porque eu nasci em 1972 e meu pai era fã do automobilista Emerson Fittipaldi e ele foi campeão naquele ano”.
O professor de futebol estudou nas escolas públicas ao redor da Rocinha até concluir o ensino médio. Na adolescência, trabalhou em lanchonete, padaria, foi entregador e balconista. Tentou ser goleiro no Bonsucesso e Olaria, entretanto, foi desacreditado por causa da baixa estatura.
Foi no esporte que encontrou seu caminho de vida. Após ‘sobrar’ no Exército, ele fez um curso de recreação e se especializou na área. Nunca mais parou de buscar conhecimento.
Quem descobriu as habilidades de Emerson Ferreira foi Valdemir Souza, o “Kuca”, referência em futebol na Rocinha e que faleceu em julho deste ano aos 51 anos devido a complicações de saúde. Na década de 90, Fit foi auxiliar de Kuca na Igreja Metodista Suzana Wesley, no Caminho do Boiadeiro. “Eu era o cara que ficava por último, carregava as bolas, arrumava as coisas e tal. Batia papo com as crianças e ele ficava me observando, aí ele falava: daqui a um tempo eu vou sair e você continua”, lembra ele.
Mas Fit não deu continuidade ao trabalho de Kuca na Metodista. No começo dos anos 2000, Emerson conheceu José Martins de Oliveira, um dos fundadores da Associação de Moradores do Bairro Barcellos (AMABB) e presidente por dois mandatos. “Eu saí da metodista, fiz alguns bicos e depois soube que estavam precisando de um recreador na ASPA (Ação Social Padre Anchieta) e ele disse que ia me contratar já falando que ninguém conseguia ficar muito tempo na vaga. Fiquei 10 anos no cargo”, conta.
Na ASPA, implantou o próprio modelo de escolinha de futebol e a recreação das crianças. Com o fim do contrato, resolveu criar a própria escolinha de futebol batizada de “Crianças do Futuro”, também conhecida como escolinha do Fit.
Referências políticas
Emerson não segue uma corrente política fixa. Defende o diálogo com diversos políticos e tece elogios e críticas aos últimos governantes. “Eu era muito fã do Lula por ser sindicalista, ele governou durante 8 anos com a classe trabalhadora. Também notei o Witzel. Agora o negócio vai, mas acabei tendo decepções. Eu tive breve contato com Marielle Franco e gostei. Virada para as causas que ambos defendemos, as carências das comunidades e acabei me identificando com ela”, analisa.
Questionado sobre o governo Bolsonaro, o recreador se apressou em dizer que não é bolsonarista porque “tudo que ele disse que ia fazer na política dele, ele falou que não ia fazer e está fazendo. É manobra para dar cargo pra um, é Centrão, não vou fazer isso e aquilo. Eu tive admirei alguns políticos. Hoje não tenho nenhum”.
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