A favela venceu ou a favela é potência?
Recentemente o uso de tais expressões ficou popularizado, principalmente, nas redes sociais por meio de influenciadores digitais que emergiram de regiões periféricas. É importante exaltar os valores e as conquistas da população favelada, mas é preciso tomar cuidado para não glamourizar a realidade precarizada em que está submetida a maioria das pessoas que residem nessas regiões.
Segundo o estudo Estatísticas de Gênero, realizado pelo IBGE, as mulheres pretas e pardas são mais afetadas pelas desigualdades na educação, no mercado de trabalho, na renda e na representatividade política. Inclusive, esse mesmo grupo representa a maioria de vítimas de homicídios contra mulheres praticados fora do domicílio e têm o maior percentual de pessoas em situação de pobreza.
É possível deduzir que muitas dessas mulheres resistem contra toda forma de opressão entre becos e vielas das favelas brasileiras. Nesse contexto, os dados divulgados pelo IBGE no Dia Internacional da Mulher deste ano propiciam uma leitura que diverge da afirmação que a favela venceu – já que as mazelas sociais persistem em fazer vítimas nesses territórios, apesar das conquistas alcançadas através das mobilizações comunitárias nas últimas cinco décadas.
Conquistas comunitárias que ajudaram a catalisar todo o potencial existente nas periferias, sobretudo, no âmbito cultural e econômico que começam a ser disputados pelo mercado e politicamente. Mas isso não faz da favela uma potência como um ato em plenitude, justamente pela ausência de políticas públicas que possibilitem o desenvolvimento das comunidades em diferentes segmentos sociais.
É de suma importância reconhecer que a favela tem potencial para estar integrada na malha urbana como parte essencial da cidade. No entanto, para falar que favela é potência, temos que fazer a analogia filosófica da semente que é uma árvore em potência, que precisa vivenciar o seu processo de transformação.
*Foto de capa: Fernando Frazão/Agência Brasil