O futuro verde que brota do morro

Passado agrícola da Rocinha ainda pode ser encontrado em várias regiões da favela; um novo futuro está nascendo aqui.

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A Rocinha nasceu verde. Antes das casas empilhadas nos barrancos, havia plantações: milho, mandioca, feijão. Os pés descalços da roça ainda pisavam esse chão quando os primeiros barracos surgiram, empurrados pela falta de política pública e pela expulsão da população pobre do Centro e da Zona Sul do Rio. Cem anos depois, a fome ainda ronda as mesmas famílias largadas à própria sorte. Mas é também aqui, na favela, que pode nascer uma nova resposta.

O debate sobre a fome no Brasil voltou aos holofotes após declarações infelizes do bilionário Ricardo Faria, o “rei do ovo”, que atacou beneficiários do Bolsa Família dizendo que “pobres estão viciados em ajuda do governo”. É curioso como parte da elite insiste em repetir, com orgulho, a mesma fórmula de sempre: culpar o povo por estar com fome.

A fome não é resultado de preguiça. É o produto de um sistema que concentra terra, dinheiro, poder. Por isso, ao olhar para o futuro, imaginamos uma Rocinha onde a terra – mesmo que pouca – volte a alimentar o corpo e a dignidade de seus moradores. Hortas nas lajes, quintais produtivos, escolas com agricultura urbana, alimentos frescos a preços justos, geração de renda, soberania alimentar.

Uma favela futurista não é feita de arranha-céus nem de carros voadores. É feita de justiça. E isso inclui garantir que ninguém durma com fome. Se o Estado se ausenta, a favela planta. Nesse reencontro com suas origens agrícolas pode florescer um novo modelo de combate à pobreza. Porque aqui, onde sempre disseram não haver solução, ela já começou a brotar.

A fome não é natural. É política. E se a política falha, a favela planta. A solução está aqui – no broto das hortas, nas mãos que cultivam o que o Estado nega. Porque, no fim, é da terra que brota o futuro.

Boa leitura!


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