Dia 29 de Janeiro é o Dia da Visibilidade Trans. No Brasil, país majoritariamente cristão, é comum ouvirmos discursos de pastores e padres condenando a homossexualidade e a transexualidade. Entretanto, não é possível afirmar que todas as denominações cristãs ou mesmo que outras religiões não se relacionam bem com a comunidade LGBTQIAP+. 

Há estudos que indicam ser possível surgir até quatro mil novas nomenclaturas religiosas todos os anos, de diferentes vertentes, e algumas das religiões mais tradicionais do mundo possuem discursos diferentes de líderes brasileiros de grande expressividade. 

A relação da igreja católica com os novos modelos de famílias, onde impera a homossexualidade, é apenas um dos temas de estudos do padre e professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, Luís Corrêa Lima, que viaja pelo Brasil e exterior levando a mensagem de aceitação da comunidade com a religião católica e de que nenhum ser humano é mero hetero ou homossexual, mas antes de tudo uma criatura divina. 

O padre é dirigente espiritual do grupo Diversidade Católica onde acompanha e desenvolve um trabalho com católicos homossexuais e transexuais  e de suas complexas relações com a religião. Cerca de 3 mil pessoas já participaram das atividades do grupo. 

“Pensar a realidade da população LGBT+, na perspectiva da teologia, exige, antes e tudo, deixar-se sensibilizar por suas dores e conflitos penosos, bem como reconhecer seus talentos, contribuições e possibilidades, superando estigmas que, desde há muito tempo, construíram concepções sexualizadas e jocosas dessa população que, ainda a duras penas, alcança maior visibilidade.”, explica Luís Corrêa Lima.

O grupo também é responsável por produzir artigos e publicou o livro Teologia e os LGBT+, referência no tema abordado em suas pesquisas. “O objetivo do livro é encorajar a derramar óleo e vinho nas feridas humanas e colaborar para o progresso da religião. Nossas palavras podem salvar vidas, ou podem destruí-las.”, afirma Padre Luís Corrêa. 

A aposentada e moradora da Rocinha, Maria do Carmo, de 64 anos, é mãe de uma mulher trans. Através do grupo católico, ela buscou compreender as vivências familiares envolvendo sua filha. “Eu estava sofrendo e não entendia ainda o que estava acontecendo com meu filho, até então filho. Rezei muito para que Jesus tirasse o preconceito de mim, que eu nem sabia que tinha, o que eu puder fazer para o povo entender que gays, lésbicas e trans são normais eu vou fazer”, diz ela que complementa: “Estou cortando o cabelo com uma trans, minha médica é lesbica, eu aprendi muito com minha filha e aprendo com as pessoas que vão no grupo. Eu pensei que iria sentir saudades do Lucas, mas quando vi a Maria fiquei tão feliz. 

O Papa Francisco declarou na última quarta-feira (26/1) que os pais não devem condenar filhos homossexuais, mas oferecer apoio a eles. “Pais que vêem orientações sexuais diferentes nos filhos, como lidar com isso e acompanhar os filhos e não se esconder no comportamento de condenação. A esses pais eu digo que não se espantem. Há muita dor, muita, mas pensem no Senhor, pensem em como José resolveu os problemas e peçam a José que os ajude. Nunca condenar um filho”, disse Francisco.

O que dizem algumas religiões:

Judaísmo – A homossexualidade é citada no livro Levítico do Torá, quando diz que a relação sexual entre dois homens é uma abominação. (Lv 18, 22): “Não te deites com um homem como se fosse com mulher”.

No passado, o sexo entre dois homens era considerado um crime nas comunidades judaicas e podia ter como consequência a pena da morte. Hoje, não há mais a pena de morte e o judaísmo ortodoxo, inclusive, reconhece a atração entre dois homens e a existência da homossexualidade, mas não permite o ato sexual e pede para os homens controlarem os desejos deles. A lesbianidade não é citada diretamente no Torá, mas também não é aceita. As práticas orais da religião proíbem relações sexuais entre duas mulheres.

Cristianismo

A mesma citação do Torá está presente no Antigo Testamento da Bíblia Cristã, considerada por católicos e tida como única bíblia para os protestantes. Entretanto, no Brasil, já existem diversas nomenclaturas cristãs – adventistas, anglicanos, batistas, católicos, ortodoxos, luteranos, metodistas, mórmons, pentecostais, presbiterianos, entre outros – e, dentro dessas vertentes, uma série de templos que fazem novas interpretações da Bíblia, adaptadas ao tempo de hoje, como é o caso das igrejas inclusivas, que aceitam a homo e a transexualidade.

Espiritismo

Apesar de muitos afirmarem que o espiritismo é uma religião cristã, por terem fé na figura de Jesus Cristo, a maioria desses fiéis são regidos dentro do Kardecismo. Na obra “Vida e Sexo”, publicada pela Federação Espírita Brasileira, psicografada por Chico Xavier e atribuída a Emmanuel, os espíritas abordam as definições de casamento, homossexualidade, amor livre, aborto, prostituição, adultério e até terapia.

Os temas são tratados com naturalidade e o que importa é a provação dos indivíduos em suas reencarnações, buscando sempre melhorar o espírito. Já no Livro dos Espíritos, fica claro que não importa se a pessoa reencarnou homem ou mulher, mas as escolhas da pessoa durante a vida para enfrentar as dificuldades.

Umbanda

Religião brasileira, resultado de sincretismo, a Umbanda possui orixás que se apresentam em mais de uma forma, como o caso de Oxumaré, que pode aparecer como mulher, homem ou serpente. A religião acolhe os LGBTQIAP+ e os aceita em seus cultos e reuniões.

Candomblé

As religiões de matriz africana acolhem a população LGBTQIAP+. Entretanto, em alguns centros candomblecistas, é possível que haja costumes específicos que ferem a dignidade dessa população, principalmente de pessoas trans, que podem ser impedidas de viver a identidade de gênero plenamente.

Islamismo

As opiniões islâmicas sobre a homossexualidade são muito variadas e têm sofrido modificações ao longo da história. O Alcorão e alguns Hadith condenam de forma quase explícita a relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Duas suratas mencionam a história do “povo de Lot”, que teria sido destruído por permitirem “atos homossexuais”. No islamismo, é possível ter a homossexualidade caracterizada como sodomia, que pode ser punida com a morte, como acontece em diversos países majoritariamente islâmicos.

Hinduísmo

Há diversos exemplos de LGBTQIAP+ na mitologia e crença hindu. Há divindades que mudam de gênero, manifestando-se com sexos opostos ou até de forma intersexual. A modificação acontece com o objetivo de facilitar a relação sexual entre as divindades. Também há seres não-divinos que passam por mudanças de sexo por meio da intervenção dos deuses, como resultado de maldição ou bênção ou ainda como resultado natural de sua reencarnação.

Budismo

Os praticantes dessa fé e filosofia de vida, costumam encarar o ato sexual como prejudicial na busca pela iluminação, que é o objetivo central do budismo. Contudo, a prática sexual não é distinguida entre homossexual e heterossexual. Toda relação é uma distração desnecessária. Algumas vertentes do budismo não pedem para reprimir os desejos ou os pensamentos, mas, tem-se claro que para atingir o estado de Buda, iluminado, o caminho é outro que não o dos desejos mundanos.

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