Na Rocinha, moeda fictícia é usada por alunos de projeto social ao invés de receber cesta básica
Cansado de doar cestas básicas, o lutador e morador da Rocinha, Diego Buchecha criou moeda social – chamada Down – dentro do projeto social de muaythai Nockdown Brasil mantido em um espaço no Valão, uma localidade na parte baixa da Rocinha. A iniciativa de educação financeira visa preparar e conscientizar as crianças sobre a vida adulta.
“Eu estava inquieto. Na minha cabeça não era só ajudar. Eu achei que só a cesta básica, estava ajudando sim, mas estava ajudando no momento. E eu não quero ajudar só no momento, quero prepará-los para a vida.”, diz Diego Buchecha, mestre em muaythai.
Com um salário mensal de mil downs, as crianças atendidas podem comprar alimentos ao invés de receber diretamente como doação. As regras para receber a remuneração são simples: comportamento, documentação em dia e não faltar nos treinos que acontecem 2 vezes por semana.
Enquanto as próprias notas de downs não são impressas, o projeto improvisa as atividades econômicas com notas de reais sem valor. O “mercadinho” divide espaço com os tatames onde os alunos participam dos treinamentos.
E não para por aí. “Com esse dinheiro a criança faz as compras no final do mês. Mostraremos para a criança como funciona a vida adulta. Eu não quero só ajudar ela agora e depois quando ela estiver adulta ajudar os filhos dela não.”, explica Buchecha na presença dos responsáveis das crianças.
Relatos da fome
Os projetos sociais nas favelas possuem muitos relatos de famílias passando por insegurança alimentar. As experiências de Diego Buchecha são situações reais sem perspectiva de fim. “Um dia uma aluna de aproximadamente 8 anos, pediu para não colocar a luva na hora que pedi , pois ia começar a parte técnica do treino. Eu questionei e falei: como você vai treinar Muaythai, sem luva? Ela me respondeu: eu não gosto de muaythai tio, eu prefiro balé. Então perguntei: por que você vem para o muaythai, se você não gosta? A resposta dela me quebrou, pois ela respondeu: porque pelo menos aqui eu como alguma coisa.”, relata.
Em outro caso mais recente, a mãe de um aluno agradeceu a iniciativa do professor pela doação de uma cesta básica, pois segundo ela, naquele dia a família não tinha nada para comer. “Ela me falou isso com lágrimas nos olhos e falou que tava indo pra casa correndo para fazer, pois eles não tinham comido nada o dia inteiro.”, relembra.
A comercialização fictícia de alimentos é um movimento inicial para as próximas etapas da iniciativa. “Oriento a guardar o que sobrar, pois tudo no projeto vai girar em torno dessa moeda. Os passeios, uniformes, festas.”. finaliza o Buchecha.
O projeto social aceita doações financeiras para manter o espaço ativo e fornecer lanches nos intervalos das atividades esportivas. Além disso, o Nockdown Brasil busca doação de material esportivo para ampliar o atendimento a crianças na Rocinha. Falar com Diego Buchecha pelo número (21) 97179-2640