Moradores da Rocinha criam alternativas para estilo de vida ativo na favela

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A geografia da Rocinha cheia de becos, vielas e rampas já fazem os moradores sem perceber praticar exercício físico no vai e vem dentro e fora do morro. Mesmo assim, muitos não dispensam o hábito de praticar atividades físicas em lajes, academias públicas ou privadas e até nas areias da praia de São Conrado, considerada o quintal da Rocinha.

“Faço musculação em academia privada e futevôlei na praia de São Conrado. Pratico porque gosto muito! Me sinto bem fazendo e diminui minha ansiedade. É importante também para o [meu] físico e [saúde] mental, para não se tornar uma pessoa sedentária”, explica Carla Souza, de 20 anos, moradora da Cachopa, parte alta da Rocinha.  

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 47% dos brasileiros são sedentários. O volume aumenta para 84% quando avaliam apenas jovens. Em busca de melhores hábitos de vida para promoção de bem-estar e saúde, vale tudo: praticar musculação com ferros ou garrafas pets cheias de areia, aulas de hidroginástica, yoga e outros exercícios orientados por profissionais de educação física e a praticar esportes como corrida ou apenas caminhada.

Segundo a avaliação do profissional de educação física e pós-graduando em Treinamento Físico e Reabilitação de Lesões, Rai Silva, 45 anos, realizar tarefas do cotidiano dentro e fora da favela, não é suficiente para combater o sedentarismo de forma benéfica para a mente e corpo. 

“Subir ou descer a Rocinha é um tipo de exercício, só que não é sistematizado, não é direcionado por profissionais [da área de saúde] e isso leva a um risco de lesão. Todo esforço que você faz, de forma repetitiva, tem risco de gerar uma lesão. Ter um programa de exercício sistemático que dure pelo menos uns 30 a 40 minutos, durante três vezes na semana, é fundamental para minimizar o risco de lesões ao longo do tempo”, ressalta Rai.

A consciência da importância do hábito de praticar exercícios, inclusive, já leva os moradores a improvisar. É o caso de Ana Paula Barbosa, conhecida como Paula Montinny, de 42 anos. Moradora da localidade Paula Brito, parte alta do morro, que transformou o espaço dentro de casa em academia. 

“Pratico exercício em casa por ser mais cômodo e econômico. Tenho pesos que [eu] produzi com areia e água dentro de garrafas pet e elásticos que ajudam nos exercícios. Já malhei em academias, mas eram muito cheias e com professor que não dá atenção. Quando me dei conta de fazer exercício em casa, foi muito melhor.”, pondera. E completa: “Coloco no Youtube exercícios e música, faço yoga e tenho a possibilidade de fazer exercício no horário que [eu] quero dentro do meu quarto”. 

Para Daniel Lira, de 25 anos, estudante de Educação Física, ter o hábito de praticar atividade física na favela não é fácil pela falta de acessibilidade. “A Rocinha não tem muitos pontos para realizar exercícios físicos por ter limitações de espaço e locomoção para os moradores.  [Há] Idosos, adolescentes, que não conseguem ter essa facilidade de se locomover até a praia ou um lugar mais aberto”, opina. 

Cria do Morro e praticante de exercícios desde os 12 anos, ele reivindica mais espaços para treino adequado na favela. “Têm as academias da terceira idade na Curva do S, na praça da UPA e no Complexo Esportivo da Rocinha, mas só vejo funcionar [a academia] perto da UPA”, ressalta Lira.

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