Projeto literário fortalece conexões entre setores públicos da Rocinha

Desde 2019, o projeto Balaio de Livros atua na Rocinha, inicialmente com educadores de creches e, hoje, com organizações que trabalham com a infância

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Na Biblioteca Parque da Rocinha C4, nas últimas terças-feiras do mês, acontece um encontro entre cultura e infância. Trata-se do projeto Balaio de Livros que busca ampliar o acesso à leitura para crianças do morro para além do ambiente escolar. “A gente traz livros indígenas, livros que têm uma identidade. É a nossa história, a história da nossa sociedade, que não aparece.”, explica Elisa Brazil, 49 anos e assistente social que coordena o grupo. 

A proposta do projeto é simples: incentivar o hábito de ler em qualquer espaço, seja na escola, em unidades de saúde ou na biblioteca do bairro, dentro de casa ou até mesmo nas escadas do beco. O objetivo é despertar a curiosidade e naturalizar a leitura e o livro como parte do cotidiano. “Precisamos entender a concepção de criança enquanto um sujeito inteiro, não fragmentado. E que as políticas públicas precisam conversar para que ela possa ser atendida de forma integral.”, ressalta Elisa. 

A ideia do Balaio de Livros é estabelecer conexões e diálogo entre as organizações públicas no território, uma vez que no dia a dia os órgãos precisam trabalhar juntos — de forma direta ou indireta —, com crianças com idade na primeira infância. 

O Balaio de Livros faz da literatura infantil um fio condutor para conectar instituições públicas que atuam na Rocinha. Foto: Karen Fontoura

A iniciativa, promovida pelo Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) desde abril, usa o gênero da literatura infantil como ferramenta lúdica para fortalecer os vínculos entre crianças e adultos, em diferentes contextos profissionais. É por isso que, ao longo dos encontros, o projeto apresenta para o grupo livros infantis de diferentes temáticas, com direito a uma pausa dedicada à leitura coletiva, que preenche os encontros de risadas. 

A primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento infantil, marcado por rápido crescimento físico, cerebral, emocional, social e cognitivo. O período vai desde o nascimento até os 6 anos de idade da criança, segundo o Ministério da Saúde.

Na Rocinha, de acordo com IBGE, cerca de 6% da população é analfabeta e os desafios educacionais são visíveis. Há escassez de vagas tornando o acesso escolar difícil devido a necessidade de transporte, o que limita a matrícula de crianças de 0 a 6 anos em creches e escolas. 

Outro obstáculo é o difícil acesso a meios digitais e  a migração contínua, o que pode atrasar a entrada das crianças na escola. O bairro é carregado de diversidade e, portanto, implantar iniciativas que tecem esses diálogos com a literatura infantil é fundamental. 

Em 2025, o Rio de Janeiro foi nomeado a Capital Mundial do Livro pela UNESCO. Com isso, vários projetos receberam incentivo e visibilidade para trabalhar a acessibilidade aos livros. Os benefícios das atividades literárias são múltiplos para a primeira infância, especialmente, quando atrelada ao acesso a outros direitos.

A literatura é uma prática que as pessoas vêem como responsabilidade escolar, porém a leitura de livros nesta idade exige esforço coletivo para se tornar um hábito. “Eu percebo que o diálogo das famílias estão cada vez mais distantes e através dos livros eles [as crianças] conseguem se sentir vistos”, relata a educadora Rafaelle Rodrigues, da Creche Municipal Castelinho.

De acordo com o guia “Os primeiros anos em suas mãos”, realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, cerca de 55,4% das crianças na primeira infância vivem em famílias de baixa renda no Brasil. Isto é, com renda mensal por pessoa de até meio salário mínimo, que hoje corresponde a R$759. Este valor de referência para classificação da baixa renda é estabelecido pelo decreto n.º 11.016/2022, que regulamenta o CadÚnico.

Portanto, o diálogo e a união entre as organizações de políticas públicas sociais no território das favelas e de profissionais da educação, saúde, assistência social e cultura para trocar experiências é fundamental para ampliar o acesso à leitura nos espaços onde atuam. É um movimento que precisa estar em constante desenvolvimento para promover impacto frente às desigualdades. 

Quer incentivar a leitura em espaços públicos? 

Se liga nessas dicas simples e poderosas
  • Deixe os livros ao alcance das crianças
  • Crie um cantinho aconchegante para leitura
  • Junte sua equipe para arrecadar livros e manter o espaço bonito e organizado
  • Apresente o espaço de leitura às crianças e incentive o uso
  • Divulgue bibliotecas comunitárias e públicas da região
  • E o mais importante: leia com elas!

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