Quem é Kaio Nóbrega, cria da Rocinha e jogador prodígio do flamengo
Atleta de 17 anos assinou o primeiro contrato profissional com o Flamengo e multa rescisória pode chegar a 256 milhões de reais
O Brasil é considerado o país do futebol e muitos dos atletas reconhecidos mundialmente são crias de favelas ou territórios periféricos. Vini Jr, Richarlison, Thiago Silva, Gabriel Jesus, Romário, Edmundo e Adriano Imperador são exemplos. A Rocinha é uma favela que tem muitos talentos que se destacam nas ‘peladas’ que acontecem em várias localidades do morro. Um desses talentos promissores é Kaio Nóbrega Siqueira, 17 anos, jogador que assinou o primeiro contrato profissional com o Flamengo vigente até fevereiro de 2027.
A multa rescisória do contrato é de 50 milhões de euros, cerca de 256 milhões de reais. O atleta está no clube desde 2016 como jogador das categorias de base e coleciona mais de 20 títulos na carreira. Atualmente, é titular da equipe sub-17 comandada pelo craque Filipe Luís e joga como meio-campista, sendo um dos principais jogadores do grupo.
O jovem, que já acumula dez anos de carreira, é fruto de projeto social de futsal e joga bola desde 2013, quando tinha seis anos. Kaio se destacava em campo pelas habilidades que já demonstrava na Quadra da Rua 1, parte alta da favela, onde jogava, chamando atenção pelo potencial.
Kaio afirmou que nunca foi jogador de driblar os adversários, mas mantinha a seriedade e determinação para aplicar as técnicas mais simples que aprendia, sendo conhecido na favela por jogar no Flamengo fazendo o básico.
“Fazer o arroz e feijão no futebol funciona. Sempre fui um atleta disciplinado. Eu não trocava uma caneta, um drible, por um gol. Ajudei bastante minha equipe. Fui artilheiro três vezes do Rio de Janeiro pelo Flamengo e ganhei bastantes títulos”, conta.
Ana Paula Santos, 23 anos, antiga parceira de peladas do jogador, lembra que Kaio sempre teve talento com a bola no pé. “Quando eu via o Kaio jogar, ele tinha mais ou menos oito, nove anos, um bebêzinho. Uma miniatura jogando, mas sempre jogou muito bem. Jogava até com gente adulta. Sempre teve controle de bola e, quando pegava a bola, todo mundo elogiava. Como um menino daquele tamanho jogava bola daquele jeito? Sempre olhei pra ele e vi um futuro brilhante, nasceu pra jogar bola. Vejo jogando até na Europa”.
Para além dos gramados, o jogador rubro-negro também compartilhou como é a rotina de atleta e estudante de segunda a sábado que, no tempo livre, também gosta de jogar bola.
“Sempre quando ia treinar, tinha que dormir cedo, mas saía do treino e dava um pulo na escolinha do Victor e André [ex-treinadores de Kaio], devo muito a eles, que me ajudaram bastante e de todas as formas. Quando dá, tento me distrair, jogar um futebolzinho com os amigos. Treino na parte da manhã, estudo na escola a tarde e ainda faço curso de inglês, que eles [Flamengo] me proporcionam” compartilhou Kaio.
O jogador também destaca como importante a relação que tem com a Rocinha. Sonha em estrear no time profissional do Flamengo dentro do Maracanã, com a mesma determinação e humildade construída no morro e, que vai levá-lo para muitos lugares.
“Quero estrear pelo profissional do Flamengo. Um dos meus sonhos também é jogar fora… É difícil, todo dia chegando um para tomar nossas vagas, todo dia tem que matar um leão. Se você treinar um dia mal, aquele dia faz falta, tem sempre [que] tentar se superar a cada treino. E, o mais importante, é a cada dia [ir] melhorando”.
E completa: “Às vezes, a técnica não entra, mas a vontade não pode faltar! Eu me dou muito bem com todos aqui [na Rocinha], principalmente a garotada. É com humildade que a gente vai longe”, diz o jogador.
Henrique Costa, 41 anos, pai de Kaio, comemora diariamente as conquistas do filho desde quando era criança. O porteiro acompanha o jovem nos treinos, jogos decisivos e sempre incentivou o filho a seguir o caminho do esporte e da educação. Para ele, Kaio é um garoto que inspira muitas pessoas da Rocinha pelo esforço e disciplina.
“Ele é um garoto sensacional, exemplar, espelho para muitos garotos da comunidade e quero que transpareça esse lado bom dele. É um garoto que só tenho que agradecer! Como atleta, acho ele sensacional. Quando criança, entrava para jogar com os mais velhos, mas só tinha diferença no tamanho. Às vezes, [era] até superior na técnica. Ele trabalhou e tinha esse propósito na vida dele, gosta do que faz”, garante.
Henrique também conta emocionado sobre as dificuldades e alegrias que passou durante os anos que acompanhou o filho. Para ele, o filho sempre foi promissor no esporte. Ele enxerga o jovem futuramente como um grande jogador e cidadão do mundo.
“Dá pena acordar ele 5 horas da manhã, chovendo ou fazendo sol… Ele chega em casa às sete e pouca da noite, todo dia. O Kaio é meu herói, minha vida! Eu o vejo como um grande atleta, um grande cidadão, um garoto que tá aí para somar e para fazer o bem, servir de exemplo para outras crianças da nossa comunidade”, sonha Henrique.