As responsabilidades do poder público com a favela
Há 7 anos, o Fala Roça faz jornalismo na Rocinha. Já falamos sobre diversos assuntos, mobilizamos moradores nas causas sociais, cobramos às autoridades por busca de soluções para o morro e suas responsabilidades.
Embora sejamos uma associação de comunicação, a pandemia de covid-19 fez com que nossa equipe se envolvesse em busca de doações após o envio de mensagens de moradores. Eles pediam ajuda para conseguir cesta básica e itens de higiene. Sem emprego, renda e ajuda do governo, a favela foi abandonada à própria sorte.
A fome não é uma coisa nova aqui. Somos moradores da Rocinha. Sentimos essa realidade na pele. A sensação de abandono por parte do Poder Público é enorme. As responsabilidades dos governantes recaíram sobre as organizações sociais que atuam há décadas na favela.
Por isso, fizemos além de campanha de comunicação e conscientização sobre os riscos de contaminação da covid-19; articulamos a chegada de milhares de cestas básicas para 25 organizações locais. Cobramos a criação de um polo de atendimento para os moradores com diagnóstico de coronavírus.
Tudo isso é um paliativo. Ajuda, mas não resolve o problema. O Estado não pode transferir as responsabilidades dele às organizações sociais.
Desde março, ouvimos governantes falando que a pandemia não passava de uma gripezinha. Planejavam a flexibilização da quarentena, dizendo que tudo isso ia acabar em poucas semanas. De lá pra cá, já são mais de 123 mil mortos no país. Desses óbitos, mais de 16 mil ocorreram no Rio. O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, até 31 de agosto, contabilizou 1477 mortes.
Mais de 60 moradores da Rocinha morreram em decorrência do novo coronavírus, outros 372 foram infectados. Segundo dados das unidades de saúde da Rocinha, esses números podem ser maiores.
Agora, o “novo normal” ameaça nossas vidas de forma invisível assim como o vírus. As aglomerações pelo morro e a resistência em usar máscaras para prevenção também contribuem para esse pesadelo não ter fim.
A verdade é que os governantes não estão nem aí para os favelados. 2020 é ano eleitoral! Temos a oportunidade de responder nas urnas elegendo candidatos nascidos e criados nas favelas. Pois, só quem vem daqui sabe do nosso sofrimento. Se depender do Estado, eles só querem guerra, mas, a favela é garra.
Leia a 9° edição impressa do Fala Roça. Boa leitura!