Mãe e filha se reencontram depois de quase 40 anos de separação

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O brilho nos olhos e a agitação de Dona Nice logo entregam a felicidade que ela está sentindo: a cearense, natural de Fortaleza, de 59 anos, encontrou a primeira filha, que não via há quase 40 anos, com a ajuda da internet e agora é só sorrisos para a ‘Rainha’, como é chamada carinhosamente a primogênita Jeonice Felix dos Santos, de 40 anos.

O encontro só foi possível porque Giselle Natalina, filha mais nova de Clovenice Alves de Souza, que prefere ser chamada de Dona Nice, decidiu procurar pela irmã em grupos nas redes sociais. Após ver a mãe triste em diversas datas comemorativas, Giselle conta que decidiu iniciar a busca pela irmã mais velha. A procura começou há quatro anos, mas foi só em maio deste ano que ela encontrou Joenice. “Eu já procurava pela minha irmã há muitos anos, mas as informações que eu tinha não casavam. Pesquisando pela Internet eu achei um grupo do bairro Henrique Jorge, que era onde minha irmã morava quando pequena. Coloquei os dados que tinha e as pessoas do grupo me ajudaram a achar”, conta.

Joenice visitou a casa da mãe no Cesário, parte alta da Rocinha (Foto: Michele Silva)
Joenice visitou a casa da mãe no Cesário, parte alta da Rocinha (Foto: Michele Silva)
O tão esperado encontro entre mãe e filha aconteceu em junho e contou com a super ajuda dos amigos do trabalho de Joenice, que lhe deram as passagens de avião. Joenice veio passar uma semana no Rio de Janeiro, na Rocinha, na companhia de sua mãe e irmãos. Ainda sem acreditar no que estava vivendo, Joenice diz que ficou muito emocionada quando descobriu que a sua mãe verdadeira estava viva. “Eu comecei a passar mal, chorava e ria ao mesmo tempo. Eu pensei que ela já estava morta e sofri muito na minha infância sem a presença dela. Quando descobri que teria a chance de vê-la passou um filme em minha cabeça”, lembra.

A separação aconteceu quando Dona Nice perdeu o contato com a filha, que na época tinha seis anos. Ela conta que foi mãe muito jovem, aos 20 anos, e o pai dela não aceitou muito bem a gestação. Alegando que a filha não teria a responsabilidade necessária para cuidar da criança, ele deu a neta para outra pessoa cuidar.

“No começo, conseguia ver minha filha com frequência, eu levava as coisas para ela, mas com o passar dos anos nossos encontros foram ficando cada vez mais distantes e a saudade só aumentava”, diz Dona Nice, que perdeu a mãe ainda criança, com apenas 9 anos e foi criada pelo pai.

Dona Nice já tinha registrado a filha apenas em seu nome, quando o bebê foi entregue para adoção. Mas, quando descobriu que a criança havia sido registrada novamente, e no mesmo cartório do primeiro registro, ela foi questionar o pai sobre o assunto, que não reagiu bem. “Quando descobri me enfureci. Fui falar com meu pai e ele colocou toda a culpa em cima de mim. Foi nessa época que decidi sair de casa. Peguei algumas roupas e sapatos e fugi às 5h da manhã. Me lembro como se fosse hoje”.

No mesmo dia em que saiu de casa, Dona Nice arranjou um emprego e abrigo na casa de uma colega de trabalho. Ela ficou sabendo que uma amiga que morava no Rio estava passando férias na cidade e decidiu pedir para ir embora junto com ela. Conseguiu o dinheiro da passagem, juntou algumas economias e veio para o Rio em busca de uma vida nova. Assim que chegou aqui, foi trabalhar como doméstica. Os anos foram passando, mas a saudade da filha aumentava a cada dia. Apesar de ter voltado algumas vezes à Fortaleza, ela nunca mais tinha visto a filha.

Agora, depois desse reecontro, a promessa é de nunca mais ficarem longe uma da outra. Jeonice tem duas filhas, que Dona Nice está doida para conhecer e esse encontro já tem data marcada: Dona Nice ganhou dos patrões a passagem para visitar a filha e a família dela ainda esse ano, no Ceará. Ela vai ficar uma semana em Quixadá, a cidade em que a filha mora atualmente.

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