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Fluxos migratórios: estrangeiros escolhem a Rocinha para viver e trabalhar
Entenda por que a Rocinha atrai migrantes de vários países, com histórias de desafios, trabalho, acolhimento e integração cultural.
O Brasil tem aproximadamente 1,5 milhão de pessoas migrantes, segundo o Ministério da Justiça. Entre 2010 e 2020, majoritariamente, pessoas migrantes solicitantes de residência, ou seja, pessoas estrangeiras que querem morar no país, optaram pelo sudeste, segundo o Observatório das Migrações Internacionais. Parte deles vivem no Rio de Janeiro.
Dados da Cruz Vermelha revelam que mais de 3 mil pessoas migrantes de outros países moram nas favelas no Rio. Frequentemente visitada por turistas, a Rocinha se tornou lar de muitos no Brasil. Há quase 25 anos, Barbara Olivi saiu da Itália para viver na cidade. A guia turística já havia visitado o Rio antes de decidir ficar. Inicialmente, ela se alocou na Gávea. Porém, as luzes da Rocinha lhe chamavam atenção.
Desde a primeira subida ao 99, ela nunca mais saiu do morro. “Mergulhei na beleza do Rio, nas suas águas, me senti livre em uma sociedade menos formal. Deixando para trás um ritmo de vida consumista, muito competitivo, feito de aparência, conforto e poder aquisitivo. A Rocinha me atraía por ter aquele valor humano, de trabalho, luta cotidiana, mutirões, com divisão”, relembra.
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O maior desafio é estar longe da família. Bárbara não acompanhou o envelhecimento dos pais e sente falta da mãe todos os dias. Uma mala e algumas fotografias foram as únicas companhias dela. Por isso, foi preciso tecer uma nova rede de apoio. Nesse contexto, nasceu a Garagem das Letras, um espaço literário que promove educação e cultura para crianças e adolescentes. O dinheiro que ganhava como guia foi investido em atividades com as crianças do morro.
“Eu construí aqui uma família nova. A comunidade me acolheu bem. Eu ia na quadra da Roupa Suja e as crianças se aproximavam. Eu tive sorte em estudar e viver na Itália, onde a escola pública é muito boa. Apliquei o que aprendi aqui. A gente rala, e rala muito. Nada é de graça. Tem muito trabalho. Só que por eu ser estrangeira, acham que as coisas são fáceis”, conta.
Quando falamos de pessoas estrangeiras é importante ressaltar a diferença entre migrantes e refugiados. A distinção dos termos está na possibilidade de voltar ou não ao país de origem. Enquanto migrantes escolhem sair de seus países, pessoas refugiadas fogem de conflitos sociais, territoriais, religiosos e guerras, de maneira que permanecer no país de origem ou voltar, não é uma opção.
Em 2023, segundo dados do relatório “Refúgio em Números”, foram feitas 58.628 solicitações da condição de refugiado ao Brasil, provenientes de 150 países. As principais nacionalidades solicitantes foram venezuelanas (50,3%), cubanas (19,6%) e angolanas (6,7%). Garantir a integração de migrantes internacionais é uma ação humanitária e uma chance de intercâmbio cultural.
Mairet Abreu é venezuelana e mora no Brasil há sete anos. Vendedora no Mercado Popular da Rocinha, o maior desafio de adaptação dela foi o idioma. Cerca de 64% dos migrantes estão fora do mercado de trabalho formal. A localização privilegiada da Rocinha é um atrativo para quem busca um trabalho.
“Disseram que a Rocinha é bom de trabalho e realmente é. Agora, trabalho e moro aqui. Meu maior sonho seria voltar para meu país de origem, mas a situação lá é cada vez pior. Não tenho outra escolha”, disse Mairet.