Existem muitas garagens na Rocinha. Mas a ONG italiana Il Sorriso dei miei Bimbi inovou e transformou uma garagem na Rua Dioneia em um café literário. O espaço oferece diversas atividades gratuitas para diferentes idades.

O espaço fica na entrada da Dioneia, perto da antiga Casa Rosa, na parte alta da Rocinha. (Foto: Michel Silva)
O espaço fica na entrada da Dioneia, perto da antiga Casa Rosa, na parte alta da Rocinha. (Foto: Michel Silva)

Lá os moradores encontram aulas de inglês, italiano, alemão e até de dança. No dia 29 de cada mês, a cozinha ganha destaque com a realização do “Nhoque da Fortuna”, um prato ítalo-brasileiro muito consumido no Brasil. Outros projetos utilizam o espaço para oferecer atividades aos moradores.

O Fala Roça é um deles. Foi lá que aconteceram as duas oficinas de comunicação comunitária para moradores entre 15 e 29 anos, no primeiro semestre desse ano.

Criada em 2014, a Garagem das Letras foi idealizada por Barbara Olivi, 56 anos, presidente da ONG Il Sorriso dei miei Bimbi em parceria com a ONG Amigos da Vida. A italiana mora na Rocinha há 15 anos junto com o brasileiro Julio Rezende, 46 anos. Ela fundou as duas organizações para oferecer atividades socioeducacionais, atuando na área da educação e da formação de crianças, jovens e adultos.

Quando veio morar na Rocinha, Barbara percebeu que a favela sempre era vista como um lugar violento, mas o acolhimento que ela recebeu no morro fez com que decidisse retribuir o carinho.

O desejo de montar um café literário era antigo. No passado, o espaço onde funciona o projeto era uma verdadeira garagem que a ONG de Barbara comprou graças ao casal de italianos Manuela e Sergio Trere, que doaram o dinheiro para a compra do espaço. Depois disso, a ONG Il Sorriso dei miei Bimbi levou três anos para deixar o local do jeito deles.

Um grupo de arquitetos e engenheiros italianos vieram até a Rocinha para elaborar o projeto da garagem. O resultado está aí: um lindo café, uma biblioteca para ler e pegar livros emprestados, um espaço para profissionalização, eventos culturais, shows de música ao vivo e uma cozinha com pratos saudáveis.

Segundo Barbara, o principal objetivo da garagem é o de criar um espaço que a comunidade possa reconhecer como parte da própria vida: os meninos saindo da escola entram para dar um “tchau”, assistem filmes, encontram amigos e leem livros. “A ideia é criar um ponto de referência cultural para que os moradores tenham um espaço para curtir, relaxar, comer bem, trazer os filhos para aprender idiomas, assistir um filme e estar de bem com a vida”, conta ela.

Além de frequentadores, os moradores também ajudam nos projetos da ONG. (Foto: Divulgação/Garagem das Letras)
Além de frequentadores, os moradores também ajudam nos projetos da ONG. (Foto: Divulgação/Garagem das Letras)

Além dos cursos de idiomas, outras atividades são destaque no espaço. “O cinegaragem é um sucesso desde o começo mas também as aulas de idiomas geram muito interesse. E não pode faltar os salgadinhos e doces da nossa Ana Lucia, que todo mundo adora”, brinca Barbara.

A ONG Il Sorriso dei miei Bimbi possui apoio financeiro através de edital e patrocínio de empresas privadas. No começo, a garagem foi sustentada por meio de um financiamento do Rotary Club, mas atualmente recebe apoio da rede de restaurantes Temakinho, da Itália.

Uma pequena equipe de italianos e brasileiros cuidam de todos os projetos sociais na ONG. Porém, a organização criou parcerias com importantes universidades italianas para ter a ajuda de voluntários, como o Politécnico de Milão e a Universidade Luigi Bocconi. “Naturalmente, estamos interessados em fazer isto também com universidades brasileiras, tanto que já começamos a ter contato com a PUC”, diz Barbara. A equipe italiana trabalha na área da comunicação, organização e captação de recursos.

No entanto, o sucesso do projeto também é resultado da aproximação dos moradores da Rocinha, que abraçaram a ideia de Barbara e contribuem para a manutenção do espaço. Fabiana Gomes Rangel, 36 anos, é responsável pela limpeza e muitas outras atividades. Ana Lucia, 39 anos, é a cozinheira do projeto, ela prepara o “Nhoque da Fortuna” e outros pratos.

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