Associação de Moradores e empresas de internet fazem limpeza de fios mortos na Rocinha
Limpeza de cabos sem uso reduz riscos de incêndio e melhora qualidade de vida dos moradores
Todo verão, é comum os moradores da Rocinha sofrerem com uma série de apagões de energia elétrica, muitos, causados por incêndios. Nesse vai e vem de luz, que afeta diretamente a população, os cabos elétricos e de telecomunicações são danificados devido aos incêndios repentinos. Uma parte desse material se torna inutilizável e acaba gerando um emaranhado de fios que forma parte da paisagem da favela, mas também polui a visão de becos e até prejudica a qualidade do ar.
Após a série de apagões, que marcou o verão de 2024, a União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), desde fevereiro, iniciou uma ação de limpeza de cabos inoperantes, com apoio de mais de 15 operadoras de internet.

A limpeza acontece uma vez por mês em uma localidade do morro já mapeada. “Criamos um cronograma para fazer a prevenção do aumento de fogo nos casos de incêndio em postes. O nosso apoio era sempre durante e após o incêndio. Quando pegava fogo, juntava todo mundo [da UPMMR e moradores] e colhíamos os fios queimados. Agora, é um processo calculado, derrubamos os fios sem serventia para evitar o aumento de combustão nos incêndios. Isso vai ajudar também na limpeza urbana da favela”, explica Marcondes Ximenes, vice-presidente da UPMMR.
Para realizar o trabalho, a Associação e as provedoras de internet interditam a rua, beco ou viela para evitar acidentes. Partes dos sub-bairros como: Valão, Raiz, Boiadeiro, Vila Verde e Cachopa, já receberam a limpeza de fios inoperantes. Outras 27 localidades estão mapeadas para receberem a ação.
Segundo Ximenes, cada fio retirado tem uma extensão média de 200 metros e, até o momento, mais de uma tonelada de cabos foram retirados. O vice-presidente da UPMMR também destaca os benefícios que a iniciativa trouxe para o território e os moradores.
“Em algumas localidades, como a Raiz, tem partes que não dá pra ver a luz do dia. É como um telhado de fios, fica escuro o tempo todo. Após a limpeza, dá para ver que a iluminação consegue entrar, e diminui até a umidade do lugar. Isso ajuda muito na saúde do morador, principalmente quando se trata dos focos de tuberculose na Rocinha.”
Para o cria Andrey dos Santos, de 19 anos, que cresceu na Raiz, a limpeza de cabos e fios mortos na localidade melhorou muitos aspectos do local: do visual urbano à vivência diária no sub-bairro.
“O primeiro benefício que senti foi ter mais segurança. Os fios todos embolados eram muito arriscados. Geral [aqui da Raiz] vivia com medo de pegar fogo a qualquer momento. Além disso, agora que tiraram os fios inúteis, o visual ficou mais limpo. Dá até uma sensação de leveza quando andamos nos becos sem aquele monte de fio atrapalhando a gente quando andamos”, opina Andrey.

E complementa. “Os becos estão até mais claros com a luz natural e elétrica. Parecia que vivíamos na sombra dos fios. Depois da limpeza, entra mais sol e os becos ficaram até mais vivos. Isso é bom pra saúde mental e qualidade de vida dos moradores. Agora, podemos circular mais tranquilos à noite e a criançada pode brincar mais alegre, sem medo de se machucar. Foi uma melhoria muito significativa!”
Grande parte da operação de limpeza depende muito da equipe dos provedores de internet. Os técnicos de telecomunicações são responsáveis pela retirada dos fios antigos e inoperantes. Michael Owen, 25 anos, técnico de telecomunicação na operadora NewNet, explica como é realizada a ação.
“Primeiro nós identificamos a antiguidade do material e se o fio não está funcionando. Vamos cortando aos poucos e retirando os bolos e entulhos de fios. Ao final, costumamos pegar os fios instalados que restam e ajustamos para dar um aspecto mais organizado e limpo. A maior dificuldade [para fazer a limpeza] é ficar em becos e vielas muito apertadas, porque é difícil colocar a escada, além do acesso e passagem serem estreitas”, explica o profissional.
Ele também mencionou o custo que gera para as operadoras de telecomunicação. “Temos um custo alto nessa operação porque demanda tempo e, às vezes, temos muitas ordens de serviço para realizar. O maior custo é quando pega fogo [no poste], porque o cabo é danificado e não tem o que fazer, além de colocar outro no poste. Por outro lado, a limpeza ajuda na melhoria e manutenção das operações de internet.”
Nos casos de incêndio em postes da Light, a concessionária é acionada para fazer a reparação ou substituição de cabos. A empresa também dá suporte e auxílio para a segurança da limpeza, promovida pela UPMMR e as companhias de internet. Bruno Almeida, de 39 anos, gerente de manutenção da Light, avalia a iniciativa como vantajosa.
“Um dos grandes benefícios é a diminuição da poluição visual. Em algumas situações, os postes ficam bem congestionados. É desagradável ver aquele bolo de fios, que não está em operação, poluindo a imagem de quem vive ali na comunidade no dia a dia. Outro ponto é: algumas redes têm certas fiações de telecomunicações que exercem esforço físico [peso] nos postes da Light. Em algumas situações, podem tirar o poste do prumo [equilíbrio]”, explica Almeida.