Todo morador da Rocinha já ficou preso no trânsito no morro mesmo de moto. Estima-se que circulem na Rocinha mil mototaxistas, segundo estudo do governo em 2011. Toda essa frota movimenta um enorme comércio de serviços de manutenção automotiva, loja de autopeças e até de pontos de vendas na favela. 

No total, somente na Estrada da Gávea, a principal rua de tráfego de veículos da Rocinha, há 36 estabelecimentos voltados para o segmento. Três estabelecimentos no morro são direcionados para troca, venda e compra de motos, inclusive, um dos pontos de venda localizado na Descida do Boiadeiro, é uma loja exclusiva de motos da marca Honda. 

A marca disputa o mercado da Rocinha com a Yamaha. As motos mais negociadas no morro são os modelos 160 Titan, Fan, Bros, Pcx e Twister da Honda e Yamaha 150 Factor. “As motos mais procuradas são financiadas ou [vendidas] à vista”, ressalta Felipe Carlos Silva, 37 anos, vendedor da concessionária Guanabara Motos, na Rocinha, há quase dois anos. 

Também é recorrente a oferta do veículo antigo como entrada para o pagamento da nova moto na loja. “Muitos dos clientes da concessionária já tiveram ou têm contato com veículos e a principal vontade deles de ter moto é para trabalhar”, afirma o vendedor.  

Segundo João Paulo Mourão, de 34 anos, que trabalha há 7 anos como mecânico na Rocinha, o preço para se manter uma motocicleta no Morro pode variar bastante devido às condições de uso. “Um mototáxi diário aqui do morro gasta em média R$500 por mês, pois sempre tem uma manutenção para fazer”, explica. 

Por exemplo, em uma moto seminova, os proprietários precisam custear os gastos com a revisão periódica, troca de óleo e pastilha de freio, aperto da corrente ou fazer a troca do kit de transmissão (ou relação): coroa, pinhão e corrente. Essas peças precisam estar sempre em dia para garantir mais desempenho. 

Já quem pilota motos novas, a necessidade de manutenção das peças é reduzida, podendo demorar até um ano para começar acontecer, pois o desgaste das peças é mais prolongado. 

Segundo o mecânico, mesmo os moradores que usam a moto como fonte de renda, têm mais vantagens em ter uma moto do que um carro para se deslocar para trabalhar, estudar e até passear, uma vez que os custos com a manutenção são menores comparados ao carro. 

“É só o óleo mesmo e uma revisão leve. Uns 100 reais por mês por aí”, garante o mecânico, João Paulo. Em média, um estabelecimento que faz manutenção periódica das motos Rocinha atende de 15 a 20 motocicletas por dia.

Em dias de chuva, o comércio deste segmento diminui bastante. Os  motociclistas ficam receosos de sair para trabalhar devido ao aumento da exposição de perigos durante o mau tempo. É comum, as ruas da Rocinha ficarem alagadas com enxurradas de lixos nas pistas, dificultando a circulação das motos. 

Como a maioria dos mototaxistas não tem plano de saúde e, seguro financeiro, em casos de acidentes, é inexistente, os mototáxis preferem parar de circular na comunidade. 

“Se tiver chovendo não tem como [circular no mototáxi] alaga tudo, já vi um mototáxi sendo arrastado pela água que tava muito forte, na curva do S. Já vi carro, moto e lixeiras sendo arrastados pela água”, conta Rafael Caze, de 32 anos e mototaxista há 10 anos na Rocinha.

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