Quem é Xaolin da Rocinha, líder comunitário que mobiliza a favela há 40 anos

Apaixonado pela favela, Xaolin lutou em fases cruciais da história da Rocinha
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Antonio Ferreira de Mello, conhecido como Xaolin da Rocinha, nasceu em 1972 e é cria da Rocinha. Com 72 anos, ele carrega na bagagem lutas em prol do morro desde os anos 80. Seja nos tempos de remoção das favelas, ditadura civil-militar ou manifestações políticas, Xaolin sempre escolheu a favela como partido para defender. “Nós por nós!” disse ele em entrevista especial ao Fala Roça.

O líder comunitário, que tem mais de 40 anos de luta pela Rocinha, já atuou nos movimentos políticos, sindicais, acadêmicos e populares em defesa da favela. Xaolin diz que o amor que possui pelo morro surge na pré-adolescência, com o desenvolvimento de senso crítico sobre a desigualdade social do Rio de Janeiro. 

“Nasci aqui [na Rocinha] e passei a me preocupar com o lugar. Adquiri senso crítico sem saber. Estudei em escola pública com a ‘garotada’ lá do Leblon, Jardim Botânico, sempre pessoas da zona Sul. No caminho, vinha pela Avenida Niemeyer pensando nisso [na desigualdade social]. Esse senso crítico me fez pensar no porquê da diferença entre eu ser uma criança favelada e outras não.” conta Xaolin.

Durante a pré-adolescência, no auge dos 14 anos, ele viu as favelas sofrerem as remoções autorizadas pelo governo estadual e federal da época. A opressão, preconceito, discriminação e mentiras sobre as favelas fez com que Xaolin se tornasse um jovem líder comunitário precoce. 

“Tinha 14 anos e me perguntava como poderia contribuir com esse lugar [a Rocinha]. A favela era muito oprimida pelo sistema [político] e para eles [as autoridades] a favela tinha que ser removida. Esse discurso tocou em mim e acredito que fez aflorar mais o senso crítico. Isso [as ações contra a favela] começa a te mudar como pessoa, como morador, e me moldou desde aquela época.” conta Xaolin.

Anos depois, Xaolin vai para a luta na linha de frente de movimentos populares. O morador participou de várias manifestações da época, inclusive uma no Largo do Machado, próximo ao Palácio Guanabara. Para ele, as melhores recordações foram quando começou a lutar e depois conquistar vitórias para a Rocinha.

“Lembro de uma manifestação no Largo do Machado bem memorável porque a minha função, junto de outras pessoas, era jogar bola de gude nos cavalos [da polícia]. Eu era adolescente… Estava lutando pelo país, mas queria lutar pela minha favela também. Até que um belo dia me veio a ideia de varrer a rua da Via Ápia. Até me chamaram de maluco por isso, mas isso já é um ato de organizar a favela. ” relembra. 

O ativista separa a luta comunitária da Rocinha em duas fases: a de resistência e a de organização. Ele considera que antes de 1980 as lutas eram motivadas pela sobrevivência da favela e dos favelados. Após a ditadura, o processo de organização da Rocinha se tornou pauta das reivindicações dos moradores.

A organização coletiva e luta comunitária fez com que a maior vitória da trajetória de Xaolin chegasse em 2016: a estação do metrô do Rio de Janeiro na Rocinha. Ele, que também já trabalhou no metrô nos anos 70, conta a importância desse feito: 

“A conquista mais importante de todas foi a do metrô em 2016, porque o metrô foi uma vontade que tive desde o início [da minha luta]. Já conversei até com o presidente Lula sobre isso [o projeto do metrô na Rocinha] e ele lembrou de tudo. É uma conquista trazer o transporte público para dentro do território.” 

Dentro das quatro décadas de luta do líder comunitário, questões de distribuição de eletricidade, água e saneamento básico sempre foram levantadas. Apesar de serem assuntos antigos, Xaolin culpa o capitalismo excessivo das empresas, que acabam por ignorar o investimento dentro do território.

“Sempre houve desprezo pela distribuição da água, energia, saneamento básico, e agora quando se tornam mercadoria, aumenta o desprezo para a distribuição. O que interessa a quem domina essa distribuição é o lucro. A preocupação com o lucro faz com que as empresas não distribuam as mercadorias nas favelas porque eles [donos das concessionárias] acham que o retorno é pouco. Então eles preferem investir na manutenção corretiva e na manutenção preventiva.” argumenta Xaolin.

Para Xaolin, a luta comunitária atual na Rocinha ainda é baseada em problemas antigos que interferem na qualidade de vida dos moradores. Ele acha que esses problemas se tornam maiores diante do crescimento da favela e do número populacional.  

“Mesmo hoje com a existência da internet, você chama as pessoas e elas não comparecem à luta. Os problemas continuam os mesmos, e bem maiores, com mais gente dentro da favela e ela se expandindo. A Rocinha precisa dos moradores!” conclui.

*Foto de capa da matéria publicada pela ComCat/RioOnWatch a partir da 2ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu Sankofa

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