Curso do Fala Roça fortalece cultura favelada

Com aulas de IA, mídias sociais e gestão de projetos culturais, formação gratuita prepara jovens para a desenvolver iniciativas locais

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Com o objetivo de capacitar jovens moradores das favelas, comunidades e periferias do Rio de Janeiro, o Fala Roça lançou no mês de abril o curso “Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas”. Foram disponibilizadas 30 vagas para jovens de 18 a 29 anos. Ao longo do curso, os alunos formarão uma rede de comunicação cultural favelada.

No total, o curso conta com 35 aulas, estruturadas em dois módulos, com aulas entre maio e novembro, todas às terças e quintas-feiras, das 18h às 20h30, na sede do Fala Roça. A meta da formação é capacitar os jovens na área de comunicação e gestão cultural para aprimorar os projetos culturais dentro dos territórios que atuam.

O anúncio dos alunos selecionados nas redes sociais do Fala Roça, foi comemorado por jovens que acompanham o canal. “Vai ser incrível”, disse Iara Batista. Já Charlie Gomes, celebrou a conquista da vaga: “Animado!”. 

O módulo de comunicação em projetos sociais acontecerá de maio até julho. Já o ciclo de gestão cultural será realizado entre agosto e novembro. 

Ao final do curso, os participantes produzirão um evento em comemoração à semana que se celebra o Dia Nacional da Favela, em 4 de novembro – data que comemora  e se reconhece a cultura e a resistência das comunidades. O maior objetivo da formação é fomentar a construção de uma Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas.

“Formaremos futuras lideranças!”, acredita Paula Gonzaga, de 61 anos, diretora de operações da Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro. Representante e membro do comitê gestor do projeto, ela explica que a formação busca preencher a lacuna geracional na produção de comunicação e cultura nas favelas. 

“Esses [jovens] são o futuro. O pessoal da minha geração [maiores de 60 anos] produzem e reproduzem uma cultura específica. Isso que formou o país, municípios, bairros, locais… De repente, tem uma lacuna entre a minha geração e a nova, parece que não permeou uma cultura de um para o outro. A cultura mudou e os jovens precisam estar capacitados e ter as ferramentas adequadas, as possibilidades que gerações anteriores tiveram. Apesar do mundo estar fragilizado, não podemos deixá-los fragilizados. Precisamos cuidar dessa galera!”, explica Paula. 

Potencial cultural

A primeira fase do curso “Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas” começou dia 6 de maio. A formação contará com aulas sobre comunicação, elaboração de plano de comunicação, conteúdos para mídias sociais, comunicação interna, assessoria de imprensa, construção de portfólio, ferramentas tecnológicas e inteligência artificial. Já a ementa do segundo ciclo voltado para projetos culturais será anunciada em breve. 

Somente na Rocinha, existem mais de 300 iniciativas culturais já identificadas no Mapa Cultural da Rocinha, criado pelo Fala Roça. Entre os projetos mapeados, há escolas de música, dança, arte, teatro, cinema, capoeira, centros comunitários, reforço escolar, culinária e outras categorias.

Em 2024, o Fala Roça lançou o Viradão Cultural da Rocinha na Biblioteca Parque do morro, com base no Mapa Cultural da Rocinha. O evento teve mais de 43 atividades, entre debates e atrações, que reuniram fazedores da cultura da maior favela do Brasil e um público de mais de 5 mil pessoas. A 2ª edição do Viradão Cultural já está confirmada! 

Apresentação cultural do grupo artístico Rocinha em Cena no Viradão Cultural da Rocinha em 2024. Foto: Daniel Grehs

No Brasil, a dificuldade para as pessoas acessarem à cultura é forte. De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 31,4% dos brasileiros vivem em cidades sem museus, 30,6% sem teatro e 42,5% moram em lugares que não há cinemas.

Para Tainara Lima, de 30 anos, assistente social e coordenadora de projetos do Fala Roça, as organizações culturais identificadas por meio do Mapa Cultural da Rocinha sofrem um déficit. “Elas não possuem uma comunicação estruturada ou não conseguem alcançar o público-alvo. Por isso, temos como objetivo fortalecer as iniciativas fazedoras de cultura na Rocinha, que estão sem um plano de comunicação estruturado para desenvolver seus trabalhos ou não conseguem alcançar o público-alvo”.

Ela destaca o potencial e a necessidade da construção de uma Rede de Comunicação e Cultura nas favelas. “O maior diferencial do curso será a criação de uma rede de fazedores de cultura na maior favela do Brasil [a Rocinha] e outras favelas. Isso se provará no evento que os participantes irão preparar como prática, unindo o conhecimento adquirido ao longo do curso. Isso com certeza ajudará na mobilização e fortalecimento de políticas públicas culturais”.

Futuro da cultura

Para Monique Silva, de 34 anos, gestora do projeto da Rede de Comunicação e Cultura das Favelas, a cultura favelada se mostra com muita dificuldade e barreiras. Ela tem a percepção de que a cultura, especificamente na Rocinha, existe, mas se encontra de forma fragmentada.

“A cultura nas favelas tem pouco recurso para o fortalecimento. Quando você fortalece a cultura no seu lugar, fortalece também a educação, economia e dá oportunidade para quem está em vulnerabilidade social. Ela [a cultura] é um braço para atuar em cima da vulnerabilidade social. A cultura é pulsante na Rocinha, mas está dispersa e a ideia da rede é fortalecer e unir [as organizações] através das capacitações”, garante Monique.

Ela ressalta o papel dos jovens nas favelas para dar continuidade aos projetos existentes nos territórios. 

“Temos que colocá-los como responsáveis por um legado passado geracionalmente. Os jovens engajados nas favelas é que darão continuidade com o conhecimento que adquirem durante a vida. O que falta é uma liga para [eles] se encaixarem, trocarem saberes… A formação da rede propõe isso. Quando se cria uma rede, conseguimos entender as necessidades do território. Eles são o futuro da cultura!” 

Geração IA

Com experiência em gestão de projetos de Pesquisa e Inovação, Paula Gonzaga, membro do comitê gestor do projeto do curso, destaca que o curso terá aulas sobre Inteligência Artificial (IA). O objetivo é trazer conhecimentos tecnológicos para a comunicação e a cultura desenvolvida nos  territórios das favelas. 

“É inevitável levar para o curso, a tecnologia e ferramentas como a IA [inteligência artificial]. A IA tem que ser ferramenta que apoie a gente a trabalhar. Vamos ensinar a usar tecnologia como suporte e fazer a curadoria para ter resultados eficientes”, ressalta.

A inteligência artificial está em alta no mundo, incluindo nas favelas e periferias brasileiras. Em Belo Horizonte, a IA ajudou empreendedores de comunidades a crescerem dando visibilidade às mulheres negras na tecnologia em eventos como seminários, exposições e congressos.

A primeira parte do curso Rede de Comunicação e Cultura nas Favelas, focado em comunicação, acontecerá às terças e quintas-feiras, das 18h às 20h30, na sede do Fala Roça. A sede fica na Estrada da Gávea, 558, Rocinha. 

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