Da Rocinha para a TV Globo: conheça a história do ator PK

De segunda a sábado, às 19h, Pedro Henrique Ferreira, 21, encanta o morro interpretando o jovem Lucas, em "Dona de Mim"

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Ao chegar ao auditório da Biblioteca Parque da Rocinha, Pedro Henrique Ferreira, de 21 anos, é recebido com abraços pelas crianças da Associação Sociocultural Semearte, como reflexo da admiração que o ator desperta contracenando na novela das 19h, Dona de Mim, da TV Globo.

Com visibilidade nacional, Pedro Henrique Ferreira, conhecido como Pk nas redes sociais, é exemplo do impacto dos projetos culturais. O jovem se formou como ator na Associação Semearte da Rocinha. “Hoje vivo do que amo. Às vezes, estou gravando e nem parece trabalho”, conta.

Ator interpreta Lucas na telenovela “Dona de Mim”, da TV Globo. Foto: Reprodução/Instagram

Na telenovela, ele interpreta Lucas, jovem que tem apenas o irmão Ryan (L7nnon) como família. A trama retrata a realidade de muitos jovens de favelas, que enfrentam um amadurecimento precoce em meio a poucas oportunidades,  divididos entre o esporte, subempregos ou o tráfico de drogas

A vivência na Rocinha trouxe repertório para o papel, mas Pedro usa esse espaço para romper estereótipos. “Lá fora, a mídia fala que aqui dentro tem só tragédia ou crime. Mas aqui tem capoeira, jazz, teatro, projetos que não são vistos. Sempre tento mostrar o outro lado da Rocinha”. Parte da Semearte, Pk fala com orgulho sobre o reconhecimento nas ruas. “Ali é o tio do teatro, da dança, o carinha da novela”, costuma ouvir. 

Ele destaca um ensinamento passado por sua agente, Talita Santos: “Primeiro seja amado na sua comunidade e depois lá fora”.

Nascido na Paraíba, Pedro chegou à Rocinha com apenas oito  meses de idade e cresceu no Cachopão, parte alta da favela. “Aqui tem muita vivência, tanto coisas ruins, quanto boas, mas eu não trocaria o lugar onde cresci. Isso faz parte de quem eu sou hoje”, enfatiza.

O primeiro contato de Pedro com o teatro foi em 2013, em uma apresentação nos becos da Rocinha, promovida por Talita Santos, produtora cultural e pedagoga. “Teve uma apresentação lá no Campinho, onde eu morava.  Foi ali que eu me encantei com o que a arte pode fazer. No teatro, você pode ser o que você quiser e aquilo virou uma chave na minha cabeça”, lembra. Iniciar a carreira artística aos nove anos o fez repensar estigmas. 

“Eu não gostava de teatro. Na minha cabeça de criança, achava que era coisa de gay”, relembra, envergonhado, ressaltando que a arte é para todos. 

Hoje, com 12 anos de trajetória, Pedro acumula experiências como ator, dançarino, diretor de produção e professor – talentos desenvolvidos na Semearte.

Antes da novela, o ator trabalhou no filme “Eu Sou Maria , dirigido por Clara Linhart, e na série Dom, da Prime Video. “O filme foi o que me abriu a porta para eu estar na Globo hoje”, relata. 

Hoje, o ator busca novas formas de atuação no projeto social e sonha em levar a arte do audiovisual para as crianças. “Quero ser uma ponte para que as crianças também consigam. Não quero estar lá sozinho. Quero que o meu acesso ajude a tornar as coisas mais acessíveis para eles”, ressalta.

Outro sonho antigo do ator é  comprar uma casa para sua mãe. “Minha mãe me criou sozinha, ela teve que se desdobrar para me criar, já mudamos muito. Hoje, quero proporcionar coisas que ela nunca teve, uma casa própria, tirar ela da rotina, viajar”, desabafa.

Pedro revela que, mesmo após adulto, a mãe continuou apoiando o sonho do ator, mas também sempre o incentivou a buscar formas de ajudar na renda da casa. Diferente de Pedro, muitos jovens abandonam o ofício da arte devido à falta de políticas públicas de apoio às iniciativas culturais na Rocinha. 

Apesar de seguirem vivos graças às pessoas movidas pelo amor à arte, que dedicam tempo e energia para transformar a vida de crianças, a falta de investimento do setor público e privado é a realidade de diversos projetos socioculturais nas favelas. 

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